Maio Amarelo: ao menos um mês no ano para que o Brasil tente se importar, de fato, com a redução das mortes no trânsito
Movimento que existe desde 2014 chega em 2025 com o apelo pela redução da velocidade no trânsito, que responde por mais de 50% das mortes

Muita gente não sabe ou pouco se importa com os números a seguir: o trânsito mata duas pessoas por minuto e 3.200 por dia no mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). Por ano, são 1,19 milhão de óbitos evitáveis, como as mortes no trânsito são definidas no setor de saúde. No Brasil, já chegamos a matar mais de 44 mil em 2014 e foram mais de 33 mil mortes em 2023 - o dado mais recente do DataSUS, o sistema de dados do Ministério da Saúde.
Também são, em média, 500 mil mutilados no trânsito todos os anos. E, ainda, uma média de 100 mil novos casos anuais de invalidez permanente, dos quais, 73% são associados a sinistros de trânsito (não é mais acidente de trânsito que se define, segundo o CTB e a ABNT) envolvendo ocupantes de motocicletas.
E a cada ano esse passivo só aumenta, puxado pelo crescimento dos deliverys desde a pandemia de covid-19 e pela explosão, desde 2022, dos app motos serviço de transporte de pessoas com motocicletas, como Uber e 99 Moto. Isso tudo sem as cidades estarem preparadas e, muito menos, os serviços de saúde. Tanto o SUS como os privados.
Além das vidas perdidas - em sua maioria de jovens na fase mais produtiva da vida (entre 20 e 39 anos) - ainda há o custo financeiro disso tudo, seja para a saúde quanto para a previdência social brasileira. Estudo do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) estima que os sinistros de trânsito no Brasil resultam em um custo anual de R$ 158,4 bilhões, incluindo gastos com hospitais, perda de produção e danos materiais.
Os valores fazem parte de um estudo de 2020 e sofreram uma atualização pelo IPCA de novembro de 2024, refletindo um custo individual de R$ 4,95 milhões por vítima do trânsito. Esses custos são significativos e refletem o impacto das mortes no trânsito na economia e na sociedade brasileira.
IMAGENS PARA CHOCAR E CONSCIENTIZAR CONDUTORES A DESACELERAR



“A situação é tão assustadora que os dados de invalidez da população apurados pelo Censo 2022 ainda não foram publicados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). No censo anterior, de 2010, o número de inválidos já beirava os 15% de toda a população brasileira. Sem dúvida alguma um problema epidemiológico muito grave. Por isso nossa "bandeira" é a Década Amarela”, alerta o diretor-presidente do Instituto Zero Mortes, Paulo Pêgas.
O Zero Mortes é um instituto pró-vida, como o próprio slogan da entidade diz. Sem fins lucrativos, a associação tem como meta principal realizar estudos e atividades de pesquisa que envolvam a segurança em todos os tipos de transportes (rodoviário, ferroviário, aéreo e aquaviário). Recentemente, lançou o HQ Zerinho e sua turma, uma história em quadrinhos que aborda a importância de zerarmos as mortes no trânsito.
A REALIDADE BRASILEIRA: NÚMEROS QUE ASSUSTAM
A situação no Brasil é alarmante. Em 2022, o País registrou mais de 1 milhão de sinistros de trânsito, resultando em mais de 33,8 mil mortes, uma média de mais de 92 mortes por dia. A cada 15 minutos, uma vida é perdida no trânsito brasileiro, e a cada dois minutos, uma pessoa fica ferida ou com sequelas.


Nas rodovias federais brasileiras (BRs), onde a velocidade permitida é ainda mais alta e a fatalidade é inerente às colisões, são registrados pela Polícia Rodoviária Federal (PRF), mais de 30 mil sinistros de trânsito por ano, que deixam, em média, 100 mil feridos e 3 mil mortos.
Os motociclistas são um dos grupos mais vulneráveis, representando uma parcela significativa das fatalidades. Em 2022, 12.058 motociclistas perderam a vida em sinistros de trânsito no Brasil, uma média de 33 mortes por dia envolvendo motos, segundo dados do DataSUS do ano seguinte.
Em 2023, o Brasil apresentou um número de 34.881 óbitos no trânsito, um aumento de 987 óbitos em comparação com os dados de 2022, o que representa uma variação percentual de 2,91%, segundo análise do Observatório Nacional de Segurança Viária (ONSV) a partir dos dados do DataSUS.
SINISTROS COM OCUPANTES DE MOTOCICLISTAS SÃO O MAIOR PROBLEMA
Em 2023, 13.477 motociclistas perderam a vida em sinistros de trânsito em todo o Brasil, de acordo com o dado mais atual do Ministério da Saúde. De acordo com um estudo elaborado pela Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet), com base em números do Ministério da Saúde, o custo total das despesas diretas do SUS ultrapassa os R$ 2,4 bilhões, já com valores corrigidos pelo IPCA.
Vale reforçar que esses valores dizem respeito às internações de motociclistas em acidentes de transporte no período de janeiro de 2014 a novembro de 2024. Apenas entre os meses de janeiro e novembro de 2024, o custo com as internações de motociclistas acidentados no SUS foi de R$ 233,3 milhões.
Em 2024, até o mês de novembro, foram 148.797 motociclistas internados no SUS em decorrência de acidentes de transporte em todo o Brasil. Assim, apenas como comparação com o primeiro período analisado pelo estudo, que é 2014, naquele ano o número de internações era de 95.373.
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“Nos países com menor renda, como o Brasil, a OMS diz que os sinistros de trânsito em geral geram um custo entre 3% a 5% do PIB”, afirmou a Abramet na época da divulgação do estudo. “Como as ocorrências que envolvem motociclistas representam quase 60% do total no País, o custo para a sociedade é gigantesco”, reforçou.
Também segundo a Abramet, as principais vítimas do trânsito são jovens, entre 20 e 29 anos, perfil que concentra 50.204 do total de acidentados em 2024. E destes, a maioria, ou 119.749 internados, são homens.
POR DENTRO DO MAIO AMARELO


