TRANSPORTE SOBRE TRILHOS | Notícia

Metrô do Recife sem rumo, sem perspectiva e no completo abandono

Princípio de incêndio num dos trens da Linha Centro - a mais movimentada do sistema - é mais um episódio que expõe a insegurança do metrô

Por Roberta Soares Publicado em 10/06/2025 às 17:58

Não é mais novidade que o Metrô do Recife, um dos pilares do transporte público na Região Metropolitana, encontra-se em um estado crítico, à beira de um colapso operacional que já não ameaça apenas a eficiência do serviço, mas também a segurança dos passageiros. Um novo episódio perigoso - o princípio de incêndio em um dos trens do sistema - na manhã desta terça-feira (10/6), deixou ainda mais evidente a vulnerabilidade do transporte sobre trilhos metropolitano.

Um incêndio atingiu um trem que rodava no Ramal Jaboatão da Linha Centro, deixando passageiros assustados e atrasando a já comprometida operação do sistema - que tem intervalos de até 20 minutos mesmo nos horários de pico por falta de trens. Chamas se espalharam na linha férrea sob um dos vagões onde era realizado o embarque na Estação Cavaleiro, em Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife.
Apesar do susto, por sorte ninguém ficou ferido. A operação foi atrasada no Ramal Jaboatão, mas segundo a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) não houve paralisação do sistema. “O fogo foi rapidamente controlado e o trem danificado recolhido em dez minutos”.

A Companhia explicou que o fogo começou por volta das 6h, depois que uma roda do trem travou. Com isso, segundo a empresa, o material, que é de aço, entrou em atrito com os trilhos, o que provocou o incêndio.

EPISÓDIO É MAIS UM QUE EXPÕE DEGRADAÇÃO DO METRÔ DO RECIFE

Reprodução / Redes Sociais
Passageiros levaram susto com princípio de incêndio na via sob o metrô, na Estação Cavaleiro, que integra a Linha Centro do sistema - Reprodução / Redes Sociais

Embora a CBTU tenha minimizado o princípio de incêndio em um dos vagões da Linha Centro, o Metrô do Recife tem acumulado problemas decorrentes da falta de investimentos e até mesmo de recursos para custeio (despesas básicas de operação).

E alertas sobre a degradação do sistema não faltam. Recentemente, durante debate na Rádio Jornal, a superintendente da CBTU-Recife, Marcela Campos, e o presidente do Sindicato dos Metroviários de Pernambuco (SindMetro), Luiz Soares, alertaram para a urgência da situação.

Os dois alertaram que os problemas se espalham por toda a operação: via permanente, rede aérea, edificações e um custeio que há anos se mostra insuficiente. A falta de recursos é tão severa que a paralisação parcial das operações, como já acontece aos domingos desde setembro de 2024 para a realização de melhorias mínimas na via, é uma possibilidade real.

COM R$ 3,5 BILHÕES METRÔ DO RECIFE PODERIA SER REESTRUTURADO

Para evitar essa catástrofe e manter o sistema como um serviço público, seria necessário um investimento inicial de R$ 3,5 bilhões para sua reestruturação completa, além de um custeio anual de R$ 200 milhões a R$ 250 milhões.

GUGA MATOS/JC IMAGEM
Embora a CBTU tenha minimizado o princípio de incêndio em um dos vagões da Linha Centro, o Metrô do Recife tem acumulado problemas decorrentes da falta de investimentos e até mesmo de recursos para custeio (despesas básicas de operação) - GUGA MATOS/JC IMAGEM

Essa é a estimativa unânime da gestão da CBTU no Recife e dos próprios metroviários, que defendem a manutenção do metrô sob controle estatal. "A situação é muito crítica e preocupante. Independentemente da decisão de conceder a operação à iniciativa privada ou não, precisamos começar a fazer investimentos no sistema", enfatizou Marcela Campos, no debate.

Luiz Soares, do SindMetro, reforçou que "reerguer o metrô é um processo que levará de cinco a sete anos" devido às complexidades da operação. Para os metroviários, a solução passa por um metrô público, com tarifa social de R$ 2, focado no atendimento à população que mais precisa.

