Mortes no trânsito ganham, pela primeira vez, destaque no Atlas da Violência 2025
Impacto assustador das mortes no trânsito faz tema ganhar destaque, pela primeira vez, no Atlas da Violência, elaborado desde 2016

O número assustador e crescente das mortes e mutilações no trânsito brasileiro fizeram com que o tema da segurança viária ganhasse, pela primeira vez, um capítulo no Atlas da Violência 2025, levantamento sobre a violência no Brasil, principalmente homicídios e suas causas, realizado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Pela primeira vez, desde 2016, foi realizada a análise das mortes no trânsito, impacto das políticas públicas e os principais fatores que contribuem para a alta taxa de mortalidade em diferentes meios de transporte no Brasil. Um País que já matou mais de 44 mil pessoas por ano (2014) e que ainda mata mais de 33 mil (2023) e mutila outras 500 mil anualmente.
O Atlas da Violência 2025 aborda a violência nos transportes no Brasil na década de 2013 a 2023 - último ano de dados oficiais fechados pelo Ministério da Saúde. “Nos últimos anos, o sistema de transporte brasileiro tem enfrentado um grave problema de violência, refletido em altas taxas de mortalidade. Por isso a importância de a mortalidade do trânsito ganhar um capítulo no Atlas da Violência”, afirma o pesquisador Erivelton Guedes, que coordenou o capítulo pelo Ipea.
A SITUAÇÃO DA VIOLÊNCIA NOS TRANSPORTES NO BRASIL. MOTOCICLETAS TÊM DESTAQUE, MAIS UMA VEZ


O levantamento mostra que, entre 2013 e 2023, o Brasil registrou um aumento preocupante no número de óbitos relacionados a sinistros de trânsito (não é mais acidente de trânsito que se define, segundo o CTB e a ABNT), especialmente envolvendo ocupantes de motocicletas, que se tornaram uma das principais vítimas dessa violência.
O Atlas destaca que este período marca a segunda década de ações coordenadas pela Organização das Nações Unidas (ONU) para reduzir as mortes no trânsito e que os resultados obtidos pelo Brasil ainda estão muito abaixo do esperado. Mostra que, entre 2010 e 2019, o País registrou um aumento de 13,5% no número absoluto de mortes em sinistros de transporte terrestre, indicando que as ações implementadas não foram suficientes para reverter a tendência de crescimento.
- Internações de vítimas do trânsito custaram R$ 3,8 bilhões ao SUS em uma década
-
SUS paga a conta da imprudência no trânsito: são duas vítimas por minuto e a grande maioria de motos
-
Maio Amarelo: ao menos um mês no ano para que o Brasil tente se importar, de fato, com a redução das mortes no trânsito
Além disso, nos últimos anos, houve cortes nos recursos destinados à segurança no trânsito, como a redução na arrecadação do Fundo Nacional de Segurança e Educação de Trânsito (Funset).
O Atlas da Violência usou como base os dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), que apontam que o País apresentou uma leve estabilização nas mortes após 2020, porém, com sinais de crescimento em anos recentes.
Após uma leve queda até 2014, impulsionada por uma desaceleração econômica, os números voltaram a subir a partir de 2019, acompanhando o crescimento da frota de veículos, especialmente de motocicletas. “Essa expansão, embora contribua para a inclusão social e o acesso ao transporte, também elevou significativamente o risco de acidentes fatais, sobretudo entre os usuários mais vulneráveis”, alerta o pesquisador.




A análise dos dados de 2013 a 2023 revela que, apesar dos esforços, a violência nos transportes no Brasil ainda representa um grave problema. A implementação de políticas eficazes, o fortalecimento da fiscalização e o investimento em infraestrutura são passos essenciais para diminuir as mortes e promover uma mobilidade mais segura e sustentável no País.
CRESCIMENTO DA FROTA DE MOTOS PUXA VIOLÊNCIA NO TRÂNSITO
Um dos fatores mais alarmantes apontados pelo Atlas da Violência é o crescimento da frota de motocicletas, que aumentou mais de 10 vezes nas últimas três décadas. Essa expansão, aliada à insuficiência de infraestrutura adequada e fiscalização, elevou o risco de sinistros fatais, especialmente entre os usuários mais vulneráveis.


O levantamento aponta que, em muitos estados, mais de 50% dos óbitos no trânsito envolvem ocupantes de motocicletas, configurando um grave problema de saúde pública, especialmente nas regiões Norte e Nordeste, onde a desigualdade social é mais evidente.
No entanto, esse aumento não foi acompanhado por melhorias na infraestrutura viária, fiscalização adequada ou campanhas de conscientização específicas para motociclistas, o que aumenta o risco de acidentes graves.
Dados indicam que, em alguns estados, mais da metade dos óbitos no trânsito envolvem motocicletas. Por exemplo, no Piauí, quase 70% (69,4%) dos óbitos relacionados ao trânsito envolvem ocupantes de motocicletas, enquanto em outros estados como Tocantins e Mato Grosso, essa proporção também é bastante elevada.
- Mortes no trânsito: fiscalização eletrônica zera mortes no trânsito de Olinda, no Grande Recife
-
Motocicletas e mortes no trânsito: por que nosso insucesso, enquanto a frota de motos explode no Brasil?
-
Mortes no trânsito: em 73% das cidades brasileiras, o trânsito mata igual ou mais do que as armas de fogo, aponta estudo
“Essa situação evidencia uma vulnerabilidade específica que precisa ser enfrentada com políticas direcionadas, como campanhas educativas, fiscalização mais rigorosa e melhorias na infraestrutura das vias”, diz Erivelton Guedes.



Para piorar a situação, o Atlas também alerta que o corte nos últimos anos dos recursos destinados à segurança viária tem sido um fator determinante. A extinção do seguro obrigatório DPVAT, que indenizava vítimas de sinistros, tem impactado negativamente na assistência às vítimas e na arrecadação de recursos para o sistema de saúde.
O ESTRAGO DO TRÂNSITO POR REGIÕES



A mortalidade por sinistros de transporte, que inclui meios terrestres, aquáticos e aéreos, revela desigualdades regionais, com destaque para os estados do Norte e Centro-Oeste, onde as taxas de óbitos são mais elevadas.
Regionalmente, a análise mostra que a mortalidade é mais acentuada na Região Norte, especialmente no estado de Tocantins, e na Região Centro-Oeste. Além disso, a violência no transporte aquaviário, embora menos frequente, apresenta índices elevados na Região Norte, devido à importância do transporte por rios na economia local.