Transporte por moto: Com pressão por regulamentação, Uber começa a monitorar o comportamento dos motoqueiros do Uber Moto. 99 já emite alertas de velocidade
Plataforma vai usar a telemetria para analisar freadas bruscas, acelerações repentinas, curvas acentuadas, uso do celular e manobras de ultrapassagem

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Com a pressão nacional por uma regulamentação dos aplicativos de transporte de passageiros com motocicletas, como o Uber e o 99 Moto - agora puxada pela cidade de São Paulo -, as plataformas mundiais da mobilidade urbana começaram a se mexer para tentar ter algum tipo de controle sobre a forma como seus motoqueiros parceiros estão conduzindo as motos, um veículo perigoso e que expõe seus ocupantes ao risco. Para quem não sabe, as chances de morrer num sinistro de trânsito numa motocicleta são 200 vezes maiores do que no transporte público, por exemplo.
Nesta quinta-feira (18/9), como parte da Semana Nacional do Trânsito 2025 - que vai de 18 a 25/9 - a Uber anunciou que vai começar a testar a telemetria para acompanhar o comportamento dos condutores das motos do serviço. Será feita a análise de situações reais da condução sobre duas rodas, como freadas bruscas, acelerações repentinas, curvas acentuadas, uso do celular e manobras de ultrapassagem.
O objetivo dos testes com o uso da telemetria - tecnologia amplamente utilizada no setor de transporte, inclusive nos sistemas de ônibus urbano e rodoviário - é permitir o desenvolvimento de novos recursos e relatórios para aprimorar a condução dos motoqueiros parceiros, tentando educar e conscientizá-los. Os testes serão feitos em parceria com especialistas em segurança viária, garante a Uber.
99 IMPLANTOU ALERTA DE VELOCIDADE PARA TENTAR REDUZIR O PERIGO SOBRE DUAS RODAS
O crescimento assustador de quedas e colisões de passageiros e condutores de motos - associado diretamente à explosão do serviço de aplicativos de transporte de passageiros com motos, como Uber e 99 Moto - já vinha incomodando as plataformas.
No fim de agosto de 2024, a plataforma 99 anunciou a criação de um sistema de alerta de velocidade para as viagens realizadas pelo app 99 Moto. A inovação também foi uma tentativa de reduzir os sinistros de trânsito e começou a ser implementada nas principais cidades brasileiras, entre elas Recife (PE), Rio de Janeiro (RJ), Belo Horizonte (MG) e a Região Metropolitana de São Paulo.
A nova funcionalidade alerta os motociclistas das categorias 99 Moto e Entrega Moto quando eles ultrapassam o limite de velocidade. Batizada de Alerta de Velocidade, a inovação funciona como um velocímetro no aplicativo que vai mostrar a velocidade em tempo real e emitir avisos aos condutores caso o limite seja excedido.
Se o condutor ultrapassar o limite máximo de velocidade permitido, recebe uma primeira notificação sonora e visual no app. Se estiver 20% acima da velocidade autorizada na via, o aviso fica ainda mais intenso. O recurso fica permanentemente ligado durante as corridas e será gradualmente ativado à medida em que os motociclistas atualizarem o app.
VÍDEOS EDUCATIVOS PARA CONSCIENTIZAR E EDUCAR OS MOTOQUEIROS PARCEIROS
Outra iniciativa da plataforma Uber voltada para os condutores parceiros - motoqueiros e motoristas - foi a criação do projeto Dica Segura, uma série de 20 vídeos educativos curtos, objetivos e diretos, com dicas para quem pilota motocicleta ou dirige carro nas cidades do País.
Os vídeos estão hospedados diretamente no site do Observatório Nacional de Segurança Viária (ONSV), novo parceiro da plataforma no projeto, e são disponibilizados de forma gratuita para empresas e entidades governamentais que podem baixar e usar como educação no trânsito para colaboradores e sociedade em geral.
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Para selecionar os temas e apresentar os vídeos, o Observatório convidou Ricardo Rocha, instrutor da Rocam (Programa Policiamento com Motocicletas) da Polícia Militar do Estado de São Paulo, membro da Carta Europeia de Segurança Viária e autor do livro “Sobrevivendo e Aprendendo na ROCAM”, com mais de duas décadas de experiência em pilotagem.
OCUPANTES DE MOTOCICLETAS - AGORA TAMBÉM PASSAGEIROS - SÃO AS PRINCIPAIS VÍTIMAS DO TRÂNSITO NO BRASIL
A vulnerabilidade das motocicletas, aliada à má condução e à ausência de fiscalização nas ruas, avenidas e estradas, puxa para cima a tragédia no trânsito brasileiro. Números do Atlas da Violência 2025, lançado em maio e, pela primeira vez, com o recorte sobre a mortalidade do trânsito, confirmou que o usuário da motocicleta é, atualmente, a maior vítima dos sinistros de trânsito no Brasil.
O Atlas revelou que a taxa de mortes provocadas por sinistros voltou a crescer de forma geral em 2023 no País e chegou a 16,2 óbitos para cada grupo de 100 mil habitantes. Isso representa uma alta de 2,5% em comparação com 2022, quando o índice era 15,8. Mas são os ocupantes de motocicletas que dominam a lista de vítimas mortas no trânsito. Não só condutores, mas também passageiros. A taxa atingiu 6,3 mortes por 100 mil habitantes em 2023, o que equivale a alta de 12,5% ante 2022. Desde 2020, a taxa era mantida em 5,6.
O crescimento dos índices de mortalidade coincide exatamente com a ampliação e criação dos serviços de aplicativo sobre duas rodas. Foi em 2020 que o delivery mais cresceu, em plena pandemia de covid-19. E foi no fim de 2021 que a Uber, ainda no auge da perda de demanda dos carros de aplicativo, iniciou a operação do Uber Moto pela capital sergipana de Aracaju.
ÍNDICE DE ÓBITOS DE OCUPANTES DE MOTOS FOI O QUE MAIS CRESCEU
Os números do Atlas mostram que o índice de óbitos em geral no trânsito pulou de 15,5 para cada grupo de 100 mil habitantes em 2020 para 16,2 em 2023. Em 2021 passou para 15,9 e, em 2022, teve uma leve redução, indo a 15,8. E um dos principais fatores relacionados com esse aumento na mortalidade do trânsito é que as mortes de usuários de motocicletas no Brasil cresceram mais de 10 vezes nos últimos 30 anos, culminando no pico de quase 13 mil mortes no ano de 2014.
“Esse fato é consequência direta do grande aumento da frota e uso desses veículos no Brasil. No período de 2014 a 2019, houve uma pequena queda da mortalidade por sinistros envolvendo esse tipo de veículo, tal como ocorreu nos números totais de morte no País. Mas em 2019 voltou a tendência de crescimento das mortes, com uma certa estabilidade nos anos de pandemia (2020 e 2021), seguindo novamente a tendência de aumento da frota e uso de motocicletas observado”, consta no relatório.
No Piauí, 69,4% dos óbitos no trânsito envolvem motocicletas. Em sete estados brasileiros essa proporção é superior a 50%. Seis deles são do Nordeste - Pernambuco entre eles - e um é da região Norte. No quadro nacional, o Atlas mostra que 16 estados possuem um percentual de óbitos envolvendo motocicletas em relação aos óbitos totais acima da média nacional. “Trata-se de um problema de saúde pública de primeira importância, como já apontado anteriormente”, reforçaram os pesquisadores.
Dados do DataSUS apontam que, em 2023, o trânsito brasileiro provocou a morte evitável de 34 mil pessoas, dos quais 13.500 eram ocupantes de motocicletas.