Plano federal prevê trem de passageiros entre Recife e João Pessoa no PNL 2050
Trecho entre capitais será o primeiro da rede ferroviária nordestina projetada pelo governo federal, com participação privada. Custo da obra é alto

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O governo federal incluiu, no Plano Nacional de Logística (PNL) 2050, o projeto de um trem de passageiros e cargas entre João Pessoa e Recife — um antigo desejo regional que volta à pauta em meio à discussão sobre a modernização da infraestrutura brasileira.
O tema foi discutido nesta quinta-feira (16), no programa Passando a Limpo, da Rádio Jornal, comandado por Igor Maciel, com a participação do presidente da Federação das Empresas de Transporte de Cargas e Logística do Nordeste (Fetranslog-NE), Arlan Rodrigues. O dirigente havia participado, na última terça (14), do evento Logística no Brasil, em Fortaleza, promovido pelo Valor Econômico, em parceria com o Ministério dos Transportes e a Infra S.A., estatal responsável pela elaboração do plano.
“O trecho João Pessoa–Recife foi incluído no plano por conta de uma demanda já identificada e também por ser o menor entre as capitais do Nordeste. Essa intervenção estará efetivamente contida no PNL 2050, que será apresentado em 2026”, afirmou Arlan, durante a entrevista à Rádio Jornal.
Projeto em estudo e custo elevado
Ainda em fase de planejamento, a ferrovia deve ser executada pela iniciativa privada, por meio de concessão ou leilão. Cada quilômetro de linha férrea custa, em média, R$ 10 milhões, o que representa um investimento estimado em R$ 1,2 bilhão apenas no trecho inicial.
“Acredito, sim, que o projeto pode sair do papel, especialmente com a entrada da iniciativa privada. O processo se torna muito mais ágil do que seria se conduzido exclusivamente pelo poder público”, avaliou o presidente da Fetranslog-NE.
Rede nordestina interligando capitais
O projeto João Pessoa–Recife é apenas o ponto de partida para uma rede ferroviária ligando as principais capitais do Nordeste.
“Havendo viabilidade e execução, a proposta prevê extensões futuras ligando Maceió e Aracaju, além de poder incluir Natal. O traçado ideal abrangeria todas as capitais, criando uma rede ferroviária de passageiros e cargas interligando o Nordeste”, explicou Arlan.
Trecho Salgueiro–Suape volta à pauta
Outro destaque do PNL 2050 é a previsão de retomada da ligação ferroviária entre Salgueiro e o Porto de Suape, excluída do traçado atual da Transnordestina.
“A mudança feita pela concessionária foi muito ruim para Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Alagoas, que seriam beneficiados com ramais logísticos. O novo plano corrige isso, incluindo a obra ligando Salgueiro ao Porto de Suape, de grande impacto para a economia da região”, destacou.
Atualmente, está prevista para 2026 a entrega de 600 quilômetros da Transnordestina, conectando Eliseu Martins (PI) ao Porto do Pecém (CE). A extensão até Suape é vista como fundamental para integrar o sistema ferroviário regional.
Integração entre modais é o caminho
Mesmo representando o setor rodoviário, Arlan defende a complementaridade entre os diferentes modais de transporte — ferrovia, rodovia, porto e cabotagem.
“O avanço dos outros modais é importantíssimo, porque eles se complementam. Nenhum modal chega à porta do cliente — quem entrega é o caminhão. Por isso, defendemos a integração total entre os modais, tornando o sistema mais eficiente e as tarifas mais baratas”, afirmou.
Hoje, 67% das cargas do país são transportadas por rodovias, enquanto apenas 6% circulam por ferrovias, segundo dados do setor.
Desmonte da malha e desafios urbanos
O dirigente lembrou que o Nordeste viveu um desmonte da malha ferroviária, e grande parte das antigas linhas foi invadida, depredada ou perdida com o crescimento das cidades.
“Praticamente nada dos 750 km somados de Pernambuco e Paraíba poderia ser aproveitado. O traçado precisaria ser totalmente novo”, observou Arlan.
Ele também defendeu que o planejamento da infraestrutura leve em conta o crescimento urbano, para evitar gargalos logísticos como o da BR-101 no Grande Recife.
“O Brasil está pagando hoje um preço muito alto pela falta de diálogo entre o governo federal e os municípios. É preciso olhar o ordenamento urbano para não repetir os erros do passado”, alertou.