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Hamas rejeita se desarmar e prepara ocupação de áreas cedidas por Israel

No sábado, mais de 500 mil pessoas já haviam retornado à Cidade de Gaza desde sexta-feira, após o anúncio do acordo de cessar-fogo

Por Estadão Conteúdo Publicado em 12/10/2025 às 9:36 | Atualizado em 12/10/2025 às 9:44

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Após fechar o acordo sobre a primeira fase do cessar-fogo com Israel, o Hamas convocou neste sábado, 11, 7 mil militantes para reassumir o controle de áreas de Gaza desocupadas pelos israelenses. Um líder do movimento islamista palestino, em entrevista à France Presse, disse que o desarmamento do grupo está "fora de discussão". As duas posições, no segundo dia de trégua, podem complicar a implementação das próximas etapas do plano de paz de Donald Trump.

"A proposta de entregar as armas está fora de discussão e não é negociável", disse o alto funcionário, sob condição de anonimato. Segundo o presidente americano, o desarmamento do Hamas seria abordado na segunda fase do plano, que prevê, além da desmilitarização do grupo terrorista, sua exclusão de qua Agência Estado lquer governo futuro do território.

Em entrevista ao Estadão, na semana passada, Michael Milshtein, chefe do Fórum de Estudos Palestinos do Centro Moshe Dayan, da Universidade de Tel-Aviv, já tinha descartado tal possibilidade. "O Hamas diz que Deus está com aqueles que são pacientes. Eles sabem que agora é um momento de contenção, mas vão voltar no futuro", afirmou.

REUNIÃO

Jehad Alshrafi / ESTADÃO CONTEÚDO
Acordo de cessar-fogo entre Israel e o grupo terrorista Hamas na Faixa de Gaza entrou em vigor na sexta-feira (10) - Jehad Alshrafi / ESTADÃO CONTEÚDO

De acordo com a rede britânica BBC, o Hamas nomeou cinco novos governadores para as regiões desocupadas, todos com experiência militar, alguns dos quais comandaram brigadas de seu braço armado, para supervisionar as operações.

A ordem teria sido emitida por meio de telefonemas e mensagens de texto, que convocavam "uma mobilização geral" para "limpar Gaza de foras da lei e colaboradores de Israel". Os militantes deveriam se apresentar entre sábado e domingo.

Na quinta-feira, após aprovar o plano de cessar-fogo, o premiê de Israel, Binyamin Netanyahu, afirmou que não faria concessões sobre o desarmamento do Hamas e a desmilitarização de Gaza. "Se isso for alcançado da maneira fácil, melhor. Caso contrário, será feito da maneira difícil", disse.

FUTURO

YOUSEF AL ZANOUN/ASSOCIATED PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
Milhares começaram a voltar ao território da Faixa de Gaza - YOUSEF AL ZANOUN/ASSOCIATED PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Na sexta-feira, Trump ainda demonstrou otimismo com o plano e disse que, "na maior parte", há consenso sobre as próximas etapas, mas admitiu que "alguns detalhes ainda precisam ser resolvidos". Ele deve discutir o assunto na cúpula de amanhã em Sharm el-Sheikh, no Egito, com o presidente da França, Emmanuel Macron, os premiês de Espanha, Pedro Sánchez, e Itália, Giorgia Meloni, e o chanceler alemão, Friedrich Merz - além de representantes e diplomatas de países árabes e islâmicos.

O chefe do Comando Central dos EUA (Centcom) afirmou no sábado que visitou Gaza para discutir a estabilização pós-guerra e insistiu que nenhum soldado americano pisará no território palestino. O almirante Brad Cooper disse que o objetivo é "apoiar a estabilização do conflito". Steve Witkoff, enviado de Trump ao Oriente Médio, e Jared Kushner, genro do presidente, também estiveram na comitiva do almirante.

Parte dos 200 soldados americanos já chegaram a Israel para ajudar no recebimento dos reféns e monitorar o cessar-fogo. Os militares dos EUA coordenarão uma força-tarefa multinacional que incluirá tropas de Egito, Catar, Turquia e Emirados Árabes.

Enquanto isso, Israel seguiu neste sábado normalmente o cronograma do plano de Trump e começou a transferir prisioneiros palestinos para duas prisões, antes de trocá-los pelos reféns. A informação foi confirmada pelo serviço penitenciário israelense. A expectativa é que 2 mil palestinos sejam trocados por 20 reféns vivos e pelos corpos de 28 israelenses.

RETORNO

No sábado, mais de 500 mil pessoas já haviam retornado à Cidade de Gaza desde sexta-feira, após o anúncio do acordo de cessar-fogo. O número foi informado por Mahmoud Basal, porta-voz da agência de ajuda humanitária, que opera sob a autoridade do Hamas.

O exército israelense alertou, no entanto, que algumas áreas no norte do território palestino ainda permanecem "extremamente perigosas" para a população civil. A agência de defesa civil de Gaza disse que recuperou dos escombros 150 corpos desde que o cessar-fogo entrou em vigor - 9,5 mil palestinos ainda estão desaparecidos.

IMPRENSA

Aproveitando o fim das hostilidades, correspondentes internacionais em Israel pediram neste sábado que os repórteres tenham acesso imediato a Gaza, juntando-se a uma longa lista de organizações de imprensa que exigem entrar no território devastado.

Em comunicado, a Associação de Imprensa Estrangeira (FPA) pediu que Israel "abra imediatamente as fronteiras e permita o acesso livre e independente da mídia internacional à Faixa de Gaza, agora que as hostilidades se encerraram". (Com agências internacionais).

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