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Pesquisa Quaest: Transporte público e infraestrutura desafiam a gestão Raquel Lyra, sendo uns dos principais "calos" do governo

O abandono do transporte público em Pernambuco, tanto o metropolitano quanto o intermunicipal, puxou a avaliação da gestão estadual para baixo

Por Roberta Soares Publicado em 23/08/2025 às 8:00

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A conta da falta de prioridade à mobilidade urbana da população em Pernambuco, algo que vai além da recuperação da malha rodoviária no interior do Estado - vale ressaltar -, chegou para a gestão Raquel Lyra (PSD). Pelo menos é o que mostrou a Pesquisa Quaest, que avaliou as intenções de voto para as Eleições 2026 ao governo de Pernambuco e fez uma avaliação do governo atual, divulgada na sexta-feira (22/8).

O abandono dos sistemas de transporte público de passageiros em Pernambuco, tanto o metropolitano - que atende à Região Metropolitana do Recife - quanto o intermunicipal - que conecta a capital com o interior do Estado - puxou a avaliação da gestão estadual para baixo. A pesquisa Quaest mostrou que João Campos (PSB), prefeito do Recife, tem 55% das intenções de voto para governador de Pernambuco no primeiro turno das eleições de 2026, contra 24% da atual governadora Raquel Lyra (PSD). Com este resultado, João Campos seria eleito na primeira etapa da votação

Os dados da pesquisa Quaest de agosto de 2025 indicam que a avaliação de transporte público e infraestrutura e mobilidade são pontos de grande sensibilidade e insatisfação para a gestão estadual. Os dois setores registraram um índice de 35% de avaliações positivas (notas de 7 a 10) e 31% de avaliações regulares (notas de 3 a 6). No entanto, o percentual de avaliações negativas (notas de 0 a 2) atingiu 34% para ambos os setores. Este equilíbrio entre avaliações positivas e negativas, com uma parcela considerável de insatisfação, posiciona esses serviços como verdadeiros "calos" da gestão atual.

A percepção de estagnação ou piora nestas áreas, inclusive, teve um impacto direto na aprovação do governo Raquel Lyra. A insatisfação com o transporte público e a infraestrutura básica, que afetam diretamente o cotidiano da população, desde o deslocamento para o trabalho e escola até a qualidade de vida nas cidades, é um fator crucial que puxa a avaliação geral da governadora para baixo.

FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM
O governo de Pernambuco achou que, com a implantação do Bilhete Único iria resolver tudo, mas esqueceu que apenas 15% dos passageiros dos ônibus do Grande Recife ainda pagavam o Anel B, que foi extinto e unificado ao Anel A, já usado por mais de 80% da demanda - FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM

As baixas margens entre as avaliações positivas e negativas nesses setores sugerem que a administração enfrenta um desafio considerável para reverter a percepção pública e demonstrar melhorias tangíveis.

Dados da Avaliação dos Serviços Públicos (Ago/25):

Transporte público:
35% Positiva (avaliações de 7 a 10)
31% Regular (avaliações de 3 a 6)
34% Negativa (avaliações de 0 a 2)

Infraestrutura e mobilidade:
35% Positiva (avaliações de 7 a 10)
31% Regular (avaliações de 3 a 6)
34% Negativa (avaliações de 0 a 2)

GESTÃO RAQUEL LYRA FOCOU EM ESTRADAS NO INTERIOR E ESQUECEU O TRANSPORTE PÚBLICO METROPOLITANO E INTERESTADUAL

ALEXANDRE GONDIM/JC IMAGEM
A dificuldade do Estado em avançar na definição do futuro do Metrô do Recife - solução que foi promessa de campanha da governadora Raquel Lyra - é outro desafio ainda sem solução - ALEXANDRE GONDIM/JC IMAGEM

O entendimento de especialistas em mobilidade urbana, técnicos em transporte público e infraestrutura ouvidos pelo JC, é de que os números da pesquisa representam a realidade. A gestão Raquel Lyra focou muito na recuperação da malha rodoviária no interior do Estado e esqueceu investimentos na Região Metropolitana do Recife, principalmente no transporte público coletivo, que é responsabilidade do Estado.

