Metrô do Recife: Após incêndio em vagão, Raquel Lyra cobra antecipação de R$ 1 bilhão da União para o metrô, independentemente da concessão pública
Governadora de Pernambuco, em entrevista à Rádio Jornal, falou da urgência do sistema metroviário, ainda mais evidente após incêndio em vagão
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O incêndio em um dos poucos trens do Metrô do Recife - que por sorte não provocou mortes de passageiros, no dia 25/10 - parece que também acendeu o alerta para a governadora de Pernambuco, Raquel Lyra, de que a degradação do sistema metropolitano ultrapassou todos os limites. Todos mesmo.
Em entrevista ao Programa Passando Limpo, da Rádio Jornal, nesta sexta-feira (31), Raquel Lyra cobrou que, diante da crise no Metrô do Recife — que é gerido pelo governo federal através da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) — a União faça a antecipação de recursos para investimentos emergenciais no sistema. Independentemente da finalização do processo de concessão pública do metrô.
“Desde agosto, tenho me posicionado firmemente junto ao Ministro Rui Costa (Casa Civil) e demais autoridades federais, sobre a necessidade de não esperar a finalização do processo de concessão pública do metrô. Não dá para esperar. A proposta do governo estadual é a antecipação de R$ 1 bilhão em investimentos. O processo de concessão prevê que o governo federal irá destinar R$ 3,5 bilhões para o metrô no futuro, mas a urgência do sistema exige ação imediata. Eu coloquei uma proposta à mesa para que a gente antecipasse R$ 1 bilhão de investimentos, que seriam diluídos ao longo da concessão”, explicou.
Os recursos antecipados seriam direcionados para a reforma das estações, manutenção de dormentes e trilhos, além da garantia de troca de vagões. A governadora destacou, inclusive, que esses novos trens poderiam até ser seminovos.
A governadora destacou que o governo estadual está levantando dados junto à CBTU e utilizando sua equipe de mais de 350 engenheiros para antecipar projetos de reforma das estações antes mesmo da concessão. E que a expectativa é ter novidades sobre o Metrô do Recife nos próximos 10 ou 15 dias. “Vamos aproveitar a visita do presidente Lula, dia 9, em Fernando de Noronha, para tentar obter essas respostas”, afirmou.
A entrevista da governadora aconteceu poucas horas depois de os metroviários deflagrarem uma greve do Metrô do Recife por tempo indeterminado e que começará na próxima segunda-feira (3/11). A categoria decidiu parar diante do sucateamento do sistema metropolitano.
BUSCA POR NOVOS TRENS NA CHINA
Raquel Lyra também revelou que a viagem à China incluiu uma visita à CRRC (empresa chinesa de material rodante e a maior fabricante de trens do mundo) com o objetivo de prospecção de soluções para a frota metroviária.
A governadora revelou que o governo do Estado já havia solicitado uma cotação de 12 a 18 trens à CRRC, que indicou um custo em torno de R$ 55 milhões por trem e um prazo de entrega de 21 meses. Raquel Lyra, entretanto, também afirmou que questionou o longo tempo de entrega e disse acreditar que, com negociação, é possível reduzí-lo.
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“A ida à fábrica chinesa não foi fruto do acaso. A CRRC é uma empresa estatal chinesa, fazendo parte de um grupo maior de companhias que compõem o braço de mobilidade do país asiático. A magnitude da produção na CRRC é impressionante, semelhante a uma grande fábrica de veículos, mas adaptada para a escala ferroviária. Centenas de trens estavam sendo fabricados e as encomendas somam milhares de trens de metrô no mundo inteiro. Os trens de Santiago (Chile), dos Emirados Árabes (Ásia) e de Chicago (EUA) são dela, por exemplo”, relatou.
Segundo a governadora, em decorrência dos contatos realizados, representantes da da CRRC visitarão Pernambuco nos dias 5 e 6 de novembro. O grupo não virá apenas para discutir trens (elétricos e a diesel), mas também para avaliar o transporte público metropolitano e apresentar soluções.
