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Mobilidade urbana: Estudo do BNDES aponta que o Grande Recife tem potencial para nova rede de transporte público de massa de 81 km. Só falta querer fazer

Propostas sob análise qualificariam o transporte público de média e alta capacidade no Grande Recife. Mas todas seriam concessões públicas

Por Roberta Soares Publicado em 15/07/2025 às 12:59 | Atualizado em 15/07/2025 às 15:00

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A Região Metropolitana do Recife tem potencial para ampliar em 81 quilômetros a rede de transporte público coletivo de média e alta capacidade (BRTs, metrôs, VLTs e ônibus), passando dos atuais 68 km para 150 km de extensão. Só falta planejar e, principalmente, ter vontade política e administrativa de executar.

Essa ampliação de capacidade dos corredores de transporte mais eficientes, inclusive, permitiria que o número de pessoas atendidas diariamente pelos sistemas de metrô e BRTs do Grande Recife saltasse de 462,3 mil para 838,8 mil. A expansão de corredores de ônibus não está prevista, pelo menos nessa fase do estudo.

A perspectiva faz parte de uma nova etapa do Estudo Nacional de Mobilidade Urbana (ENMU), realizado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o Ministério das Cidades. Consta do Boletim Informativo nº 4 do estudo e tem uma prospecção até o ano de 2054.

O Estudo Nacional de Mobilidade Urbana (ENMU) tem analisado as possibilidades de expansão da rede de transporte de média e alta capacidade no Brasil. Somadas, as 21 maiores regiões metropolitanas (RMs) do País têm potencial para expandir as redes em 2,5 mil km em 29 anos. As chamadas Redes Futuras de transporte incluem novos trechos de metrôs, trens, veículos leves sobre trilhos (VLTs), Bus Rapid Transit (BRT) e corredores exclusivos de ônibus.

REDE FUTURA MUDARIA CENÁRIO DO TRANSPORTE NA RMR

FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM
Na capital pernambucana, indicador que mensura o percentual da população que reside no raio de até 1 km de estações de sistemas de transporte público passaria de 21,8% para 45,9% - FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM

Na Região Metropolitana do Recife, a Rede Futura poderia mais que dobrar o percentual de pessoas que vivem próximo a estações de transporte público de média e alta capacidade. O índice PNT (People Near Transit), criado pelo Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP) e que calcula a porcentagem da população a até 1 km de corredores de BRTs e trilhos, saltaria de 21,8% para 45,9%.

Isso seria possível com o aumento em 81km na rede de BRT, metrô, VLT ou monotrilho. Os trens urbanos operados a diesel pela CBTU no Grande Recife, entretanto, não possuem desempenho operacional compatível com sistemas de alta capacidade, segundo o estudo.

TRANSPORTE MAIS EFICIENTE NAS GRANDES CIDADES

Outro indicador que seria impactado é o RTR (Rapid Transit to Resident), que compara a população urbana de cidades com mais de 500 mil habitantes com a extensão das linhas de TPC-MAC. Esse indicador permite avaliar o ritmo de crescimento da infraestrutura em relação ao crescimento demográfico nas áreas urbanas. Em Recife, com a implantação da Rede Futura completa, o RTR passaria de 18 para 38.

“O investimento em corredores de transporte mais eficientes é uma política pública necessária para ampliar o acesso a oportunidades e melhorar a qualidade de vida das pessoas, especialmente das populações mais carentes. Além disso, contribui para o aumento da produtividade e a dinamização da economia nas grandes cidades. Na região metropolitana de Recife, a expansão projetada significa um acréscimo de 119% na rede base atual, com efeitos também para redução do número de acidentes e das emissões de poluentes e gases do efeito estufa, além do melhor uso do espaço público”, afirmou o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante.

RMR TEM 18 PROJETOS SOB ANÁLISE DO BNDES

ALEXANDRE GONDIM/JC IMAGEM
Expansão da rede de transporte metroviário está no pacote estudado pelo BNDES - ALEXANDRE GONDIM/JC IMAGEM

Dezoito projetos de mobilidade urbana para a RMR foram selecionados pelo BNDES para possíveis concessões públicas e financiamentos a longo prazo. No pacote, estão a criação de novas linhas de metrô, construção de corredores de VLT e de BRT, propostas apresentadas pela Prefeitura do Recife, governo de Pernambuco e pelo próprio governo federal, via Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU).

Muitos dos projetos que agora estão sob análise do BNDES são velhos conhecidos do setor de mobilidade do Grande Recife e nunca tiveram avanços no estudo da viabilidade técnica. Ou seja, são muito básicos por enquanto, o que poderá inviabilizar uma possível execução, mesmo no prazo de 30 anos projetado pelo banco como planejamento.

