Detentos do Presídio de Igarassu recebiam 'cardápio' de garotas de programa por WhatsApp; veja imagens
Inquérito da Polícia Federal contém troca de mensagens indicando que prostitutas iam à unidade prisional para festas com autorização da direção

Detentos do Presídio de Igarassu, alvo de investigação da Polícia Federal pelo forte esquema de corrupção, tinham acesso a um "cardápio" de imagens de garotas de programa. As investigações indicam que eles escolhiam, por meio do WhatsApp, as mulheres que iriam entrar na unidade prisional localizada no Grande Recife para participarem de festas autorizadas pela direção.
Imagens e diálogos entre presos, que fazem parte do inquérito, apontam que uma mulher - não identificada - era a responsável por gerenciar as prostitutas que iam ao presídio. Os valores também são desconhecidos, mas a suspeita é de que os pagamentos ocorriam por meio de Pix.
Os investigadores encontraram uma conversa entre o presidiário Lyferson Barbosa da Silva, um dos alvos da operação La Catedral, e outro homem identificado como "Ceará". Nela, o primeiro mostra imagens de mulheres que foram enviadas para ele e fala, em áudio de WhatsApp, que ainda falta receber fotos de loiras.
"Falta as galega, está ligado? A cafetona [sic] já está mandando aqui. Aí eu estou escolhendo. Ela mandou um ônibus aqui mas não gostei não", disse Lyferson ao colega de presídio. O diálogo é de 30 de janeiro de 2023, segundo a Polícia Federal.
"Tal diálogo denota a facilidade que o preso teria de trazer pessoas desconhecidas por ele para visitas íntimas dentro da penitenciária", descrevem os investigadores no inquérito.
A reprodução de outra conversa, de 30 de março de 2023, mostra que um detento identificado como "Fê" enviou fotos de mulheres para Lyferson. Na transcrição, ele disse que está "providenciando companheiras de luxo pra nosso fim de semana".
Lyferson escolhe uma delas e questiona: "Carvão vende aqui na cadeia né"?
Em áudio, o detento Fê responde: "Melhor nois [sic] trazer um saco, visse? Vou mandar SASSA comprar um saco de carvão e trazer, nego".
As investigações apontaram que Lyferson exercia uma forte liderança no pavilhão onde cumpria pena e que tinha contato direto com o ex-diretor da unidade, Charles Belarmino de Queiroz, e com outros policiais penais em cargos de supervisão. O contato era feito sobretudo por meio de mensagens de WhatsApp.
Lyferson é integrante de uma organização criminosa especializada no tráfico de drogas e em homicídios e também foi condenado pelo assassinato do médico cardiologista Artur Eugênio de Azevedo, de 35 anos. O crime ocorreu em Jaboatão dos Guararapes, em 2014.
A coluna não conseguiu contato com as defesas dos investigados.
Em nota, a Secretaria Estadual de Administração Penitenciária e Ressocialização declarou que "não compactua com quaisquer atos ilícitos dentro do sistema prisional de Pernambuco, nem com desvios de conduta por parte de seus servidores".
RELEMBRE A OPERAÇÃO
Na primeira fase da operação La Catedral, em 25 de fevereiro deste ano, Charles e mais sete policiais penais foram presos preventivamente. Lyferson, transferido no ano passado para a Penitenciária Federal de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, também foi alvo de mandado de prisão.
O inquérito indicou que os presos tinham acesso a drogas, bebidas alcoólicas, garotas de programa e festas. Em troca, policiais penais e o ex-diretor recebiam propinas.
No último dia 8 de abril, o ex-secretário executivo de Administração Penitenciária e Ressocialização, André de Araújo Albuquerque, também foi preso preventivamente na segunda fase da operação.
As investigações continuam para identificar outros servidores envolvidos no esquema de corrupção na unidade, que é atualmente a mais superlotada e precária de Pernambuco. Há mais de 5,6 mil presos em um espaço capaz de suportar aproximadamente 1,2 mil.
Os investigados devem responder pelos crimes de tráfico e associação para o tráfico de drogas, lavagem de dinheiro, corrupção, prevaricação, promoção ou facilitação de ingresso de aparelho telefônico em presídio e participação em organização criminosa.