O governo de Pernambuco achou que, com a implantação do que chamou de Bilhete Único iria resolver tudo, mas esqueceu dos investimentos no setor e que apenas 15% dos passageiros dos ônibus do Grande Recife ainda pagavam o Anel B, que foi extinto e unificado ao Anel A, já usado por mais de 80% da demanda. Também não conseguiu melhorar a imagem do Sistema BRT na RMR, que desde 2020, após ser “canibalizado” um pouco antes e durante a pandemia de covid-19, segue operando parcialmente e com as estações sem refrigeração, transformadas em verdadeiros ‘fornos’.

As invasões dos coletivos, com usuários pulando as catracas, invadindo os ônibus pela porta de trás e as estações de BRT com as portas sempre abertas devido ao calor, são alguns dos problemas que têm assustado o passageiro pagante e o jogado para o transporte individual, principalmente os aplicativos de transporte de passageiros com motocicletas, como o Uber e o 99 Moto.

divulgação
Governadora Raquel Lyra - divulgação

“Apesar de ter apostado, principalmente, em investimentos em infraestrutura no interior do Estado, a gestão Raquel Lyra esqueceu o transporte público coletivo, com falhas notáveis tanto no sistema metropolitano como no rodoviário (intermunicipal). No transporte rodoviário, por exemplo, ela não fez nada, absolutamente nada, deixando o serviço entregue ao clandestino e aprofundando a crise que já existia. E na Região Metropolitana do Recife, ela perpetuou um modelo de remuneração financeira dos operadores que força o Estado a gastar uma fortuna em subsídios e que não se transforma em melhorias para os passageiros”, avalia uma fonte em reserva.

E segue: “A falta de mudanças no modelo de remuneração e de investimentos no setor levou as operadoras a não buscarem mais a demanda de passageiros, passando a viver de subsídios públicos para recompor os custos. E isso tem sido péssimo”, reforça. Outro técnico ouvido pelo JC vai além: “O lançamento do Bilhete Único, por exemplo, foi um jogo acima de tudo político, porque a tarifa não impacta significativamente o trabalhador que usa o Vale Transporte. E na gestão dos sistemas de transporte o atual governo não fez absolutamente nada. Foi zero”, avaliou.

A dificuldade do Estado em avançar na conclusão da licitação das linhas de ônibus do Grande Recife e a indefinição do futuro do Metrô do Recife - solução que foi promessa de campanha da governadora Raquel Lyra - são outros desafios pesados e ainda sem solução. Assim como o envelhecimento da frota de ônibus - que nunca foi tão velha -, e a dificuldade em fazer os prefeitos do Recife e da Região Metropolitana aderirem, institucional e financeiramente, ao Consórcio de Transporte Metropolitano (CTM).

CONCESSÃO PÚBLICA DOS TERMINAIS INTEGRADOS E PRIMEIRO TRECHO DO ARCO METROPOLITANO PARA SALVAR A GESTÃO

BRUNO CAMPOS/JC IMAGEM
O cenário não foi pior, avaliam as fontes ouvidas, porque a atual gestão lançou o programa PE na Estrada com a missão de investir R$ 5,1 bilhões na recuperação da malha rodoviária pernambucana - BRUNO CAMPOS/JC IMAGEM
Guga Matos/JC Imagem
Entre as intervenções, o governo destaca a requalificação da PE-015, um dos principais corredores de transporte público da Região Metropolitana do Recife (RMR), que foi iniciado ainda na gestão do PSB - vale ressaltar - Guga Matos/JC Imagem
Fábio Pozzebom/Agência Brasil
O cenário não foi pior, avaliam as fontes ouvidas pelo JC, porque o Estado está conseguindo tirar do papel o primeiro trecho do Arco Metropolitano, obra de infraestrutura viária planejada para reduzir o volume do tráfego de veículos na RMR e, principalmente, melhorar a logística entre os polos industriais do Estado - Fábio Pozzebom/Agência Brasil

De positivo no setor de transporte público, é citado apenas o avanço da concessão pública da gestão e operação dos 26 terminais integrados de ônibus e metrô e das 46 estações de BRT. O cenário não seria pior, avaliam as fontes ouvidas, porque a atual gestão lançou o programa PE na Estrada com a missão de investir R$ 5,1 bilhões na recuperação da malha rodoviária pernambucana. E porque está conseguindo tirar do papel o primeiro trecho do Arco Metropolitano, obra de infraestrutura viária planejada para reduzir o volume do tráfego de veículos na RMR e, principalmente, melhorar a logística entre os polos industriais do Estado.