Também são projetos que necessitam virar concessões públicas, concedidas à iniciativa privada, para que possam receber financiamento do banco. A seleção do Grande Recife faz parte da primeira parte do estudo para possíveis financiamentos públicos de projetos de mobilidade urbana que o BNDES começou a executar, ainda em 2023, nas 21 maiores regiões metropolitanas do Brasil - a RMR entre elas.

VIABILIDADE TÉCNICA É FUNDAMENTAL PARA PROJETOS AVANÇAREM

Somente no Grande Recife, as 18 soluções de mobilidade poderiam beneficiar quase 3 milhões de pessoas, caso fossem implantadas. Em março, quando houve a divulgação dos projetos identificados nas RMRs, o departamento de mobilidade urbana do BNDES deixou deixou claro que a viabilidade técnica das propostas seria decisiva para que pudessem avançar.

E que a maioria das soluções ainda estava em fase inicial de estudo e estimativa de possíveis custos. Por isso, seriam propostas para investimentos a longo prazo.

No caso do transporte público de massa, a viabilidade técnica significa, principalmente, a demanda de passageiros prevista que justifique o modal de transporte a ser escolhido; e o traçado, considerando a ocupação do espaço urbano no percurso das linhas de transporte e o custo de solucioná-la, caso necessário.

CONCESSÃO PÚBLICA É REQUISITO PARA FINANCIAMENTO

JC IMAGEM
As chamadas Redes Futuras de transporte incluem novos trechos de metrôs, trens, veículos leves sobre trilhos (VLTs), Bus Rapid Transit (BRT) e corredores exclusivos de ônibus - JC IMAGEM

“São propostas para serem planejadas para os próximos 30 anos. Mas é preciso que haja a estruturação dos projetos, com a concessão pública à iniciativa privada. Assim, numa segunda etapa, o BNDES poderá, sim, financiar os projetos. Tudo vai depender da viabilidade técnica das propostas, que em sua maioria ainda são básicas. Agora, teremos que avançar com as gestões para aprofundar as ideias”, explicou, em março, o gerente do departamento de mobilidade urbana do BNDES, Pedro Marques.

As propostas encaminhadas ao BNDES integram o "Relatório de Redes Estruturais Planejadas", elaborado pela instituição para a construção de uma Estratégia Nacional de Mobilidade Urbana.

CONFIRA OS PROJETOS SELECIONADOS

Há pelo menos seis linhas de metrô e outras seis de VLT propostas, além de um corredor de BRT e quatro de ônibus. Entre os projetos, estão uma linha elevada de metrô, que seria implantada sobre o canal da Avenida Agamenon Magalhães, o chamado pulmão viário do Recife, porque, quando ele trava, a cidade inteira sente o impacto. A linha faria a conexão com o município de Olinda, indo até as imediações do Shopping Tacaruna.

Outro projeto proposto seria um monotrilho conectando o TI Macaxeira, na periferia da Zona Norte, e o bairro do Pina, na Zona Sul da cidade pela BR-101. E, ainda, um corredor de BRT na Avenida Norte, que sairia do Centro e chegaria ao TI Macaxeira, na BR-101.

Confira o estudo completo aqui: www.bndes.gov.br/enmu ou abaixo:

ENMU+Boletim+Informativo+4+BNDES by Roberta Soares

Veja alguns dos projetos

Linhas de Veículo Leve sobre Trilho (VLT)

1) VLT Norte-Sul

Implantação de um corredor de VLT entre os municípios de Olinda, Paulista, Abreu e Lima e Igarassu, com um traçado de 22 km. Os trechos do BRT Norte-Sul que já existem seriam integrados ao traçado.

2) Eixo Boa Viagem (Sul)

Sistema começaria no Shopping Tacaruna, na divisa entre os municípios do Recife e Olinda, e seguiria até a Estação Aeroporto do Metrô do Recife, em Boa Viagem. O trecho se conecta com a estação Joana Bezerra e pode ser integrado às linhas de BRT nas Estações Derby e Tacaruna. Esse mesmo projeto já foi planejado para o BRT Norte-Sul.

3) Linha Cabo - Suape

Sistema de VLT ligando o Cabo de Santo Agostinho ao Porto de Suape, com 12 km de extensão e cinco estações, fazendo ligação com o sistema ferroviário sul, entre as estações Nova Cabo e Massangana.