USO DO VEÍCULO LEVE SOBRE PNEUS COMO POSSIBILIDADE
Entre as alternativas avaliadas para melhorar o transporte público de média e alta capacidade, Raquel Lyra afirmou que conheceu um modelo intermediário chinês: o trem sobre pneus, chamado de Veículo Leve sobre Pneus (VLP), capaz de transportar até 230 passageiros. Seria uma opção mais barata que um trem de metrô ou um VLT tradicional e que não requer a infraestrutura de trilhos, sendo uma estratégia possível para a ampliação da rede.
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“Nós estamos fazendo uma ampla avaliação para que possamos realizar processos de concessão pública para a melhoria do transporte público em Pernambuco e na Região Metropolitana especialmente. E estamos buscando exemplos do que está sendo usado lá fora para pensar no futuro. E é impressionante o que a China tem feito. Eles podem nos ajudar a pensar melhor o transporte público metropolitano aqui”, afirmou.
“Eles têm o VLP, que não se chama de VLT porque não é sobre trilho, é na verdade um trem sobre pneus. Não é um BRT, como a gente viu aqui naqueles corredores que deveriam ter operado BRT, porque carrega 230 passageiros. Tem um alto valor comparado com o BRT, mas se comparar com um trem de metrô ou com um VLT, tem um preço mais barato e não precisa da infraestrutura de trilhos. Então, pode ser uma estratégia possível para a ampliação de rede sem precisar rasgar a via ou ter ela absolutamente livre, sem casas. Ele já está na segunda geração, em operação em algumas cidades da China. E a CRRC está abrindo uma fábrica no interior de São Paulo, investimento necessário para financiamentos via BNDES”, destacou.
A governadora afirmou, ainda, que pediu para que a CRRC fizesse um estudo comparando todos os cenários possíveis, desde veículos sobre trilhos, metrôs e até o BRT, para que o Estado possa ter uma relação de custo e oportunidade para a compra dos equipamentos.
ENTENDA O QUE É O VEÍCULO LEVE SOBRE PNEUS
O Veículo Leve sobre Pneus (VLP) é um novo conceito de transporte de massa, já em operação na China desde 2019, e que está a caminho do Brasil. O sistema, que combina a capacidade de transporte de um Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) tradicional com algumas das vantagens operacionais dos ônibus urbanos, deve ser implementado de forma experimental na cidade de Curitiba (PR) ainda em 2025.
O VLP é frequentemente descrito como um "bonde sem trilhos". Ele se assemelha tecnicamente aos ônibus articulados urbanos por rodar sobre pneus de borracha, mas se diferencia por sua capacidade massiva, podendo transportar entre 300 e 500 passageiros por composição, dependendo do número de carros.
Sua tecnologia é baseada em sensores eletromagnéticos que guiam o veículo, seguindo "trilhos virtuais" que são pintados diretamente sobre o asfalto. Dessa forma, ele pode funcionar de maneira semi autônoma. Graças ao uso de pneus de borracha, o VLP possui um certo nível de flexibilidade de rota e é capaz de lidar com desníveis e inclinações mais altas em comparação aos bondes tradicionais.
Segundo a fabricante chinesa CRRC, que desenvolveu e fabricou o veículo, a velocidade máxima que o VLP pode atingir é de 70 km/h. O sistema é projetado para operar em corredores que variam de 8 km a 20 km de extensão, com estações espaçadas entre 600 e 1.200 metros.
É importante destacar que, por ser um veículo longo, uma grande folga é necessária em cada cruzamento para garantir um bom raio de curvas, exigindo cerca de 15 metros, o que pode limitar manobras em situações de congestionamento.
Os veículos são tipicamente bidirecionais (com uma cabine de operação em cada extremidade) e possuem piso baixo para facilitar a acessibilidade. O sistema foi testado inicialmente em 2017 e entrou em operação comercial em 2019, nas cidades de Zhuzhou e Yibin, no Sul da China.