Transporte por moto: O Brasil precisa enfrentar | Notícia

Transporte por moto: Em tempos de aplicativos de motos, ocupantes são as vítimas que mais custam caro

Levantamento de associações médicas aponta que os ocupantes dos veículos duas rodas são os mais vulneráveis: representam 60% de todos os casos

Por Roberta Soares Publicado em 16/06/2025 às 7:20

O levantamento das Associações Brasileiras de Medicina do Tráfego (Abramet) e Medicina de Emergência (Abramede), com base nos dados do DataSUS, também constatou o que o Brasil vivencia diariamente nas ruas das grandes e médias cidades: são as vítimas das motos que mais custam caro ao SUS.

Ainda mais nos últimos quatro anos, quando, além do delivery, as plataformas criaram o transporte de passageiros com motos via aplicativo, como Uber e 99 Moto. Um serviço que começou no País no fim de 2021 e que, atualmente, está presente em praticamente 4 mil cidades brasileiras.

O levantamento aponta que os ocupantes dos veículos duas rodas são os mais vulneráveis: representam 60% de todos os casos. Em 2024, o número chegou a 150 mil internações, mais do que o total somado de pedestres e ciclistas no mesmo ano.

Os pedestres formam o segundo maior grupo de vítimas atendidas nas emergências por sinistros de trânsito, com 16% dos casos no período. Em seguida, aparecem os ciclistas e ocupantes de automóveis, ambos com 7% do total de sinistros registrados entre 2015 e 2024.

O JC está discutindo a necessidade de o País enfrentar a criação de regras para o transporte de passageiros com motos na série de reportagens Transporte por moto: O Brasil precisa enfrentar.

INTERNAÇÕES DE VÍTIMAS DO TRÂNSITO EM PERNAMBUCO CUSTARAM MAIS DE R$ 10 MILHÕES POR ANO AO SUS

AE
Não faltam números recentes do estrago que o uso indiscriminado e pouco fiscalizado das motos - agora potencializado pela introdução de passageiros desacostumados a andar na garupa do veículo - tem provocado na sistema brasileiro de saúde pública - AE

Nos últimos dez anos, as internações hospitalares no Sistema Único de Saúde (SUS) causadas por sinistros de trânsito mantiveram um ritmo preocupante no Brasil, especialmente na Região Nordeste. Pernambuco, em particular, teve um salto significativo em 2024, tanto em número de atendimentos quanto nos custos hospitalares, que chegaram a ultrapassar os R$ 10 milhões no ano.

Segundo dados do Ministério da Saúde, analisados pelas Associações Brasileiras de Medicina do Tráfego (Abramet) e Medicina de Emergência (Abramede), Pernambuco registrou 7.320 internações por sinistros de trânsito no SUS em 2024, um aumento expressivo de 34,2% em relação ao ano anterior (5.454 internações em 2023). Este número, inclusive, é o maior da série histórica analisada entre 2015 e 2024, superando inclusive os registros de 2015, que somaram 6.555 casos.

No total, foram 56.340 internações no Estado durante o período. A análise das entidades mostra que o aumento de 2024 quebrou uma sequência de anos relativamente estáveis, com registros inferiores a 8 mil vítimas, sinalizando um alerta sobre a segurança viária no Estado.

Totalizando a década analisada, o SUS em Pernambuco gastou quase R$ 80 mil (R$ 79.159.638,13) com internações de vítimas do trânsito - das quais 60% eram ocupantes de motocicletas: condutores, mas também passageiros, atraídos pelos serviços de Uber e 99 Moto.

O levantamento está sendo divulgado devido ao Maio Amarelo 2025, campanha de conscientização pela saúde e segurança no trânsito.

METADE DOS MOTOCICLISTAS NO BRASIL NÃO TEM HABILITAÇÃO

Thiago Lucas/Artes JC
Transporte por moto: O Brasil precisa enfrentar - Thiago Lucas/Artes JC
Thiago Lucas/Artes JC
Transporte por moto: O Brasil precisa enfrentar - Thiago Lucas/Artes JC

A explosão de quedas e colisões envolvendo motociclistas e passageiros no Brasil não é um fenômeno sem causa. Essa realidade, que se tornou ainda mais visível com o avanço dos serviços de transporte e entrega por aplicativo de moto, como Uber e 99 Moto, e os delivers, encontra uma explicação alarmante em um levantamento inédito da Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran).

O estudo confirmou aquilo que a população já percebe há muito tempo nas ruas: a maioria dos condutores de motocicletas no País não possui habilitação. Essa situação, que aponta para a imprudência e a falta de preparo, intensificou-se desde o final de 2021, período que coincide com a criação dos apps de transporte utilizando motos.

A pesquisa da Senatran, tendo como base de dados o Registro Nacional de Veículos Automotores (Renavam), trouxe números concretos que chocam. Dos 34,2 milhões de proprietários de motocicletas, motonetas e ciclomotores registrados no Brasil, impressionantes 17,5 milhões não possuem a habilitação na categoria exigida. Essa quantidade representa 53,8% do total de proprietários desses veículos.

A análise dos dados sugere que essa vasta quantidade de proprietários sem habilitação pode estar ligada, provavelmente, à dificuldade de acesso para tirar a Carteira Nacional de Habilitação (CNH), cujo custo médio varia entre R$ 2.500 e R$ 3 mil, dependendo do estado. Outro fator que pode contribuir para o cenário é o crescimento dos negócios de veículos compartilhados, a exemplo do aluguel de motocicletas.

O levantamento da Senatran também confirmou uma tendência que já é sentida e observada no cotidiano brasileiro, especialmente nas regiões Norte e Nordeste do País. A frota de motocicletas continua em expansão e já corresponde, em 2024, a 28% de todos os veículos registrados no Brasil. A projeção é que esse percentual alcance os 30% em seis anos, caso a atual inclinação de crescimento se mantenha.

WERTHER SANTANA/ESTADÃO CONTEÚDO
Quase 90% dos profissionais que hoje transportam passageiros no Uber e 99 Moto são ou eram entregadores. As regras exigidas pelas plataformas são as mesmas - WERTHER SANTANA/ESTADÃO CONTEÚDO

Neste panorama, cinco estados se destacam pela alta concentração de motocicletas em suas frotas totais, todos localizados no Nordeste e Norte do País. O Maranhão lidera com 59,7%, seguido pelo Piauí e Pará, ambos com 54,5%, Acre com 53,1%, e Rondônia com 51,2%. A predominância desses estados nessas regiões, mais uma vez, é atribuída a uma combinação de fatores econômicos, geográficos e culturais.

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