Uma das fontes ouvidas pela reportagem, entretanto, avalia que, apesar de os números da pesquisa Quaest mostrarem uma derrota de Raquel Lyra ainda em primeiro turno, caso as eleições fossem agora, os percentuais também indicam que há chances reais de virada da governadora em um ano, com projeções indicando 51% de apoio e uma posição competitiva em uma eleição que promete ser disputada.

FIQUE POR DENTRO DA PESQUISA QUAEST

Reprodução
Transporte público e infraestrutura são os 'calos' da gestão Raquel Lyra - Reprodução

A pesquisa Quaest divulgada na sexta-feira (22) mostra que João Campos (PSB), prefeito do Recife, tem 55% das intenções de voto para governador de Pernambuco no primeiro turno das eleições de 2026, contra 24% da atual governadora Raquel Lyra (PSD). Com este resultado, João Campos seria eleito na primeira etapa da votação.

O ex-ministro do Turismo no governo Jair Bolsonaro, Gilson Machado (PL), aparece na terceira posição, com 6%, embora seja cotado para disputar o Senado. Já o vereador do Recife Eduardo Moura (Novo), considerado pela primeira vez no levantamento, ficou em quarto, com 4 pontos. Outros 7% declararam voto em branco ou nulo, e 4% disseram não saber em quem votar.

Em comparação com a última pesquisa estadual do instituto, realizada em fevereiro, João Campos perdeu um ponto percentual, enquanto a governadora caiu quatro. Seis meses atrás, a distância entre eles era de 28 pontos. Agora, o socialista está 31 pontos à frente.

SAÚDE, SEGURANÇA E EMPREGO: OUTRAS ÁREAS DE ATENÇÃO CRÍTICA

A análise da pesquisa Quaest das demais áreas de atuação do governo estadual revelou que saúde pública, segurança e geração de emprego e renda também enfrentam desafios significativos. A saúde obteve 35% de avaliações positivas, 32% regular e 33% negativas. O percentual negativo é bastante próximo ao de transporte e infraestrutura, indicando um nível de insatisfação similar.

A segurança registrou o maior percentual de avaliações negativas entre os setores analisados, com 38%, contra 30% regular e apenas 32% positivas. Este dado sugere que a segurança é, de fato, um dos setores mais críticos e com maior descontentamento popular. E emprego e renda apresentaram 36% de avaliações positivas, 28% regular e 36% negativas. O empate entre avaliações positivas e negativas demonstra uma polarização e uma insatisfação substancial da população neste campo econômico crucial.

CONFIRA  a pesquisa na íntegra: 

Genial+Quaest+Pe+Ago25 by Roberta Soares

Assim, enquanto transporte e infraestrutura são destacados como "calos", os dados mostram que saúde e emprego enfrentam níveis de insatisfação comparáveis, e a segurança pública se destaca como a área com a maior porcentagem de avaliações negativas, indicando a complexidade dos desafios enfrentados pelo governo.

EDUCAÇÃO É ALÍVIO EM MEIO A TANTOS DESAFIOS

Em contraste com os setores mais problemáticos, a educação apareceu como a área com a avaliação mais favorável na pesquisa Quaest. O setor alcançou 55% de avaliações positivas. Este é o maior percentual de avaliações positivas entre todos os serviços analisados, superando significativamente os demais. Além disso, a educação registrou apenas 17% de avaliações regulares e 28% de avaliações negativas.

O resultado indica que, comparativamente aos "calos" de transporte, mobilidade, infraestrutura, segurança e saúde, a educação foi a área que apresentou o desempenho menos ruim ou, de fato, o mais positivo para a gestão de Raquel Lyra. Indica que, talvez, os investimentos ou as políticas implementadas no setor estejam sendo percebidos de forma mais eficaz pela população, atenuando o impacto negativo gerado por outras áreas.

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