Mobilidade urbana segue precária nas capitais brasileiras em 2025, principalmente o transporte público, revela estudo da FGV
As capitais São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte apresentaram índices insatisfatórios no transporte urbano, segundo novo estudo da FGV

A Fundação Getulio Vargas (FGV) divulgou os resultados da 5ª rodada do Índice da Qualidade da Mobilidade Urbana (IQMU), fechada em abril de 2025 e realizada em três das principais capitais do País e do Sudeste brasileiro: São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. E, como já era de se esperar, a pesquisa revelou que a mobilidade urbana segue sendo um dos principais gargalos das grandes cidades, com notas médias abaixo de 5,5 numa escala de 0 a 10.
O estudo, conduzido pelo núcleo de transportes da FGV, em parceria com a Systra Brasil e com apoio do Instituto Primestar, constatou, mais uma vez, que o deslocamento nas grandes cidades ainda é um grande desafio. Principalmente quando a avaliação é sobre o transporte público coletivo. Mais de 60% da população classificou a mobilidade urbana como ruim ou regular, evidenciando que o estudo acende um alerta para gestores públicos e urbanistas.
Os dados foram coletados em entrevistas presenciais em áreas centrais das três capitais brasileiras. Foram ouvidos 2.443 cidadãos entre os dias 8 e 13 de abril, com foco nas percepções individuais sobre deslocamentos urbanos, qualidade dos modais e infraestrutura disponível. O Recife e muitas outras capitais brasileiras ficaram de fora da análise da FGV, mas a percepção da mobilidade urbana, com certeza, seria a mesma dos moradores das cidades alvo do estudo.
SÃO PAULO, MESMO COM PROBLEMAS, AINDA É A MELHOR EM MOBILIDADE URBANA
De acordo com os dados da FGV, São Paulo (SP) foi a capital com o melhor desempenho entre as três avaliadas, alcançando um IQMU de 5,4. Belo Horizonte (MG) obteve 4,8 e o Rio de Janeiro (RJ), 4,6. Embora São Paulo apresente investimentos contínuos em transporte sobre trilhos, corredores de ônibus e ciclovias, os longos tempos de deslocamento, a superlotação e o custo elevado do transporte ainda comprometem a experiência do usuário. Na cidade, o gasto com tarifa foi o item com pior avaliação, recebendo nota 3,1.
No Rio de Janeiro, os problemas são mais estruturais, segundo o estudo da FGV. A integração física e tarifária entre modais como trem, metrô, ônibus e barcas ainda é limitada, e há perda de qualidade nos serviços públicos. A lotação dos veículos, por exemplo, foi avaliada com nota 2,9 - a pior entre as três capitais. Mesmo com esforços como os sistemas de BRS (as faixas exclusivas e paradas seletivas de ônibus) e o BRT da Avenida Brasil - prometido ainda para a Copa do Mundo de 2014 e só concluído em 2024), a cidade continua enfrentando congestionamentos intensos e tendo um transporte público mal avaliado.
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A FGV apontou que Belo Horizonte, por sua vez, concentra seu transporte coletivo quase exclusivamente em ônibus, o que sobrecarrega o sistema e gera insatisfação. A cidade não possui uma rede metroferroviária significativa, o que limita as opções da população. Apesar disso, aspectos como o atendimento dos funcionários e a acessibilidade nas estações e veículos receberam boas notas, demonstrando que há pontos positivos a serem explorados.
TRANSPORTE PÚBLICO EM QUEDA, MOBILIDADE ATIVA EM DESTAQUE