OS NÚMEROS POR TRÁS DA MANUTENÇÃO PÚBLICA

Os R$ 3,5 bilhões estimados para a reestruturação do sistema seriam aplicados na recuperação de quatro pilares essenciais: via permanente, rede aérea, frota e edificações. Esse valor, inclusive, é similar ao projetado no primeiro estudo de concessão do metrô realizado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e teria sido reafirmado na revisão deste estudo, que está sendo conduzida com recursos do Novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).

Além desse investimento inicial, a garantia de repasses integrais para o custeio anual, estimado entre R$ 200 milhões e R$ 250 milhões, é fundamental, juntamente com investimentos periódicos para melhorias e expansão da rede. Atualmente, o Metrô do Recife recebe apenas 25% da quantia necessária para operar bem diariamente.

Os gestores e metroviários comparam a necessidade do metrô com o subsídio anual de R$ 300 milhões que o governo de Pernambuco destina ao sistema de ônibus da Região Metropolitana. Eles defendem que o transporte metroviário oferece ganhos sociais e urbanos inestimáveis, como a redução de congestionamentos, a promoção da sustentabilidade e um deslocamento rápido para a população.

CONCESSÃO PÚBLICA DO METRÔ DO RECIFE FOI AUTORIZADA PELO GOVERNO FEDERAL

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Metrô do Recife segue sem investimentos e indefinição sobre o processo de privatização iniciado no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro - GUGA MATOS/JC IMAGEM

Uma resolução fundamental para o processo de transformar a operação pública em privada do Metrô do Recife foi publicada pelo Ministério da Casa Civil, autorizando a concessão pública do sistema metropolitano de trens urbanos do Grande Recife.

Foi mais uma etapa do processo de privatização, que será coordenado pelo governo de Pernambuco depois que o metrô deixar de ter a gestão federal. A medida, estabelecida pela Resolução do Conselho do Programa de Parcerias e Investimentos (CPPI) Nº 324, de 25 de março de 2025, abre caminho para a transferência de ativos e a privatização da gestão, operação e manutenção da rede metroferroviária da Região Metropolitana do Recife. 

A resolução, assinada pelo Ministro da Casa Civil e presidente do CPPI, Rui Costa, define que o processo de transferência dos ativos da Superintendência Regional do Recife (STU-REC) da Companhia Brasileira de Trens Urbanos S.A (CBTU) será realizado em modalidades previstas na Lei nº 9.491, de 09 de setembro de 1997, associada à outorga da concessão do serviço público.

E que o BNDES será o responsável por conduzir o processo de licitação da concessão, por meio de um procedimento licitatório único.

LEILÃO DO METRÔ DO RECIFE ACONTECERIA EM 2026 E NOVA OPERAÇÃO A PARTIR DE 2027

A praticamente certa concessão pública do Metrô do Recife já tem datas definidas para acontecer, segundo cronograma oficial do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ao qual a Coluna Mobilidade teve acesso. O leilão do sistema aconteceria no fim de 2026 e a nova operação privada começaria em 2027.

O cronograma faz parte do projeto de desestatização da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) e de concessão do serviço de transporte ferroviário urbano de passageiros na Região Metropolitana do Recife (PE), desenvolvido pelo BNDES.

Os prazos que constam no hub de projetos do banco prevêem que os estudos técnicos seriam finalizados no terceiro trimestre de 2025 (julho a setembro), período também previsto para a realização de consulta pública. Em seguida, entre janeiro e junho de 2026, aconteceria a aprovação da proposta pelos órgãos de controle - no caso o Tribunal de Contas da União (TCU) e do Tribunal de Contas do Estado (TCE-PE) - e, ainda, o lançamento do edital.

O novo contrato de operação do Metrô do Recife começaria, oficialmente e segundo esse cronograma, no primeiro trimestre de 2027, ou seja, até o mês de março. Também de acordo com o documento, o investimento estimado no futuro contrato seria de R$ 2.133,4 milhões (US$ 414,3 milhões).

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