Vacinação - quarto pilar da prevenção cardiovascular
Vacinação está entre as maiores conquistas da medicina baseada na ciência e tem prevenido a ocorrência de infecções e de morte prematura,

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Já se tem conhecimento, há muitos anos, que a gripe, causada pelo vírus influenza, pode aumentar o risco de eventos cardiovasculares adversos graves, como o infarto agudo do miocárdio (IAM), arritmias, insuficiência cardíaca e morte. Recentemente, evidências sugerem que outras infecções respiratórias, tais como, pneumonia pneumocócica, covid-19 e a causada pelo vírus sincicial respiratório, dentre outras, também estão associadas ao aumento da morbidade e mortalidade cardiovascular. Os mecanismos pelos quais as infecções aumentam os eventos cardiovasculares são complexos, abrangendo ativação do sistema imunológico, inflamação sistêmica, estados pró-trombóticos, ativação do sistema simpático e aumento da demanda miocárdica de oxigênio. No entendimento atual, o IAM geralmente resulta da ruptura de uma placa de aterosclerose localizada em uma das artérias coronárias, com a consequente formação de um trombo que pode levar à obstrução total do vaso, impedindo, por conseguinte, que a região por ele nutrida receba sangue, causando morte celular (infarto). Vale ressaltar, ainda, que um dos elementos responsáveis pelas rupturas dessas placas, são estressores externos, a exemplo das infecções acima referidas.
A vacinação constitui tópico crítico na formulação de políticas e estratégias de saúde, e tem gerado grande discussão na esfera pública, em particular desde a pandemia de covid-19, graças às ações infames de "gangues" cibernéticas, que se valem das redes sociais, para disseminar inverdades (conhecidas como fake News), com relação ao uso de imunizantes. A pandemia ressaltou as complicações cardiovasculares que podem advir de infecções respiratórias virais. Esses eventos adversos, como a insuficiência cardíaca, que afeta, aproximadamente, 64 milhões de pessoas em todo o mundo, continuam sendo um problema de saúde pública global avassalador. Em uma era de crescente reconhecimento da prevenção como crucial para reduzir a carga de doenças cardiovasculares, as vacinas podem se tornar um pilar fundamental das estratégias preventivas, juntamente com outras medidas já consolidadas.
A Sociedade Europeia de Cardiologia acaba de publicar no conceituado periódico, European Heart Journal (Vacinação - Quarto pilar da prevenção cardiovascula), uma declaração de consenso clínico, assinada por renomados cientistas, intitulada: "Vacinação como uma nova forma de prevenção cardiovascular". Esse documento ratifica a ação preventiva fundamental das vacinas, evidenciando os seus efeitos benéficos na redução de eventos cardiovasculares após diversas infecções virais e bacterianas, sobretudo naqueles que pertencem aos grupos de risco: idosos e os portadores de câncer, AVC, doença coronária, insuficiência cardíaca, miocardiopatias, doenças crônicas do rim, dos pulmões e do fígado, diabetes, HIV, tuberculose, obesidade, sedentarismo, tabagismo (presente ou passado), doenças mentais, doenças cognitivas (Alzheimer, demência senil) e degenerativas (Parkinson) cerebrais e gestação. Segundo os autores do referido consenso, reações adversas graves à vacinação são muito raras e é importante salientar que o risco de desenvolver miocardite devido à covid-19 é seis vezes superior ao causado pela vacina que, na maioria dos casos, é leve e se resolve espontaneamente.
Portanto, vacinação está entre as maiores conquistas da medicina baseada na ciência e tem prevenido, substancialmente, a ocorrência de infecções e de morte prematura, em todo o mundo. Não bastasse isso, a vacinação está se consolidando como o quarto pilar da prevenção terapêutica cardiovascular, além dos já consagrados tratamentos, da hipertensão arterial sistêmica, da hipercolesterolemia e da diabetes. Esse conceito tem sido apoiado pelas Diretrizes Internacionais. Segundo o médico estadunidense, fundador da mundialmente conhecida, Mayo Clinic, em Minnesota, EUA, William James Mayo: "O objetivo da medicina é prevenir doenças e prolongar vidas".
Antônio Carlos Sobral Sousa, professor Titular da UFS e Membro das Academias Sergipanas de Medicina, de Letras, de Educação, Estanciana de Letras e Riachuelense de Letras, Ciências e Artes.