Presídio de Igarassu: veja detalhes das acusações contra ex-gestores, policiais penais e detentos
Justiça aceitou denúncia do MPPE contra 14 pessoas por crimes como corrupção passiva e ativa, tráfico de de drogas e organização criminosa

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A denúncia do Ministério Público de Pernambuco (MPPE) contra 14 acusados de participação no forte esquema de corrupção no Presídio de Igarassu, localizado no Grande Recife, traz novos detalhes sobre os crimes praticados com a conivência de servidores públicos.
O ex-secretário executivo de Administração Penitenciária e Ressocialização, André de Araújo Albuquerque, filmado recebendo propina na sala da diretoria do presídio, e o ex-diretor Charles Belarmino de Queiroz, apontado como um dos líderes do esquema, fazem parte da lista dos réus.
CONFIRA AS PRINCIPAIS ACUSAÇÕES CONTRA OS ACUSADOS:
1 - Charles Belarmino de Queiroz (ex-diretor do presídio)
Exerceu o cargo de diretor do Presídio de Igarassu entre 1º de abril de 2016 até o final de 2024. Segundo o MPPE, "valendo-se de sua posição de comando, autoridade funcional e conhecimento aprofundado da rotina carcerária, estabeleceu e liderou, de forma consciente e voluntária, uma organização criminosa estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas".
Charles é acusado de receber pagamentos periódicos de dinheiro cobrados de presidiários para permitir atividades ilícitas nos pavilhões e o funcionamento de comércios irregulares, como cantinas e venda de cigarros. Também teria recebido bebidas alcoólicas, relógio, anel como propina.
Diálogos entre ele e o presidiário Lyferson Barbosa da Silva, que comandava um dos pavilhões da unidade prisional, foram anexados ao inquérito. Nas conversas, há pedidos de autorização para festas, entrada de bebidas e celulares e até transferências de presos.
2 - André de Araújo Albuquerque (ex-secretário executivo de Administração Penitenciária e Ressocialização)
Teve a prisão preventiva foi determinada após vídeo encontrado no celular do ex-diretor da unidade, com data de 6 de setembro de 2024, mostrar ele recebendo maços de dinheiro e guardando numa sacola. O detento Antônio de Souza Sobrinho também aparece nas imagens.
"O contexto do recebimento da propina, somado à sua posição estratégica no topo da hierarquia da Seap/PE, revela que André não era um agente periférico ou omisso, mas peça central na manutenção institucional da engrenagem criminosa", descreveu o relatório final da Polícia Federal.
Na denúncia do MPPE consta que o ex-secretário negou, em interrogatório, ter participado do esquema de corrupção no presídio. Ele confirmou ter recebido valores de Charles, conforme as imagens, mas disse que se tratava de "presente, em razão de sua atuação religiosa, isto é, sem vinculação com sua atividade funcional".
3 - Lyferson Barbosa da Silva (detento/líder de pavilhão)
Considerado um dos líderes do esquema criminoso. Tinha contato direto, por meio de WhatsApp, com o ex-diretor Charles e com policiais penais, fazendo solicitações e transferências via PIX. Apreensão de celular dele foi fundamental na investigação.
4 - Eronildo José dos Santos (policial penal)
Policial penal lotado no Presídio de Igarassu desde 2011, ele exercia a função de chefe de disciplina e segurança.
Investigação indicou que o servidor se comunicava com Lyferson utilizando o WhatsApp. Nas mensagens, o policial ordenava procedimentos que deveriam ser tomados no pavilhão para autorizar a entrada de visitantes não cadastrados e/ou fora do horário de visitação e também falava sobre a rotina na unidade.
Em uma troca de mensagens, em 21 de agosto de 2023, Lyferson informou a Eronildo que o diretor da unidade teria autorizado a entrada de uma "falante da maçã", em referência ao celular da marca Apple. O presidiário questiona se pode deixar o aparelho com Eronildo para buscá-lo depois. O servidor concorda.
5 - Newson Motta da Costa Neto (policial penal)
Newson é apontado como um informante de Lyferson.
"Nas conversas, percebeu-se que possivelmente o policial penal colocava entorpecente para dentro do presídio em conluio com Lyferson, fazia buscas em bancos de dados para a organização criminosa que Lyferson compõe e outros delitos", descreveu a PF.
A investigação indicou que, em 21 de dezembro de 2022, possivelmente ocorreu uma entrada de droga intermediada por Newson e solicitada por Lyferson. Naquele dia, R$ 20 mil em dinheiro teriam saído do presídio por intermédio do policial penal.
