Mensagens indicaram pagamento de propina a ex-secretário executivo de Administração Penitenciária de Pernambuco
André de Araújo Albuquerque, que atuou em cargos de chefia nas gestões de Paulo Câmara e Raquel Lyra, foi preso nesta terça-feira (8)

Mensagens encontradas em celulares de policiais penais presos na primeira fase da Operação La Catedral, deflagrada em 25 de fevereiro, serviram de prova para a decretação da prisão preventiva de André de Araújo Albuquerque, ex-secretário executivo da Administração Penitenciária e Ressocialização de Pernambuco. O mandado contra ele foi cumprido nesta terça-feira (8), na nova fase da operação que investiga um esquema de corrução no sistema prisional estadual.
Segundo apuração conduzida pela Polícia federal em Brasília, o ex-gestor recebia participação nos lucros obtidos por meio de esquema que favorecia detentos do Presídio de Igarassu, localizado no Grande Recife. Oito policiais penais, incluindo o ex-diretor da unidade Charles Belarmino de Queiroz, desde a primeira fase da operação.
A investigação indicou que o grupo liberava a entrada de drogas, bebidas alcoólicas, comidas e garotas de programa para festas no Presídio de Igarassu. Em troca, recebiam pagamentos em dinheiro via Pix, comidas e até joias.
Mensagens apontaram ainda que os policiais penais - incluindo gestores públicos - fraudavam documentações para antecipar a progressão de pena para presos. A quantidade de beneficiados ilegalmente ainda está sendo apurada e deve gerar processos internos para aplicação de punições aos envolvidos.
Há cerca de dez dias, um ex-presidiário do Presídio de Igarassu foi preso pela Polícia Federal na cidade de Patos, na Paraíba. A investigação indicou que ele havia recebido o benefício do regime semiaberto de forma irregular. Depois disso, cortou a tornozeleira eletrônica e fugiu.
PRISÃO DO EX-GESTOR
André de Araújo Albuquerque recebeu voz de prisão na residência onde mora, no bairro do Prado, na Zona Oeste do Recife. No local, foram apreendidos arma funcional, celulares e uma caminhonete Amarok.
Depois de ser ouvido na sede da Polícia Federal, no Recife, ele foi encaminhado para o Complexo Prisional de Itaquitinga, na Mata Norte do Estado.
Na gestão Raquel Lyra, André também atuou como superintendente de Segurança Prisional. Antes, também comandou cargos de chefia no governo Paulo Câmara. Em 2022, inclusive, chegou a assumir interinamente a Secretaria Executiva de Ressocialização, pasta que ganhou status de secretaria com a reforma administrativa no começo de 2024.
André foi exonerado do cargo de secretário executivo e Charles da direção do Presídio de Igarassu em dezembro do ano passado, em meio ao avanço das investigações da Polícia Federal. Na hierarquia, André era considerado o braço direito de Paulo Paes, titular da Seap.
Em nota, a Polícia Federal declarou que a "Operação La Catedral segue em andamento, com ações coordenadas para o completo desmantelamento das estruturas criminosas identificadas no âmbito do sistema penitenciário estadual".
"O cumprimento das ordens judiciais, que inclui prisões preventivas e busca e apreensão, tem por objetivo preservar a ordem pública, garantir a eficácia da persecução penal e impedir a obstrução da coleta de provas, considerando a posição de destaque funcional de alguns dos investigados à época dos fatos", disse o texto da PF.
A defesa do ex-gestor André de Araújo não foi encontrada.
Em nota enviada pela assessoria, a Seap declarou que "não compactua com quaisquer atos ilícitos dentro do sistema prisional de Pernambuco, nem com desvios de conduta por parte de seus servidores".
ESQUEMA DE CORRUPÇÃO NO PRESÍDIO DE IGARASSU
O esquema de corrupção foi descoberto a partir da apreensão de um celular com o presidiário Lyferson Barbosa da Silva, exercia uma forte liderança no pavilhão onde cumpria pena e que tinha contato direto com Charles e com outros policiais penais em cargos de supervisão.
O contato era feito por meio de mensagens de WhatsApp, ou seja, o presidiário tinha acesso a celulares com autorização da direção.
Preso por participação no assassinato do médico médico Artur Eugênio de Azevedo, de 35 anos - crime ocorrido em 12 de maio de 2014, em Jaboatão dos Guararapes -, Lyferson também é líder de uma organização criminosa especializada no tráfico de drogas e com forte atuação no município de Rio Formoso, no Litoral Sul de Pernambuco.
No ano passado, em meio às investigações que resultaram na operação, Lyferson foi transferido para a Penitenciária Federal de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, onde permanece cumprindo pena.
Os investigados devem responder pelos crimes de tráfico e associação para o tráfico de drogas; lavagem de dinheiro; corrupção; prevaricação; promoção ou facilitação de ingresso de aparelho telefônico em presídio; participação em organização criminosa.