Após a queda, a luta pela volta à vida: o desafio da reabilitação para vítimas de amputação nas motos
Após o susto da queda ou colisão e a euforia de sobreviver, começa a luta pela retomada da vida com a reabilitação e o acesso a recursos essenciais

A recuperação de vítimas de amputações, muitas delas resultantes de sinistros de trânsito com motos, é um verdadeiro desafio que se estende muito além do momento do trauma. Após o susto da queda ou colisão e a euforia de sobreviver, começa a luta pela retomada da vida que se concentra na qualidade da reabilitação e no acesso a recursos essenciais.
Para que um paciente amputado consiga retornar ao mercado de trabalho e às suas rotinas diárias, a qualidade da reabilitação é fundamental. Isso inclui a escolha de uma prótese de alta qualidade e compatível com o nível de função que a pessoa possuía antes da amputação. No entanto, não basta apenas "colocar a prótese".
É crucial contar com o apoio de uma fisioterapia especializada, focada em ensinar o paciente a andar novamente, fortalecer a musculatura remanescente (que não contrai com a mesma velocidade após a perda anatômica), e realizar treinamento de marcha. Todo esse processo exige um aparato profissional e tratamentos multidisciplinares. Mais um dos temas abordados na série de reportagens Transporte por moto: O Brasil precisa enfrentar.
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“A recuperação pode ser mais breve para pacientes mais jovens que recebem um bom acompanhamento, permitindo que retornem ao trabalho em menos tempo e diminuam a dependência do auxílio do INSS, que, na maioria dos casos, é insuficiente para suprir as necessidades”, afirma o fisioterapeuta Tiago Bessa, especialista em reabilitação e diretor da Clínica Ortopedia Boa Viagem, localizada na Zona Sul do Recife.
ACESSO DIFÍCIL AOS EQUIPAMENTOS QUE DÃO AUTONOMIA ÀS VÍTIMAS DAS MOTOS
Contudo, o caminho para a reabilitação plena esbarra em um obstáculo significativo: o acesso a órteses, próteses e outros equipamentos auxiliares de locomoção através do Sistema Único de Saúde (SUS). Há uma enorme defasagem entre os valores praticados pelo mercado produtor e distribuidor desses itens e a tabela de preços do SUS.
Segundo Tiago Bessa, a tabela do SUS para esses dispositivos não é atualizada há 18 anos, fazendo com que a defasagem chegue a 150%. E muitos fatores contribuíram para isso. “O custo com a matéria-prima dos componentes protéticos aumentou consideravelmente ao longo dos anos. E surgiram muitas novidades tecnológicas no mercado que não são refletidas na tabela do SUS, tornando a tecnologia disponível hoje totalmente diferente do que existia há 18 anos”, explica.
Essa situação cria uma "dificuldade enorme" para os profissionais que trabalham com essas próteses e, principalmente, para os pacientes. E revela que o processo de volta à vida das vítimas de amputação no Brasil enfrenta não apenas as barreiras físicas e psicológicas da recuperação, mas também os entraves de um sistema de saúde que não acompanha as necessidades e os avanços tecnológicos.