Cessar-fogo em Gaza
Acordo entre o governo israelense e o grupo terrorista começa a vigorar, sob a expectativa do retorno dos reféns israelenses e da ajuda humanitária

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Depois de mais de 60 mil mortes, destruição e sofrimento em dois anos, o conflito entre Israel e o Hamas que resultou na transformação de Gaza em escombros sobre cadáveres, pode estar chegando ao fim – ou a uma pausa em que se tenha condições de discutir a paz na região. Segundo informações da imprensa israelense, o Hamas prometeu para este sábado o início da distribuição de suprimentos, inclusive gás e combustíveis, além de remédios e comida para uma população doente e faminta. A expectativa é grande, assim como o medo de que algo saia do controle, diante do grau de desabastecimento e desespero entre os palestinos.
O cessar-fogo anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e confirmado pelas partes, começou na sexta-feira, quando as pessoas tiveram permissão e segurança para voltar ao norte de Gaza. Enquanto isso, as tropas israelenses bateram em retirada, sendo postadas em locais de espera, no aguardo dos reféns que também foram prometidos pelo Hamas. Os reféns devem ser trocados por prisioneiros palestinos em poder do governo de Benjamin Netanyahu, a partir da próxima segunda-feira. O povo israelense e o povo palestino comemoram a interrupção, mas a consumação do acordo nos próximos dias é que vai levar, enfim, alívio para as populações. O temor de que o ódio volte no campo minado das desconfianças mútuas, infelizmente, ainda é grande.
O acordo pode ser oficialmente celebrado com a presença de Donald Trump em um encontro no Egito, a convite do presidente Abdel Fattah al-Sisi, que já toma o cessar-fogo como favas contadas. O nível de destruição da Faixa de Gaza, de fato, sugere a exposição do Hamas a uma vulnerabilidade cujo reconhecimento implica na necessidade de negociação. Do outro lado, mesmo com o desequilíbrio imenso de força a seu favor desde os primeiros dias de revide, Netanyahu é pressionado dentro e fora de Israel pelo massacre aos palestinos – e pelo relativo insucesso no resgate dos reféns em poder dos terroristas até agora. A suspensão da guerra após tanta exposição configura ao menos, para Netanyahu, a concessão de uma chance para a saída dos reféns.
O problema vem depois disso, já que não se tem como prever a atitude do primeiro-ministro israelense com o retorno dos reféns e a permanência do Hamas em Gaza – lembrando a obstinada caça aos terroristas, que foi anunciada diversas vezes que apenas seria concluída com o aniquilamento do grupo. Assim como o comportamento dos palestinos traumatizados pelo luto e pelas ruínas, assustados com a morte zunindo sobre suas cabeças durante dias intermináveis. A reconstrução do que veio abaixo certamente não será suficiente para apaziguar os ânimos de lado a lado. A definição de algo semelhante a um governo em Gaza terá que conter a participação de outros países – o que também abre interrogações acerca da posição de Israel.
Tomara que a paz vença as dúvidas.