Nova vacina contra meningite no SUS: entenda a mudança na proteção dos bebês
Mudança no calendário infantil de vacinação busca reforçar a proteção de crianças contra a meningite, doença grave e de alta letalidade

O calendário nacional de vacinação foi atualizado com a inclusão da vacina meningocócica ACWY para crianças de 12 meses.
A medida amplia a proteção dos bebês contra a meningite, substituindo a dose de reforço anteriormente feita com a vacina meningocócica C.
Agora, os pequenos passam a estar protegidos contra quatro sorogrupos da bactéria Neisseria meningitidis — A, C, W e Y —, causadora de uma das formas mais graves da doença.
Com a nova estratégia, o Ministério da Saúde busca ampliar a proteção e evitar surtos provocados por outros tipos da bactéria, cujos impactos podem ser fatais ou deixar sequelas graves.
O que muda com a nova vacina
A principal diferença entre os dois imunizantes está na amplitude da proteção. “A tecnologia das duas é a mesma, mas a ACWY oferece proteção contra mais três sorogrupos que podem causar doença invasiva grave”, explica a pediatra Flávia Bravo, diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).
A vacina ACWY é do tipo inativada, ou seja, não contém o agente vivo e não é capaz de causar a doença. É composta por fragmentos das cápsulas bacterianas dos quatro sorogrupos, associados a uma proteína que estimula uma resposta imunológica mais robusta.
Segundo Bravo, ainda que o sorogrupo C continue sendo o mais prevalente no Brasil, os demais também merecem atenção.
“O sorogrupo W, por exemplo, tem chamado atenção porque tivemos um aumento de casos no Sul do país e em outros países da América Latina”, aponta. “Esses surtos podem surgir de forma inesperada e, quando vacinamos a população contra diferentes sorogrupos, prevenimos futuras mudanças no cenário epidemiológico.”
O perfil de segurança da vacina ACWY é considerado semelhante ao da vacina C. “Pode causar dor local, vermelhidão, inchaço – o que é esperado com qualquer imunizante. As vacinas conjugadas são um pouco mais reatogênicas, mas nada preocupante. A única contraindicação são casos de alergia a componentes da vacina ou a doses anteriores”, afirma Bravo.
Casos de meningite vêm caindo com a vacinação
Dados do Ministério da Saúde indicam que a vacinação tem desempenhado papel fundamental na redução dos casos de meningite, especialmente entre as crianças.
Em 2025, já foram registrados 4.406 casos da doença, dos quais 361 causados por meningococos.
Em 2024, o número total chegou a 13.831, sendo 820 provocados por meningococos. No ano anterior, em 2023, foram 16.464 registros, com 730 infecções pelo mesmo agente.
A pediatra Flávia Bravo destaca o impacto da vacinação na mudança do perfil epidemiológico. “Quando introduzimos a vacina contra a meningo C, vimos uma queda brutal nos casos, porque protegemos justamente o grupo mais atingido”, afirma. Com isso, outros sorogrupos começaram a ganhar proporção relativa. “Em termos absolutos, não houve aumento. Mas, como a vacina contra o B não está disponível no SUS para todas as crianças, ele tem sido mais comum entre os pequenos atualmente”, explica.
Novo esquema vacinal no SUS
Com a atualização, o esquema de vacinação infantil contra meningite no SUS passa a ser:
- Meningocócica C: 1ª dose aos 3 meses e 2ª dose aos 5 meses
- Meningocócica ACWY: reforço aos 12 meses
- Meningocócica ACWY: nova dose entre 11 e 14 anos
Crianças menores de 5 anos que não receberam o reforço aos 12 meses poderão atualizar o esquema com a versão ACWY.
A meningite é uma inflamação das meninges, membranas que envolvem o cérebro. A forma meningocócica, causada pela bactéria Neisseria meningitidis, é uma das mais graves. Os sintomas típicos incluem febre alta, vômitos, cefaleia intensa e rigidez na nuca.
A doença pode evoluir de forma rápida e levar à morte em menos de 24 horas. Sobreviventes frequentemente enfrentam sequelas severas, como surdez, amputações ou danos neurológicos. Por isso, a vacinação segue sendo a medida mais eficaz de prevenção.
Assista ao episódio do videocast Saúde e Bem Estar, do JC, sobre vacinas