Brasil volta à lista de países com menor cobertura vacinal em crianças; pacientes oncológicos são os mais expostos

Em 2024, mais de 229 mil crianças brasileiras não receberam nenhuma dose de vacina, segundo dados da OMS e do Unicef

Por Maria Letícia Menezes Publicado em 25/07/2025 às 9:42 | Atualizado em 25/07/2025 às 9:44

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O Brasil voltou a figurar entre os países com maior número de crianças não vacinadas, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Unicef divulgados neste mês de julho.

Embora o número — mais de 229 mil crianças sem nenhuma dose de vacina em 2024 — já tenha sido divulgado anteriormente, especialistas seguem preocupados com as implicações dessa baixa cobertura, especialmente para grupos vulneráveis como crianças e adolescentes em tratamento contra o câncer.

Esse público depende da vacinação em massa como forma indireta de proteção, já que muitas vacinas são contraindicadas durante o tratamento oncológico.

A fragilidade do sistema imunológico, causada por procedimentos como quimioterapia, radioterapia ou transplante de medula óssea, amplia o risco de infecções comuns que, para pacientes imunossuprimidos, podem representar uma ameaça à vida.

Sistema imunológico comprometido e proteção limitada

Durante o tratamento do câncer, vacinas que utilizam vírus vivos atenuados — como a tríplice viral — não podem ser aplicadas.

Além dos riscos sanitários, infecções como gripe e varicela podem atrasar ou suspender temporariamente o tratamento contra o câncer, prejudicando o prognóstico.

“Infelizmente, ainda há falta de conhecimento mais profundo sobre o esquema vacinal para essa população, o que pode reduzir as possibilidades de proteção desses pacientes”, afirma a oncologista pediátrica da Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica (SOBOPE), Dra. Carolina Camargo Vince.

A imunização infantil, quando bem executada, protege não apenas quem recebe a vacina, mas também aqueles que não podem ser vacinados — como os pacientes oncológicos.

Essa lógica da proteção coletiva, ou imunidade de rebanho, torna a vacinação um ato de responsabilidade social.

“No Brasil, garantir a imunização das crianças e da comunidade ao redor de pacientes oncológicos é mais do que uma medida de saúde pública — é uma ação de proteção, cuidado e solidariedade”, reforça a Dra. Carolina Camargo Vince.

Guia orienta profissionais sobre vacinação em pacientes oncológicos

Como resposta ao cenário de baixa cobertura vacinal e vulnerabilidade dos pacientes com câncer, a SOBOPE, em parceria com a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), lançou a primeira edição do Guia de Imunização para Pacientes Oncológicos Pediátricos.

Publicado em maio, o material reúne orientações práticas para oncologistas pediátricos, imunologistas, infectologistas e demais profissionais da área da saúde.

“A abordagem com quimioterapia, radioterapia, transplante de medula e novas terapias celulares impacta diretamente na imunidade do paciente, tornando-o vulnerável a uma série de infecções, muitas delas potencialmente graves e preveníveis por vacinas”, explica o vice-presidente da SOBOPE, Dr. Neviçolino Pereira de Carvalho Filho.

Assista ao videocast Saúde e Bem-Estar, do JC, sobre vacinas

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