Ex-gestor do sistema prisional foi filmado recebendo maços de dinheiro no Presídio de Igarassu
Vídeo mostra que André de Araújo Albuquerque recebeu quantias das mãos de um detento e guardou em sacola. Ele foi preso na terça-feira (8)

Não foram apenas mensagens encontradas nos celulares de policiais penais que levaram André de Araújo Albuquerque, ex-gestor do sistema prisional de Pernambuco, à prisão durante a segunda fase da operação La Catedral, na última terça-feira (8). Um vídeo comprovou que ele recebeu maços de dinheiro das mãos de um detento e guardou em uma sacola no Presídio de Igarassu, no Grande Recife.
Para os investigadores da Polícia Federal, as imagens reforçam que André recebia parte da propina do forte esquema de corrupção da unidade prisional, que já resultou na prisão de oito policiais penais, incluindo o ex-diretor Charles Belarmino de Queiroz - na primeira fase da operação, em 25 de fevereiro.
O vídeo, filmado em 6 de setembro de 2024, foi encontrado no celular de Charles, no dia em que ele foi preso. A Polícia Federal acredita que o ex-diretor gravou, com câmera oculta, o pagamento de propina para "produzir prova para eventual chantagem" contra André, que na época atuava como secretário executivo de Administração Penitenciária e Ressocialização - o segundo cargo mais importante da pasta estadual.
No laudo da perícia criminal federal consta a informação de que a entrega do dinheiro ocorreu durante reunião, no gabinete do ex-diretor, entre André e o detento Antônio de Souza Sobrinho, conhecido como Sertanejo, à época chaveiro do pavilhão "F" do Presídio de Igarassu. O presidiário é apontado como uma liderança na estrutura paralela de poder na unidade.
"A investigação aponta que tais valores decorrem de esquema de corrupção instalado dentro da unidade prisional, com práticas sistemáticas de cobrança de taxas para entrada de drogas, celulares, aluguel de celas e regalias a presos. Destaca-se ainda que 'Sertanejo', embora custodiado, detinha significativa autonomia e exercia papel estratégico na arrecadação e movimentação de recursos ilícitos no presídio", pontuou relatório do Ministério Público à Justiça.
André foi exonerado do cargo de secretário executivo em dezembro do ano passado, em meio ao avanço das investigações da Polícia Federal. Na gestão Raquel Lyra, André também atuou como superintendente de Segurança Prisional. Antes, comandou cargos de chefia no governo Paulo Câmara. Em 2022, chegou a assumir interinamente a Secretaria Executiva de Ressocialização, pasta que ganhou status de secretaria com a reforma administrativa no começo de 2024.
A investigação da Polícia Federal aponta que André "autorizava a transferência de presos lucrativos para o esquema de corrupção para o Presídio de Igarassu".
A prisão dele foi determinada pelo desembargador Evandro Magalhães Melo, da 2ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE), atendendo a um pedido do Ministério Público.
"Não se trata de risco abstrato ou presunção genérica, mas de fundado receio de interferência probatória, seja pela coação de testemunhas, destruição de evidências ou articulação de versões que comprometam a higidez da investigação", justificou o desembargador.
A defesa de André não foi encontrada para comentar as provas.
No esquema de corrução no Presídio de Igarassu, os ex-gestores e outros policiais penais liberavam a entrada de drogas, bebidas alcoólicas, comidas e prostitutas, além de festas frequentes. Em troca, os servidores recebiam propina em dinheiro, joias e até alimentações via delivery.
O espaço cultural do presídio era, na verdade, usado para a fabricação de drogas, que eram vendidas na unidade e em outras cidades do Estado.
O esquema foi descoberto a partir da apreensão de um celular com o presidiário Lyferson Barbosa da Silva, que exercia liderança em um dos pavilhões e que tinha contato direto, sobretudo por meio do WhatsApp, com Charles e com outros policiais penais em cargos de supervisão.
PRESIDIÁRIO FOI BENEFICIADO IRREGULARMENTE COM PROGRESSÃO DE PENA
Antônio de Souza Sobrinho, o Sertanejo, de 43 anos, personagem central na prisão do ex-secretário executivo, já era mapeado pela Polícia Federal desde o início da investigação pela influência que exercia no Presídio de Igarassu.
Sertanejo foi recapturado pela Polícia Federal, em 31 de março deste ano, no município de Patos, na Paraíba. Na ocasião, foram apreendidos uma Hilux, R$ 30 mil em dinheiro e joias. O detalhe é que ele conseguiu a progressão do regime fechado para o semiaberto no último dia em que Charles Belarmino esteve à frente da direção do presídio.
A Polícia Federal aponta que o ex-diretor fraudou documentos com atestados de dias trabalhados para antecipar a progressão de pena do presidiário. Logo depois, Sertanejo rompeu a tornozeleira eletrônica e fugiu, só sendo encontrado no final do mês passado.
A investigação indica que ele arrecada dinheiro com a venda de celas no presídio, também traficava drogas e vendia celulares - tudo sob a ordem de Charles. Era, inclusive, considerado o preso mais rentável para o ex-diretor.
Outros detentos teriam se beneficiado com a progressão de pena por meio de documentos fraudados. A investigação da Polícia Federal também avança nessa linha para identificá-los.
QUAIS CRIMES SÃO ATRIBUÍDOS AOS INVESTIGADOS NO PRESÍDIO DE IGARASSU?
Os investigados devem responder pelos crimes de:
Tráfico e associação para o tráfico de drogas;
Lavagem de dinheiro; corrupção; prevaricação;
Promoção ou facilitação de ingresso de aparelho telefônico em presídio;
Participação em organização criminosa.