Conflito com Trump melhora avaliação de Lula, que tem desafio de manter recuperação
Pesquisa Genial Quaest divulgada nesta quarta-feira mostrou reprovação de Lula caindo para 53% e aprovação crescendo três pontos, chegando a 43%

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A pesquisa Genial/Quaest divulgada nesta quarta-feira (16) mostrou que a crise provocada pela taxação de 50% dos produtos brasileiros pelos Estados Unidos surtiu efeito positivo para o presidente Lula, pelo menos neste primeiro momento.
A desaprovação do petista recuou de 57% em maio para 53% em julho, enquanto a aprovação da gestão subiu três pontos, chegando a 43%. A diferença entre os dois índices, que era de 17 pontos, agora é de 10, o menor patamar desde o início do ano.
A avaliação negativa da gestão também caiu, de 43% para 40%. Apesar disso, o cenário geral ainda é de maior rejeição que aprovação, e a desconfiança persiste entre segmentos estratégicos do eleitorado.
Um dos pontos da pesquisa que mais chamou atenção foi o recorte regional, onde a região Sudeste teve queda acentuada na desaprovação: de 64% em maio para 56% em julho, acompanhada de um crescimento de oito pontos na aprovação. Esse movimento é significativamente favorável ao Planalto, considerando o peso eleitoral da região e o fato de que ali estão concentrados eleitores tradicionalmente mais céticos em relação ao PT.
A melhora coincide com a resposta dada pelo governo brasileiro ao tarifaço de Donald Trump, com propostas de reciprocidade comercial e discurso nacionalista, que parecem ter ressoado entre eleitores mais moderados. A pesquisa foi a campo entre os dias 10 e 14 de julho, ou seja, após a instalação da crise.
Contudo, os dados revelam uma recuperação parcial. A reprovação ao presidente seguiu crescendo entre dois públicos decisivos: os evangélicos e os bolsonaristas. Mesmo com o tom nacionalista e a defesa da soberania econômica, esses grupos mostraram resistência à narrativa do governo.
Entre os evangélicos, o aumento na desaprovação reforça o desafio de Lula em dialogar com uma base que se manteve fiel à oposição mesmo após o enfraquecimento político e judicial de Jair Bolsonaro.
Outro recorte que ajuda a compreender a oscilação dos números é o de renda e escolaridade. Houve queda na reprovação entre os que possuem ensino superior e entre os que recebem mais de cinco salários mínimos, segmentos que haviam migrado em peso para Bolsonaro em 2018.
Por outro lado, a percepção de que Lula governa apenas para quem votou nele continua elevada: 43% acreditam nisso, contra 40% que acham que ele governa para todos. Esse número, que se manteve estável, é preocupante para o Planalto porque indica que a polarização política continua impactando a imagem institucional do presidente.
Isso pode significar que o governo federal poderá encontrar dificuldades em aprovar reformas e propostas mais abrangentes se essa visão de governo "partidário" persistir até 2026.
Lula une lulistas e moderados
O mesmo levantamento mostrou que 79% dos brasileiros disseram temer os impactos da tarifação americana em suas vidas, reforçando o sentimento de vulnerabilidade diante do novo cenário comercial.
A decisão de Lula de reagir com reciprocidade teve apoio de 53% dos entrevistados, uma maioria simples, mas relevante. Já 39% consideraram a reação equivocada. O saldo positivo dá respaldo ao governo, mas não representa unanimidade, principalmente porque boa parte da população também responsabiliza o próprio presidente pela escalada da tensão.
Prova disso é que mais da metade (55%) dos brasileiros entende que Lula provocou o presidente Donald Trump durante a reunião dos Brics no Rio de Janeiro. Outros 26% também acreditam que a causa da retaliação foi especificamente a fala de Lula.
A percepção negativa sobre Trump, por outro lado, é quase consensual: 73% disseram que ele está errado ao taxar o Brasil sob a justificativa de perseguição a Bolsonaro, e 63% discordam de que a relação comercial entre os dois países seja injusta, como mentiu o republicano na carta.
Esse dado ajuda Lula a se posicionar como defensor do país em um momento de pressão internacional, o que pode atrair o eleitorado moderado e indeciso.
De fato, a pesquisa aponta que o episódio uniu a esquerda e os eleitores mais alinhados com Lula, ao mesmo tempo em que dividiu a direita bolsonarista. Isso é refletido nos 84% dos entrevistados que afirmaram desejar união entre políticos de governo e oposição em torno da defesa do Brasil.
Um dado revelador do impacto político desse episódio é que 44% dos brasileiros consideram que Lula e o PT estão certos na condução da crise com os EUA, contra 29% que preferem Bolsonaro e seus aliados.
Apesar disso, metade dos eleitores disse que a carta de Trump não afetará seu voto nas próximas eleições. Isso evidencia que, embora o tema tenha mobilizado a opinião pública, ainda não tem força para alterar o cenário eleitoral de forma decisiva, especialmente diante da distância de mais de um ano em relação a 2026, a menos que a crise econômica se agrave ou o governo consiga convertê-la em medidas efetivas de proteção à economia nacional.
Questionado sobre o potencial da carta de Trump em influenciar as eleições de 2026, o cientista político Maurício Garcia avaliou que o impacto é pequeno. Segundo ele, o teor da carta é pouco conhecido pela população e envolve aspectos complexos de diplomacia internacional.
A percepção positiva do governo Lula, segundo Garcia, está ligada a como os efeitos das medidas recentes serão sentidos na vida cotidiana das pessoas. “Tudo vai depender do quanto essas ações, na prática, efetivamente, serão sentidas no bolso”, analisou.
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Justiça tributária tem apoio, mas discurso 'ricos contra pobres' desgasta o governo
Outro ponto central da pesquisa Quaest foi o apoio majoritário à taxação dos mais ricos. Segundo o levantamento, 63% dos brasileiros são favoráveis ao aumento do Imposto de Renda para os mais ricos, visando reduzir o peso fiscal sobre os mais pobres.
O dado ganha relevância num momento em que o governo busca alternativas para recompor receitas sem elevar impostos para a maioria da população.
A proposta de justiça tributária é popular entre lulistas e setores de esquerda, alcançando 89% de apoio nesse grupo, mas também encontra respaldo expressivo entre eleitores sem forte identidade ideológica.
Além disso, 75% apoiam a ampliação da faixa de isenção para quem ganha até cinco salários mínimos, e 60% são favoráveis à taxação dos chamados “super-ricos”. No entanto, essa margem confortável de apoio esbarra numa armadilha retórica criada pelo próprio governo.
A pesquisa revelou que 53% dos entrevistados desaprovam o discurso do “ricos contra pobres”, adotado em alguns momentos por representantes do governo especialmente em confronto com o Congresso Nacional. Essa fatia entende que o argumento aumenta a polarização e o conflito social.
Apenas 38% disseram que esse tipo de narrativa é válida para expor os privilégios existentes. O dado reforça que o problema da proposta não está no conteúdo, mas na forma como ela é apresentada: quando aparece sob a roupagem de confronto ideológico, perde força entre os eleitores moderados e independentes, como apontou o diretor da Quaest, Felipe Nunes.
"É a escolha tática que o governo vai ter que fazer assim que retomar o assunto. Se mantiver o clima de confronto social, tende a mobilizar sua base lulista ou de esquerda, mas tende a perder o eleitor moderado de centro", afirmou Nunes.
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