INVESTIGAÇÃO | Notícia

Polícia identifica mais um 'chaveiro' no esquema de corrupção no Presídio de Igarassu

Edgleisson Carlos dos Santos seria um arrecadador de dinheiro com vendas de celas, celulares e tráfico de drogas para o ex-diretor Charles Belarmino

Por Raphael Guerra Publicado em 17/04/2025 às 13:25 | Atualizado em 17/04/2025 às 13:27

Uma nova peça do quebra-cabeça para elucidar o esquema de corrução no sistema prisional de Pernambuco foi identificada pela Polícia Federal. Trata-se do presidiário Edgleisson Carlos Alves dos Santos, o "Pula", que teria forte ligação com o ex-diretor do Presídio de Igarassu Charles Belarmino de Queiroz, preso preventivamente na primeira fase da operação La Catedral

De acordo com as investigações da Polícia Federal, Edgleisson, condenado por cerca de dez homicídios, era chaveiro de um dos pavilhões da unidade. Ele é descrito no inquérito como um arrecadador de dinheiro com vendas de celas e celulares e com o tráfico de drogas. As quantias arrecadadas seriam destinadas justamente ao ex-diretor. 

REPRODUÇÃO
Edgleisson Carlos Alves dos Santos era chaveiro do Presídio de Igarassu - REPRODUÇÃO

As celas do Presídio de Igarassu variavam de preço, a depender do "luxo", já que algumas passavam por reformas e tinham itens como TV. O aluguel poderia custar R$ 200 por semana, mas havia presos que pagavam até R$ 20 mil. Sem contar os espaços "comprados" por até R$ 80 mil, com porcelanato, - que pertenciam ao presidiário Lyferson Barbosa da Silva, um dos líderes do esquema de corrupção e que atualmente está em um presídio federal. 

Para os investigadores, Charles era o líder do esquema. Era ele quem escolhia a dedo quais detentos deveriam ocupar as funções de chaveiros e também assumirem as cantinas na unidade prisional. Os presidiários que não pagassem pelas celas eram expulsos e obrigados a dormir na "BR", corredor do pavilhão, sem colchão e, muitas vezes, até sem lençol. 

A unidade tem uma média de 5,6 mil detentos, mas com uma capacidade de aproximadamente só 1,2 mil vagas. Vistorias realizadas no ano passado comprovaram que parte expressiva dos presos dormia amontoada em um pátio ou outras áreas comuns. 

Na primeira fase da operação, em 25 de fevereiro deste ano, a Polícia Federal prendeu o ex-diretor do presídio e sete policiais penais envolvidos no esquema. Outros dois servidores foram afastados das funções. Na semana passada, o ex-secretário executivo de Administração Penitenciária e Ressocialização, André de Araújo Albuquerque, foi preso preventivamente. 

Um vídeo encontrado no celular de Charles mostrou André recebendo maços de dinheiro e colocando em uma sacola na sala da diretoria do presídio. Para a PF, se tratava de propina.

Na sala também estava o detento Antônio de Souza Sobrinho, conhecido como Sertanejo, à época chaveiro do pavilhão "F". Ele também entregou dinheiro A André, que ocupava o segundo cargo mais alto do sistema prisional pernambucano. 

Sertanejo foi recapturado em 31 de março deste ano, no município de Patos, na Paraíba. Na ocasião, foram apreendidos uma Hilux, R$ 30 mil em dinheiro e joias. A investigação indicou que ele havia conseguido a progressão do regime fechado para o semiaberto no último dia em que Charles Belarmino esteve à frente da direção do presídio.

A Polícia Federal aponta que o ex-diretor fraudou documentos com atestados de dias trabalhados para antecipar a progressão de pena do presidiário. Logo depois, Sertanejo conseguiu romper a tornozeleira eletrônica e era considerado foragido. Ele era considerado o preso mais rentável para o ex-diretor.

As defesas dos suspeitos não foram encontradas para comentar as investigações. 

Em nota, a Secretaria Estadual de Administração Penitenciária e Ressocialização declarou que "não compactua com quaisquer atos ilícitos dentro do sistema prisional de Pernambuco, nem com desvios de conduta por parte de seus servidores".

Compartilhe