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Ivanildo Sampaio: Uma oração pela paz

Uma paz pelo menos temporária, já que o primeiro ministro israelense não aceita a criação de um país para o povo palestino

Por IVANILDO SAMPAIO Publicado em 12/10/2025 às 6:19

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Depois da morte de 67 mil palestinos, segundo os números oficiais, as tropas israelenses, finalmente, pararam de bombardear a Cidade de Gaza, suspendendo a chacina que se estendeu por dois anos, igualando, em violência, o Exército de Netanyahu aos criminosos do Hamas. Uma paz pelo menos temporária, já que o primeiro ministro israelense não aceita a criação de um país para o povo palestino – assim como as Nações árabes não aceitaram, no passado, a partilha da Palestina para a criação do Estado de Israel. Numa Assembleia Geral da ONU, em 1947, a Resolução 181, tornou realidade esse novo País. Assembleia esta presidida pelo brasileiro Oswaldo Aranha, que contrariando orientação do Governo de seu país, recomendando o voto em branco, bateu o martelo definindo a criação da nova nação. E os judeus do mundo inteiro ganham uma Pátria para chamar de sua.

Não se pode negar que, ao longo de sua curta história como País, soberano e independente, Israel teve no comandando nomes de grandes estadistas, desde o lendário David Ben Gurion a Golda Meir, passando por Levi Eshkol, Ygal Allon e Itzhaque Rabin, entre outros, que ajudaram a consolidar Israel como nação independente. A ser a única democracia do Oriente Médio, povoado de ditadores. No entanto, o atual primeiro-ministro, que alguns países acusam de cometer crimes de guerra, além de belicoso e carniceiro, só se sustenta no cargo graças ao apoio da extrema direita israelense, além de ser acusado por crimes de corrupção, em processo que pede seu afastamento do cargo.

Processo esse que foi interrompido exatamente quando o Hamas invadiu as fronteiras de Israel, matou e sequestrou inocentes – oferecendo, temporariamente, a oportunidade que Netanyahu precisava para se esconder da Justiça e postergar o processo de seu afastamento. Ninguém, com senso de justiça, pode esquecer e perdoar o Hamas pelos crimes cometidos na sua ação de outubro de 2005, com a morte de mais de 1.200 pessoas inocentes, incluindo-se aí mulheres e crianças, além do sequestro de cerca de 300 outras, mantidas como reféns. Muitas dessas vítimas morreram no cativeiro.

Mas, não justifica, igualmente, a violência de Israel com bombardeios indiscriminados, matando mulheres, crianças, idosos e famílias inteiras, que nunca tiveram qualquer relação com o grupo terrorista. Muitas vezes, esses bombardeios, conscientemente, tiveram escolas e hospitais como alvos – com a morte de dezenas de pessoas e a desculpa de que ali se escondiam lideranças do Hamas.

São fatos jamais comprovados, e acusações de que essas informações não eram verdadeiras. Jornalistas também foram alvos dos tanques israelenses, “coincidentemente” por trabalharem para veículos de comunicação de países árabes, como a “El Jazira”, por exemplo.

Hitler, na sua insanidade, pregava o extermínio do povo judeu. Netanyahu parece pregar o extermínio do povo palestino. Se um crime pudesse justificar outro, vale lembrar que Israel, na luta pela sua criação como país independente, também teve seus “grupos terroristas”, posteriormente louvados como heróis. Numa das suas ações criminosas, explodiram as instalações do Hotel Rei David, em Jerusalém, provocando a morte de 91 pessoas inocentes. Ataque esse organizado por Menachen Begin, que mais tarde viria a ser primeiro-ministro de Israel. Seria ele, também, um terrorista – ou um herói em defesa de uma causa?

Volto a repetir que nenhuma violência é justificável, que os crimes do Hamas não merecem perdão – mas não se pode esconder no lixo da história a extensa relação com os nomes das vítimas do ódio de Netanyhahu.

Na sua curta e conflituosa gestão, Donald Trump, presidente dos EUA, apesar de sua declarada simpatia por Israel e pela poderosíssima Comunidade Judaica nos EUA, mostrou empenho para acabar com o conflito no Oriente Médio. Segundo se falava, estava de olho no Prêmio Nobel da Paz. Não conseguiu. Mas, conseguiu, pelo menos, suspender temporariamente os bombardeios de Israel na Faixa de Gaza e a volta dos palestinos sobreviventes ao chão natal, embora destruído, arrasado, tóxico, e inabitável, carecendo ser totalmente reconstruído. Pergunta-se: quem bancará essa reconstrução? Quem trará de volta os hospitais, as creches, as escolas, os asilos de idosos e toda uma relação de serviços e de bens comuns que os bombardeios israelenses destruíram?

Quem vai sepultar os milhares de corpos soterrados nas ruinas dos prédios, residências, e barracos destruídos na cidade de Gaza? - Todas as pessoas de bem e de senso humanitário serão sempre contrárias à violência e às guerras – onde quer que se situem e porque permanecem. Agora, surge um pouco de esperança no horizonte. E um vento de paz no Oriente Médio. Espera-se também que essa brisa buscada e agora consentida cubra também o chão ucraniano, onde os ataques comandados pela Rússia continuam assassinando inocentes, sob o silêncio consentido e acovardado dos países do Ocidente, que muito pouco tem feito para evitá-los.

Ivanildo Sampaio é jornalista

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