Concessão do Metrô do Recife: Passageiro do sistema está levando 1h em percurso que era de 26 minutos, enquanto governos Lula e Raquel Lyra não chegam a consenso
Metroviários organizam movimento nacional contra ‘privatização’ e vão apelar a Lula para que impeça a concessão do sistema no Grande Recife

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Em mais um debate realizado pela Rádio Jornal sobre a degradação e o futuro do Metrô do Recife, novamente dados impressionantes sobre o abandono do sistema pelo governo federal foram apresentados. Por falta de investimentos e corte até mesmo nos recursos de custeio, atualmente o passageiro do metrô (180 mil pessoas por dia, vale destacar) está levando 1h para fazer um percurso que era feito em, no máximo, 26 minutos.
O exemplo foi dado pela superintendente da Companhia Brasileira de Trens Urbanos no Recife (CBTU), Marcela Campos, que participou do debate ao lado do vice-presidente do Sindicato dos Metroviários de Pernambuco (Sindmetro-PE) , Thiago Mendes. E fez referência ao deslocamento dos dois ramais da Linha Centro do metrô - Jaboatão e Camaragibe - até o Centro do Recife.
Além de um aumento do tempo de viagem, o passageiro enfrenta intervalos desumanos e inadmissíveis para um transporte sobre trilhos - de 13/14 minutos nos horários de pico e de até 20 minutos nos horários de vale - a paralisação há mais de um ano da operação aos domingos; trens superlotados e quentes; e quebras praticamente semanais e há muitos anos. E paga caro por isso, vale destacar: uma tarifa de R$ 4,25.
“Na última vez em que estive aqui já fizemos um alerta de que o Metrô do Recife está à beira do colapso e que precisa urgentemente de investimentos, independentemente se vai ou não ser concedido à gestão privada. Transporte sobre trilhos é um sistema cujas peças e equipamentos não se encontram para comprar na prateleira. Estamos muito atrasados no início desse processo de reestruturação e, se nada for feito de imediato, não será possível reerguê-lo nem mesmo se for concedido”, alertou Marcela Campos.
A situação financeira do sistema metropolitano segue crítica. Quando tudo dá certo, a operação diária do metrô está sendo feita com no máximo 15 trens nas duas linhas elétricas: Centro e Sul. Sendo 5 trens na Linha Sul e 10 trens na Linha Centro. O orçamento também continua insuficiente.
Segundo Marcela Campos, o déficit do orçamento de custeio do Metrô do Recife para 2025 está em R$ 22 milhões até agora, e não foi maior porque a CBTU conseguiu, após muita pressão e notificações oficiais ao Ministério das Cidades, alocar mais dinheiro ao longo do ano. Em 2024, o metrô teve um orçamento de R$ 126 milhões e iniciou 2025 com apenas R$ 90 milhões previstos.
“Conseguimos mais R$ 40 milhões em agosto, o que vai permitir chegarmos a aproximadamente R$ 130 milhões. Mas o orçamento inicial que pedimos para este ano era de R$ 152 milhões, o que ainda não foi possível de conquistar. E estamos falando apenas de custeio”, destacou a superintendente do metrô.
FALTA DE RECURSOS ESTÁ MATANDO O METRÔ POR INANIÇÃO
A atual situação do Metrô do Recife é classificada como crítica pelos gestores e trabalhadores. A última grande injeção de recursos ocorreu há mais de 10 anos, com a finalização da Linha Sul. Hoje, o sistema opera com grandes restrições, prezando unicamente pela segurança operacional.
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A frota é descrita como sucateada. Apenas a aquisição de uma nova frota está estimada em R$1,4 bilhão, demandando cerca de três anos para o início da entrega dos primeiros trens. Além disso, a rede aérea, responsável pela alimentação elétrica dos trens, possui 40 anos e é frequentemente a causa de paralisações longas.
MINISTRO RUI COSTA APONTADO COMO O RESPONSÁVEL PELA ‘PRIVATIZAÇÃO’ DO METRÔ DO RECIFE
Durante o debate, o vice-presidente do Sindmetro-PE, Thiago Mendes, foi enfático em afirmar que o maior interessado na ‘privatização’ do Metrô do Recife é o ministro da Casa Civil, Rui Costa, que é o coordenador do Novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Recentemente, inclusive, o ministro afirmou que a estadualização do sistema estava certa e seria anunciada em poucas semanas. Rui Costa, aliás, tem sido o principal porta-voz do governo federal em relação à concessão pública do metrô.
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“Rui Costa é o ACM do governo, essa é a verdade. É o privatista que deseja encaminhar o processo”, afirmou o sindicalista, numa referência ao ex-governador da Bahia, Antônio Carlos Magalhães, conhecido como ACM e um verdadeiro ‘cacique da política’. Thiago Mendes pontuou que a tensão política sobre a concessão, inclusive, teve repercussão na audiência pública realizada na Câmara dos Deputados nesta terça-feira (23).
CONFIRA O DEBATE NA ÍNTEGRA:
Na audiência, que abordou a concessão dos sistemas públicos de transporte sobre trilhos no País - São Paulo, Rio Grande do Sul e Brasília estão vivendo processos semelhantes -, teria ficado evidente que a categoria precisaria tentar chegar diretamente ao presidente Lula, evitando o ministro Rui Costa.
Essa afirmação teria sido feita pelo deputado federal Renildo Calheiros (PC do B-PE: "Precisamos pedir uma conversa com o Lula, tirar o Rui Costa do meio, tirar tudo do meio e ir conversar com o Lula".
DISPUTA POLÍTICA E ALERTA DE AUMENTO DA TARIFA
O processo de concessão, que transfere a responsabilidade para a esfera estadual, é visto com ceticismo e resistência pelo sindicato, que vê uma contradição nos planos do governo federal.
Thiago Mendes criticou o Governo Lula por manter a CBTU no Programa Nacional de Desestatização (PND), apesar das promessas de campanha. "É uma contradição terrível, que precisa ser ajustada e cobrada politicamente do presidente Lula. Porque se existe dinheiro para colocar R$ 3 bilhões num sistema para que ele seja melhorado para ser concedido, por que não fazer o mesmo investimento e manter o metrô público?”, indagou.
Mendes defendeu que a privatização não é uma solução mágica, citando problemas em outras concessões, como em Belo Horizonte - onde o metrô foi concedido no fim de 2022. E cobrou que o investimento imediato de R$ 1 bilhão, que a governadora Raquel Lyra disse estar tentando viabilizar com o governo federal, seja feito sem a necessidade de ‘privatização’. Os metroviários ainda acusaram o governo estadual de omissão por não ter se aproximado da categoria para debater os problemas reais do metrô.
A principal preocupação com a concessão - garante o sindicato - está no impacto para o usuário, que já paga R$ 4,25 pela passagem. “Se o sistema for privatizado, a passagem vai aumentar. E o risco de fechamento das linhas diesel ( VLTs) é real porque as empresas privadas tenderão a buscar rentabilidade e lucro, e não o papel social do transporte”, alertou Thiago Mendes.