O Movimento Maio Amarelo é uma campanha mundial de conscientização para a redução de sinistros de trânsito. Criado em 2014 pelo Observatório Nacional de Segurança Viária (ONSV), o movimento busca mobilizar a sociedade civil, governos, empresas, escolas e cidadãos para adotar comportamentos mais seguros no trânsito, promovendo um ambiente mais humano e responsável nas vias públicas.
Inspirado por campanhas como o "Outubro Rosa" e o "Novembro Azul", o Maio Amarelo utiliza a cor amarela — que simboliza atenção e sinalização de advertência no trânsito — para destacar a urgência do tema.
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O objetivo do movimento é uma ação coordenada entre o Poder Público e a sociedade civil. A intenção é colocar em pauta o tema segurança viária e mobilizar toda a sociedade, envolvendo os mais diversos segmentos: órgãos de governos, empresas, entidades de classe, associações, federações e sociedade civil organizada para ampliar e efetivar a discussão sobre a violência no trânsito e ferramentas de reduzi-la nas mais diferentes esferas.
A ideia é que seja estimulada a participação da população, empresas, governos e entidades. A escolha pelo mês de maio se deu porque, em 11 de maio de 2011, a Organização das Nações Unidas (ONU) decretou a Década de Ação para Segurança no Trânsito. Com isso, o mês de maio se tornou referência mundial para balanço das ações que o mundo inteiro realiza.
VELOCIDADE NO TRÂNSITO COMO DISCUSSÃO PRINCIPAL
Se não chocam, os dados deveriam ao menos incomodar a todos. Com o objetivo de trazer luz a essa ‘matança evitável’, o Brasil celebra em maio, desde 2014, o Maio Amarelo. E, em 2025, o movimento tem como tema principal o combate ao excesso de velocidade pelos motoristas e motociclistas. O slogan é "Desacelere: seu bem maior é a vida”.
A velocidade foi escolhida porque ela responde por mais da metade dos óbitos nos sinistros de trânsito. Não é à toa que a OMS recomenda limitar em 50km/h a velocidade máxima das vias urbanas no mundo. O risco de morte de um atropelamento a 70 km/h, por exemplo, é de quase 100%. Já se for a 50 km/h, o risco cai para 80%. E a uma velocidade de 30 km/h, cai para quase 10%.
A IMPORTÂNCIA DO MAIO AMARELO


A importância do Maio Amarelo vem da epidemia silenciosa que o trânsito provoca todos os dias nas ruas, avenidas e estradas em todo o mundo. De acordo com dados da OMS:
- 1,19 milhão de pessoas morrem todos os anos em acidentes de trânsito em todo o mundo.
- O trânsito é a principal causa de morte de jovens entre 5 e 29 anos globalmente.
- Mais de 50 milhões de pessoas sofrem ferimentos não fatais todos os anos devido a acidentes rodoviários.
- No Brasil, segundo dados do DataSUS e da Seguradora Líder (responsável pelo antigo DPVAT), os números também são alarmantes:
- Em 2023, foram registrados mais de 30 mil óbitos no trânsito brasileiro.
- A cada ano, aproximadamente 200 mil pessoas ficam com sequelas permanentes em decorrência de sinistros de trânsito no País.
- Os sinistros de trânsito geram um impacto de mais de R$ 50 bilhões por ano aos cofres públicos, considerando despesas com saúde, previdência e perdas econômicas.
Veja como participar do Maio Amarelo:
O movimento convida todos os setores da sociedade a se envolverem por meio de ações educativas, palestras, campanhas nas redes sociais, iluminação de prédios e monumentos na cor amarela, além de atividades em escolas, empresas e órgãos públicos. Em 2025, o tema da campanha é “Paz no trânsito começa por você”, reforçando a ideia de que a mudança depende da atitude individual de cada cidadão.
Você pode participar de diversas formas:
- Compartilhando conteúdos de conscientização nas redes sociais com a hashtag #MaioAmarelo;
- Participando de eventos locais organizados por prefeituras e entidades de trânsito;
- Promovendo rodas de conversa em escolas e empresas;
- Respeitando as leis de trânsito todos os dias.