6 - Cecília da Silva Santos (policial penal)
Exercia atividades no Presídio de Igarassu desde janeiro de 2022, Cecília era chamada por Lyferson de "Baixinha" e "Nega". Para a Polícia Federal, existia um relacionamento amoroso entre os dois.
"Embora algumas mensagens tenham sido apagadas, é possível inferir que os interlocutores se falam diariamente pelo aplicativo WhatsApp. Nas mensagens, enviam fotos íntimas um para o outro e trocam mensagens carinhosas", disse a PF.
Segundo a investigação, ela se utilizava da função pública para receber benefícios irregularmente e solicitava presentes de Lyferson, "além de passar informações restritas sobre outros presos".
7 - Moisés Xavier da Silva (policial penal)
Lotado no setor de enfermaria do Presídio de Igarassu, ele teria facilitado a renovação da habilitação de motorista de Lyferson. O esquema teria envolvido o valor de R$ 5 mil.
"Notadamente Moisés é mais um Policial Penal que não se opôs em conversa com um preso utilizando o aparelho livremente no presídio, fazendo, inclusive, favores para o preso", descreveu o relatório da Polícia Federal.
8 - Ernande Eduardo Freire Cavalcanti (policial penal)
Segundo investigação, ele realizava frequentemente pedidos de comidas para Lyferson. O pagamento ocorria por meio de Pix.
Mensagens também indicaram que o policial pedia dinheiro ao presidiário. Certa vez, teria solicitado duas notas de R$ 50 para abastecer o carro particular com combustível.
9 - Everton de Melo Santana (policial penal)
Mensagem de 6 de agosto de 2022 mostra que ele entrou em contato com Lyferson perguntando sobre um pedido de sushi. Polícia Federal descreveu Everton como mais um servidor público que facilita a entrada de alimentos não autorizados.
A investigação indicou que, naquele dia, Lyferson fez o pagamento da comida para o policial e toda a equipe que estava de plantão. Ele usou um celular na cela para a transferência via Pix.
Outras mensagens indicaram que, em dias de plantão do policial penal, pagamentos de comida, como hambúrguer, eram realizados para a entrada no presídio. Valores chegaram a até R$ 549 por pedido.
10 - Reginaldo Ferreira Aniceto (policial penal)
Segundo a PF, ele fazia serviços para Lyferson em troca de recompensas. Em conversa no dia 6 de maio de 2022, o presidiário solicitou que Reginaldo escolhesse um tênis.
Já em 14 de junho do mesmo ano, o servidor foi até um shopping e retornou mandando imagens do tênis escolhido.
Mensagens indicaram que o policial facilitava a entrada de pessoas não autorizadas, a pedido de Lyferson.
Em outra conversa, no dia 29 de junho de 2022, o policial autoriza a entrada de uma mulher para visitar Lyferson e entregar perfumes, camisas e uma corrente de ouro. No diálogo, o presidiário promete presentear o policial com um dos perfumes.
11 - Ednaldo José da Silva (policial penal)
Policial penal que já foi lotado no Presídio de Igarassu. Foi descrito pela Polícia Federal como um servidor com "desequilíbrio financeiro" e que chegou a pedir empréstimos a Lyferson. Em uma das conversas, solicitou R$ 3 mil.
"Na sequência da conversa entre os dois interlocutores, Edinaldo conversa com Lyferson para chamá-lo para jogar futebol e dentre outras atividades que demonstram confiança e amizade entre os dois", apontou a PF.
12 - Edilma Alves Francisco de Andrade (dentista do presídio)
Segundo o MPPE, mesmo remunerada pelo Estado para prestar assistência odontológica gratuita aos detentos do Presídio de Igarassu, ela exigia e recebia pagamentos adicionais pelos serviços.
Um diálogo mostra que Lyferson teria transferido R$ 1mil via Pix para Edilma como pagamento por um procedimento odontológico no presídio. Ao final do diálogo, ela chegou a oferecer cosméticos para ele.
13 - Edgleisson Carlos Alves dos Santos (detento/líder de pavilhão)
Investigação indica que ele mantinha interlocução direta, frequente e privilegiada com Charles, utilizando essa relação de confiança pessoal e operacional para praticar e participar ativamente de diversos crimes, atuando como peça fundamental na organização criminosa.
Seria responsável pelo repasse de quantias em dinheiro para o então diretor.
14 - Antônio de Souza Sobrinho (detento/líder de pavilhão)
Considerado um elo da então direção da unidade com os presos que lideravam os pavilhões. Aparece no vídeo do suposto pagamento de propina ao ex-secretário André.