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Mobilidade urbana: Carro domina, mas quase 18% dos brasileiros vão a pé para o trabalho, segundo o Censo 2022

Chama atenção o alto número de deslocamentos a pé, feitos por 12,4 milhões de pessoas (17,8%), e por bicicleta, realizados por 4,4 milhões (6,2%)

Por Roberta Soares Publicado em 09/10/2025 às 15:02 | Atualizado em 09/10/2025 às 15:18

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Os resultados preliminares do Censo Demográfico 2022, divulgados nesta quinta-feira (9/10) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), evidenciaram que o Brasil segue sendo, cada vez mais, rodoviarista e dependente do transporte individual. Isso porque o levantamento mostrou que o automóvel é o meio de transporte mais utilizado no deslocamento para o trabalho pela população brasileira.

Contudo, os dados revelam um padrão significativo de uso de modos não motorizados, com milhões de brasileiros contando com a força da locomoção a pé e da bicicleta. Os deslocamentos a pé são realizados por 12,4 milhões de pessoas, representando 17,8% do total da população. O uso da bicicleta também é significativo, sendo o meio principal de deslocamento para 4,4 milhões de pessoas, ou 6,2%. Esse contingente de usuários de transporte ativo revela um padrão de deslocamento importante da população brasileira e deve acender um alerta no poder público.

Em contraste com a alta proporção de deslocamentos ativos, o percentual de pessoas que se deslocam por meios de transporte de alta capacidade, como trem ou metrô, é baixo, atingindo apenas 1,6% dos deslocamentos (1,1 milhão de pessoas). Essa proporção é próxima à de van, perua e assemelhados (1,4%). Mesmo na Região Sudeste, onde a utilização de trem ou metrô é mais representativa em números absolutos (1,0 milhão de trabalhadores), seu uso principal é de apenas 3,3% dentro da região, repetindo a baixa expressividade nacional.

O Censo 2022 investigou o meio de transporte em que a população passa mais tempo no deslocamento casa-trabalho.

UM BRASIL AINDA PREDOMINANTEMENTE RODOVIARISTA

Marcello Casal Jr/Agência Brasil
Os deslocamentos a pé são realizados por 12,4 milhões de pessoas, representando 17,8% do total da população - Marcello Casal Jr/Agência Brasil

O predomínio do transporte individual motorizado fica evidente nos dados. O automóvel lidera, sendo o meio mais utilizado, correspondendo a 32,3% dos deslocamentos. Seguem-se o ônibus (21,4%), a pé (17,8%) e a motocicleta (16,4%). Juntos, esses quatro meios respondem por 87,9% do deslocamento para o trabalho no País.

Em números absolutos, 48,9 milhões de pessoas usam transportes motorizados, sendo 22,6 milhões no automóvel, 14,9 milhões no ônibus e 11,4 milhões na motocicleta. “Este cenário reflete o histórico do País em privilegiar rodovias para a integração das cidades e regiões, além do descompasso entre crescimento urbano e oferta de transporte público”, analisa Mauro Sergio Pinheiro, analista da pesquisa do IBGE.

DESIGUALDADES REGIONAIS IMPACTANDO NA MOBILIDADE

Josenildo Gomes/CTTU
O uso da bicicleta também é significativo, sendo o meio principal de deslocamento para 4,4 milhões de pessoas, ou 6,2%. - Josenildo Gomes/CTTU

Os padrões de deslocamento para o trabalho ilustram as desigualdades socioeconômicas e raciais do País. A maioria da população de cor ou raça branca usa principalmente o automóvel (42,9%), enquanto a população de cor ou raça preta mostra maior uso do ônibus (29,5%). A quantidade de pessoas pretas que se deslocam a pé (1,6 milhão ou 19,8%) é semelhante àquelas que usam automóvel (1,7 milhão ou 21,0%). Já entre os pardos, há proximidade entre o uso de automóvel (24,4%) e de ônibus (23,1%), assim como entre motocicleta (19,6%) e a pé (19,3%).

Regionalmente, o transporte individual motorizado predomina no Centro-Oeste (58,8%) e Sul (57,1%). Por outro lado, o Nordeste se destaca na proporção de deslocamento por transportes não motorizados (a pé ou bicicleta), com quase um terço dos trabalhadores (30,4%) optando por esses meios. Os estados com maior participação relativa de deslocamento a pé incluem Bahia (28,1%), Alagoas (25,5%) e Pernambuco (25,4%).

A RELAÇÃO ENTRE INSTRUÇÃO E TEMPO DE DESLOCAMENTO

Os dados do Censo 2022 também revelam que o nível de instrução é um fator determinante na escolha do meio de transporte. Quanto mais alto o nível de escolaridade, maior é o uso proporcional de automóvel, trem ou metrô, e táxi ou assemelhados, e menor a participação do deslocamento a pé ou por bicicleta. A maioria dos trabalhadores com nível superior completo utiliza automóvel (57,8%).

Em relação ao tempo de deslocamento, a maior parte dos trabalhadores (56,8%) gasta entre seis minutos e meia hora para chegar ao trabalho. No entanto, a análise por cor ou raça mostra desigualdade no tempo gasto: a população preta (13,9%) e parda (11,0%) apresenta maior participação relativa na faixa de mais de uma hora até duas horas de deslocamento, em comparação com a população branca (8,9%).

“As informações sobre o deslocamento das pessoas para trabalho e para estudo são consideradas fundamentais para o planejamento urbano em diferentes níveis territoriais, fornecendo indicadores para a integração funcional entre localidades e podendo contribuir para melhorar a qualidade de vida da sociedade", reforçou Mauro Sergio Pinheiro.

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