4) Linha Largo da Paz - Forte do Brum

Proposta de VLT saindo da Estação Largo da Paz, em Afogados, até o terminal marítimo localizado no Bairro do Recife. Com 5,6 km de extensão e 11 pontos de parada, se conectando à Linha Sul do metrô e com uma proposta mais turística.

5) Linha Largo da Paz – Olinda (trecho Forte do Brum-Olinda)

Seria a continuação da linha de VLT Largo da Paz – Forte do Brum, com aproximadamente 6,2 km de extensão. Atenderia o município de Olinda ao longo da Avenida Sigismundo Magalhães (Varadouro), principal eixo de ligação do município com o Recife.

6) Linha Tancredo - Werneck

Traçado foi proposto pela CBTU e será considerado inicialmente como VLT, com aproximadamente 6,2 km de extensão. Não foram apresentados detalhes sobre características físicas e operacionais.

Linhas de Metrô

1) Linha Cajueiro - Macaxeira

Sairia do Terminal da Macaxeira, na Avenida Norte, até o Terminal Integrado de Cajueiro Seco, em Jaboatão dos Guararapes, pela BR-101. Com 19,8 km de extensão, poderá ser integrada ao Terminal Integrado do Barro.

2) Linha Igarassu - Joana Bezerra

A proposta é a instalação de um metrô elevado sobre o canal da Avenida Agamenon Magalhães. Conecta a Linha Centro do metrô com as cidades de Paulista e Olinda, com 20 km de extensão.

3) Linha Cajueiro - Suape

Expansão do Metrô do Recife, a partir de requalificação e eletrificação da Linha Diesel, interligando o Complexo de Suape com as estações Rodoviária, Aeroporto e linhas Centro e Sul do Metrô. Extensão de 16 km e via dupla.

4) Linha Oeste Derby - São Lourenço

Interliga a região do Derby, no Centro do Recife, com São Lourenço da Mata. Se conectaria com a Estação Camaragibe, da linha Centro do metrô, e se sobrepõe ao traçado do Corredor de BRT Leste-Oeste, em operação desde 2014.

5) Linha Noroeste Macaxeira - Cruz Cabugá

A proposta é a interligação do Terminal Integrado da Macaxeira com uma estação nas proximidades da Avenida Cruz Cabugá, no bairro de Santo Amaro, na região central do Recife.

6) Linhas Sul Diesel Cajueiro Seco - Cone Vida

Traçado proposto pela CBTU inicialmente como continuação da Linha Sul Diesel, com aproximadamente 2,7 km de extensão. Seria uma linha elétrica.

Linhas de Monotrilho

1) Monotrilho Macaxeira - Pina

A proposta é um monotrilho, sistema de transporte sobre pneus, semelhante ao metrô, mas com um único trilho. Interligaria o Terminal Integrado da Macaxeira até o encontro da Avenida Antônio de Góis com a Rua Manoel de Brito, no bairro Pina, na Zona Sul do Recife, e, de lá, indo até o Terminal Integrado CDU. O traçado teria aproximadamente 17,49 km.

Corredores de BRT (Bus Rapid Transit)

1) Corredor Avenida Norte

Com aproximadamente 10 km, ligaria o Centro do Recife, próximo ao Forte do Brum, no Bairro do Recife, ao Terminal da Macaxeira, seguindo pela Avenida Norte. A tecnologia aprovada foi de BRT, mas poderá ser reavaliada.

Corredores de ônibus

1) Corredor BR-101

Propõe a criação de um corredor de ônibus na área urbana da BR-101, conectando o Recife com os municípios de Jaboatão dos Guararapes e Paulista, a partir dos terminais integrados de Abreu e Lima e Cajueiro Seco.

2) Corredor Arquiteto Luiz Nunes

O Corredor Arquiteto Luiz Nunes atende o Recife com uma faixa exclusiva para ônibus, num traçado de 3,3 km, paralelo à Linha Sul do metrô e à Avenida Mascarenhas de Moraes.

3) Corredor binário Antônio Falcão/Félix de Brito

Corredor de 4 km na Zona Sul do Recife, partindo de Boa Viagem, na altura das Ruas Antônio Falcão e Félix de Brito, formando um eixo perimetral de ligação entre as Avenidas Recife e Domingos Ferreira. O traçado se conectaria ao metrô na Estação Antônio Falcão.

4) Jean Emile Favre/Raimundo Diniz

Segue as mesmas características dos corredores Arquiteto Luiz Nunes e Binário Antônio Falcão/Félix de Brito como faixa exclusiva. Traçado de 3,6 km, entre as Avenidas Recife e Mascarenhas de Moraes. Também se conecta ao metrô na Estação Antônio Falcão, na Imbiribeira.

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