O levantamento da FGV revela uma clara preferência da população por transportes alternativos ao coletivo tradicional. Modalidades como os aplicativos e os deslocamentos a pé obtiveram as melhores avaliações em termos de conforto, segurança e sinalização. Em São Paulo e Belo Horizonte, o modo "a pé" foi destaque positivo graças à qualidade das travessias e à sinalização das ruas e avenidas destacando o pedestre.
A qualidade e oferta da infraestrutura cicloviária, entretanto, continua sendo um desafio gigante para quem quer substituir o transporte motorizado pelo ativo. Em Belo Horizonte, o uso da bicicleta recebeu uma das piores notas (3,8), apontando a precariedade das ciclovias e a falta de segurança como fatores desestimulantes. O automóvel particular também teve avaliações negativas, principalmente por conta da violação de leis de trânsito e do impacto nos congestionamentos, o que reflete uma visão cada vez mais crítica sobre o uso do carro nas grandes cidades.
AVALIAÇÃO DA FGV É FEITA DESDE 2020






Diante dos resultados do IQMU, a FGV defende que os dados sejam usados como referência estratégica para a formulação de políticas públicas. “Desde sua criação, em 2020, o IQMU vem revelando um quadro persistente de insatisfação que, se não for enfrentado com prioridade, pode comprometer não apenas a qualidade de vida, mas também a sustentabilidade e a competitividade das grandes cidades brasileiras”, afirmam os autores do estudo.
Segundo a universidade, os principais caminhos para transformar o cenário atual passam por investimentos em infraestrutura, integração tarifária, ampliação de modais sustentáveis e uso de inteligência artificial na gestão de sistemas de transporte.
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O índice combina informações objetivas com a percepção dos usuários, oferecendo uma análise fiel da realidade urbana brasileira. A ferramenta também ajuda a identificar boas práticas e medir a evolução das cidades ao longo do tempo.
MAIO AMARELO - MÊS PARA DISCUTIR A VIOLÊNCIA NO TRÂNSITO
A divulgação do IQMU aconteceu durante o Maio Amarelo, movimento internacional dedicado à segurança no trânsito. Em 2025, a campanha traz o lema “Paz no trânsito começa por você”, reforçando a responsabilidade compartilhada entre cidadãos, gestores e operadores do sistema viário. Os dados do estudo reforçam a necessidade de urgência na melhoria dos transportes urbanos e da mobilidade ativa, que impactam diretamente na segurança e na saúde da população.
Confira o estudo na íntegra:
FGV Transporte IQMU_5 by Roberta Soares
Os números confirmam que a falta de estrutura adequada e de integração entre modais não apenas compromete o deslocamento, mas também coloca vidas em risco.
Principais resultados do IQMU 2025
A pesquisa, que ouviu 2.443 pessoas presencialmente, coletou dados sobre infraestrutura, segurança, conforto e acessibilidade dos diferentes modais de transporte. Veja os IQMUs das cidades:
- São Paulo: 5,4
- Belo Horizonte: 4,8
- Rio de Janeiro: 4,6
As notas refletem percepções negativas em relação à superlotação, alto custo das tarifas, ausência de integração entre modais e más condições da infraestrutura, especialmente no transporte público.
Transporte público é o mais criticado entre os modos analisados
Entre os modais avaliados — transporte público, automóvel particular, bicicleta, motocicleta, transporte por aplicativos e deslocamentos a pé — o transporte público foi amplamente criticado:
- Rio de Janeiro: nota 4,3, com destaque para problemas de lotação (nota 2,9) e tempo de viagem (nota 4,0).
- Belo Horizonte: sistema sobrecarregado por depender quase exclusivamente de ônibus, com ausência de rede metroferroviária eficaz.
- São Paulo: embora a cidade tenha os melhores índices gerais, sofre com o custo das tarifas (nota 3,1) e infraestrutura deficiente.
Recomendações e perspectivas para políticas públicas
O estudo aponta que investimentos urgentes são necessários para transformar a realidade da mobilidade urbana nas capitais brasileiras. Entre as recomendações:
1) Expansão e integração de modais de transporte coletivo (ônibus, trens e metrôs);
2) Melhoria da infraestrutura para ciclistas e pedestres;
3) Revisão tarifária e programas de incentivo ao transporte sustentável;
4) Implementação de sistemas de gestão metropolitana integrados;
5) Uso de inteligência artificial e análise de dados para tomada de decisão pública.