Senai Park inicia operação em Suape com promessa de acelerar a indústria do futuro em Pernambuco
Parque tecnológico abriga projetos de diferentes segmentos, já tem R$ 100 milhões em investimentos e está captando mais R$ 200 milhões

Clique aqui e escute a matéria
O Complexo Industrial Portuário de Suape, em Ipojuca, na Região Metropolitana do Recife, passa a abrigar a partir desta segunda-feira (20) um dos mais ousados projetos de inovação industrial do país: o Senai Park.
O empreendimento foi projetado para reunir empresas de vários setores produtivos em um ambiente compartilhado, com infraestrutura modular para desenvolvimento de plantas-piloto, testes de processos e validação de soluções antes da adoção em escala industrial.
Na última sexta-feira (17), jornalistas convidados, incluindo o Jornal do Commercio, visitaram as instalações em primeira mão.
O Senai Park foi concebido com caráter modular: um grande galpão abriga módulos adaptáveis a projetos distintos, possibilitando que cada empresa tenha seu espaço definido para desenvolver e testar tecnologias em condições semelhantes às da produção em escala, mas em dimensões reduzidas.
Essas plantas-piloto permitirão avaliar a viabilidade técnica, econômica e financeira das soluções testadas, inclusive com a possibilidade de “tropicalização” de tecnologias inteiramente importadas para que possam ser fabricadas no Brasil.
Cada iniciativa alocada no parque exige implementações específicas de infraestrutura e utilidades, com cronogramas próprios. Por isso, a concepção modular facilita alterações e ampliações conforme evolução dos projetos, num ambiente descrito pelos técnicos do Senai-PE como “vivo”, capaz de incorporar novas demandas tecnológicas e cadeias produtivas com rapidez relativa.
Camila Barreto, diretora regional do Senai-PE, sintetizou a finalidade prática do espaço: “A gente vai produzir em escala industrial, de fato, mas reduzida, para poder testar a viabilidade econômica e financeira e entender quanto custou, se é viável ou não. E saber como tropicalizar tecnologias 100% importadas. Como a gente abre ela e tropicaliza para ser produzida aqui? E para quê? Para que a gente tenha indústrias do futuro. A gente quer embarcar projetos que serão novas plantas de produção industrial do futuro. Essa é a ideia. Vamos testar aqui para depois levar para a vida real".
Essa visão é compartilhada por Gerente de Inovação e Tecnologia do Sebrae -PE, Phillip Mendonça, que afirmou à Rádio Jornal, na última quinta-feira (16), que o parque produzirá novos negócios de alto valor agregado.
Projetos de diferentes segmentos integram operação
Atualmente, duas iniciativas já estão em execução no Senai Park, envolvendo 15 empresas e movimentando, juntas, R$ 100 milhões em investimentos.
Um dos projetos desenvolve um protótipo nacional de bateria de lítio de baixa tensão (12V/48V) para veículos híbridos, liderado por empresas como Moura, Stellantis, Volkswagen, Iochpe Maxion e Horse.
A linha de produção das baterias deve chegar ao Brasil entre dezembro e janeiro. A expectativa é que a estrutura entre em operação no primeiro trimestre do próximo ano, e avance para a fase de integração digital, aplicando tecnologias como digital twin para monitoramento e otimização da linha produtiva.
Outro projeto em execução no parque tem foco na digitalização da cadeia de produção do hidrogênio sustentável, reunindo empresas como Neuman & Esser, Siemens, White Martins, Hytron, Compesa e CTG Brasil.
Atualmente, a produção é de 100 kw por hora, resultando em 30 kg de hidrogênio verde por dia. Essa quantidade é capaz de abastecer quatro veículos fazendo percurso de ida e volta de Suape para Recife.



Além do setor energético, um dos projetos em fase final de avaliação prevê o desenvolvimento do Sistema Avançado de Assistência ao Motorista (ADAS), com aplicação inicial no sistema automático de frenagem de emergência (AEBS), tecnologia que auxilia veículos em rampas, impedindo o recuo automático, e que será obrigatório no Brasil a partir de 2028.
O projeto, com investimento de R$ 44 milhões, reúne Volkswagen, Tron, TE Connectivity, Stellantis, Honda, Mercedes e Hyundai.
