Bolsonaro descarta fuga: "Estou com 70 anos de idade, cheio de problemas de saúde"
Ex-presidente nega tentativa de golpe e atribui acusação a esforço para "destruí-lo". Penas de Jair Bolsonaro podem passar de 40 anos de reclusão

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Um dia após a Procuradoria-Geral da República (PGR) solicitar a condenação de todos os réus do "núcleo crucial" da trama golpista, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), apontado como líder do grupo, afirmou que não considera deixar o Brasil para evitar uma possível prisão. Ele justificou a impossibilidade de tal medida em razão de sua idade avançada e dos problemas de saúde que tem enfrentado.
"Estou com 70 anos de idade, cheio de problemas de saúde. Como eu vou para outro país?", questionou Bolsonaro em entrevista, ao ser inquirido sobre a possibilidade de sair do País. Em abril, o ex-presidente passou pela sétima cirurgia em decorrência da facada sofrida em 2018, durante a campanha eleitoral. Ao ser indagado se considera a hipótese de ser preso, Bolsonaro respondeu que "tudo pode acontecer" e reiterou que, "solto ou preso", ele é "um problema", e que o objetivo não é prendê-lo, mas "eliminá-lo".
"O Sistema Quer Me Destruir": A Resposta de Bolsonaro e a Comparação com um "Marciano"
Nesta segunda-feira, 14 de julho, data-limite para a Procuradoria apresentar as alegações finais na ação penal do golpe, o ex-presidente já havia expressado em sua rede social X (antigo Twitter) que "o sistema" busca "destruí-lo".
"O sistema nunca quis apenas me tirar do caminho. A verdade é mais dura: querem me destruir por completo - eliminar fisicamente, como já tentaram - para que possam, enfim, alcançar você. O cidadão comum. A sua liberdade. A sua fé. A sua família. A sua forma de pensar. Sem que reste qualquer possibilidade de reação", escreveu.
Bolsonaro comparou a denúncia oferecida pela PGR a uma acusação de matar "um marciano", repetindo a frase para enfatizar a dificuldade de defesa diante de algo que considera absurdo. Ele reiterou que estava nos Estados Unidos durante os eventos de 8 de janeiro e negou ter tentado dar um golpe de Estado. "Não teve armas.
Se pegar as polícias legislativas da Câmara e Senado, nenhuma arma foi apreendida. É uma denúncia que fica difícil de se defender. É quase você se defender, por exemplo, de ter matado um marciano. Nem o corpo do marciano estava lá", disse.
Defesa de Braga Netto ataca delação de Mauro Cid: "Relato fantasioso do mentiroso delator"
O criminalista José Luís Oliveira Lima, advogado que defende o general Braga Netto, declarou nesta terça-feira que o procurador-geral da República, Paulo Gonet Branco, "preferiu o relato fantasioso do mentiroso delator Mauro Cid".
Oliveira Lima criticou veementemente o teor das alegações finais da ação do golpe entregues ao Supremo Tribunal Federal, afirmando que a PGR ignorou "os esclarecimentos precisos e claros do general Braga Netto".
Braga Netto, que está preso desde dezembro de 2024, foi ministro-chefe da Casa Civil e da Defesa no governo Bolsonaro. O general é um dos oito réus do denominado "núcleo crucial" da trama golpista, sendo o ex-presidente Jair Bolsonaro apontado como o líder do plano que visava mantê-lo à força no poder.
Contradições e ausência de provas: A tese da defesa
"Existem documentos nos autos provando que Mauro Cid mentiu sobre o que ocorreu no encontro na residência do general", sustenta Oliveira Lima, referindo-se a uma reunião onde, segundo o delator, o tema central foi o golpe.
O advogado detalha a suposta contradição: "O delator disse que foi falado sobre atos golpistas nesse encontro após ele ter saído, para assessorar o então presidente em uma reunião virtual. Mas está provado nos autos que a tal reunião virtual havia ocorrido às 15h e Mauro Cid somente chegou na residência do general Braga Netto com outros dois militares por volta das 16h."
Nas alegações finais, a Procuradoria atribui a Braga Netto os mesmos cinco crimes imputados a Bolsonaro: tentativa de abolição violenta do Estado democrático de direito, golpe de Estado, organização criminosa armada, dano qualificado pela violência e grave ameaça contra patrimônio da União e deterioração de patrimônio tombado, cujas penas máximas, somadas, podem chegar a 43 anos de reclusão.
A PGR reafirmou que o general Braga Netto atuou de forma "incisiva para garantir o êxito da empreitada golpista, coordenando as ações mais violentas da organização criminosa e capitaneando iniciativas para pressionar o Alto Comando do Exército".
Além disso, a Procuradoria alega que Braga Netto monitorou autoridades consideradas "adversárias políticas" do governo, como o ministro Alexandre de Moraes, relator da ação penal contra os oito réus do suposto núcleo crucial do golpe.
O defensor de Braga Netto considera que a delação de Mauro Cid não se sustenta. Por insistência da defesa, o ministro Alexandre de Moraes chegou a determinar uma acareação entre o delator e o general.
"Além das mentiras, durante a acareação, o próprio delator deixou claro que não tem absolutamente nenhuma prova de que, após esse encontro, o general teria supostamente lhe entregado dinheiro para financiar qualquer plano ilícito", protesta Oliveira Lima.
Segundo o advogado, "não por acaso, as alegações da PGR não apresentam uma única prova que sustente essas acusações". O criminalista finaliza, enfatizando: "Interessante também que a PGR simplesmente não contesta ou refuta as nossas afirmações sobre as mentiras e inconsistências nas falas de Mauro Cid. Ao contrário, assume que o delator não colaborou efetivamente."