Com a lógica de multissetorialidade, o Senai Park também está estruturando uma linha específica para o desenvolvimento de aeronaves não tripuladas (drones) customizadas para missões industriais e de monitoramento.
Os projetos em avaliação envolvem soluções para inspeção de dutos de combustíveis, exigindo aeronaves com maior autonomia de voo e inteligência embarcada. A depender da maturidade das demandas, o Senai não descarta a instalação de uma planta-piloto dedicada à fabricação de drones industriais dentro do parque.
Além dos recursos já aportados, o Senai Park está em processo de captação de mais R$ 200 milhões, ampliando a carteira de projetos para novos segmentos industriais.
Indústrias do futuro
A visão apresentada por Oziel Alves, diretor de Inovação e Tecnologia do Senai-PE, parte da concepção de que a chamada indústria do futuro deve reunir alta capacidade produtiva, flexibilidade e aplicação intensiva de tecnologias digitais para garantir competitividade.
Segundo ele, isso só será possível com a criação de uma plataforma industrial colaborativa que una atores estratégicos do ecossistema de inovação, como universidades, institutos de ciência e tecnologia, startups e empresas de base tecnológica, em um ambiente capaz de transformar protótipos em soluções tecnológicas aplicáveis ao mercado.
O diretor defende que esse movimento passa pela consolidação de um parque tecnológico dedicado à inovação industrial, com a integração de competências já existentes no estado e a conexão com novas cadeias produtivas.
Ele diz que o papel do Senai Park é justamente acelerar esse processo, desenvolvendo tecnologias, testando-as em ambiente real e transferindo os resultados para a indústria com foco em aplicação prática.
"Esse é o grande propósito do parque, desenvolver novas tecnologias, colocar essas tecnologias no mercado e levar para um cenário real, industrial para que possamos efetivamente mostrar essas tecnologias em operação para viabilizar esse ambiente".
Na avaliação de Bruno Veloso, presidente da Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco (Fiepe), o Senai exerce um papel estratégico ao impulsionar o desenvolvimento tecnológico no Brasil, funcionando como uma rede nacional de pesquisa aplicada à indústria.
Ele acredita que o ambiente instalado no Complexo Industrial de Suape, com a presença de dezenas de empresas e uma cadeia produtiva diversificada, cria condições ideais para a integração entre inovação e setor produtivo, permitindo que soluções tecnológicas sejam desenvolvidas em sintonia com as demandas reais do mercado.
O dirigente ressalta que o qual o Senai atua como articulador entre diferentes segmentos, promovendo sinergia e complementariedade entre as empresas. Para ele, esse ecossistema integrado é essencial para acelerar a adoção de novas tecnologias e fortalecer a competitividade industrial de Pernambuco.
"O Senai é na realidade um grande pesquisador de tecnologia que nós temos no Brasil. E temos uma potencialidade aqui no Complexo de Suape, noventa indústrias aqui instaladas, essa quantidade de colaboradores, é um ambiente perfeito para nós estarmos aqui fazendo desenvolvimento e ainda, ao nosso redor, nós temos uma diversidade muito grande de indústrias para que nós possamos ter essa conexão com elas e fazer um trabalho em conjunto de complementariedade", disse.
Armando Monteiro Bisneto, presidente do Complexo Industrial Portuário de Suape, enxerga que o papel estratégico do porto vai além da logística tradicional e se estende à articulação de um ecossistema de inovação conectado à indústria.
Ele defende que a integração entre infraestrutura portuária, centros de pesquisa, tecnologia e educação é fundamental para criar um ambiente propício ao empreendedorismo tecnológico, permitindo que o conhecimento gerado seja efetivamente transferido para o setor produtivo.
"Você conecta ambientes que possam promover pesquisa aplicada, inovação, tecnologia, educação, conectar o empreendedorismo tecnológico, ambientes de transferência de tecnologia para a indústria. Com tudo isso, agregar uma lógica de desenvolver cadeias industriais estratégicas com alta densidade de produtos tecnológicos, que têm como principal objetivo agregar conhecimento, tecnologia para ter não só produtos que são commodity, ter produtos de alto valor agregado", avaliou.