Gordura no fígado e menopausa: entenda como alterações hormonais afetam o órgão

Silenciosa, a gordura no fígado pode avançar para cirrose e câncer, mas tem reversão nos estágios iniciais; médicos alertam para cuidados após os 40

Por Agência Einstein Publicado em 17/07/2025 às 8:36

Clique aqui e escute a matéria

Com a chegada da menopausa, o corpo da mulher passa por transformações hormonais e metabólicas que vão além dos sintomas mais conhecidos, como calores, insônia e alterações de humor.

Um dos riscos menos discutidos, mas de grande impacto à saúde, é o desenvolvimento da esteatose hepática — popularmente chamada de gordura no fígado.

A condição é silenciosa, pode se agravar com o tempo e evoluir para quadros mais sérios, como fibrose, cirrose e câncer de fígado.

Apesar disso, é reversível se diagnosticada precocemente, o que torna a atenção à saúde hepática fundamental a partir dos 40 anos.

Entenda a relação entre menopausa e esteatose hepática

A principal ligação entre a menopausa e o acúmulo de gordura no fígado está na queda do estrogênio, hormônio com papel protetor no metabolismo feminino.

Essa queda hormonal começa a ocorrer mesmo antes da interrupção definitiva dos ciclos menstruais.

“A mulher tem o estrogênio como principal fator protetor. E esse hormônio, quando começa a cair a partir dos 45 anos, mesmo antes da menopausa se instalar, já promove alterações no corpo, especialmente no metabolismo da glicose e do colesterol”, explica a médica ginecologista e nutróloga Alessandra Bedin Pochini, do Hospital Israelita Albert Einstein.

A deficiência do estrogênio favorece o acúmulo de gordura visceral — que, além de inflamatória, está diretamente associada ao aumento do risco de doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2 e esteatose hepática.

“A deficiência estrogênica aumenta o estresse oxidativo, agrava a resistência à insulina, facilita o aumento da gordura visceral e hepática e, consequentemente, eleva o risco de esteatose e fibrose hepática”, afirma Bedin.

Fase de maior risco é a transição para a menopausa

O período mais crítico para o surgimento da gordura hepática é durante a transição menopausal — que começa cerca de três anos antes da última menstruação e pode se estender por até três anos após.

“É nessa fase que a gordura hepática aparece com mais frequência e pode evoluir com maior gravidade”, alerta a médica.

Essa etapa é marcada por uma redistribuição da composição corporal: a mulher tende a perder massa muscular e ganhar gordura, especialmente na região abdominal.

Sintomas são silenciosos 

Por ser uma doença silenciosa, muitas mulheres desconhecem que têm gordura no fígado. Os sinais são inespecíficos, como:

  • Cansaço persistente;
  • Desconforto abdominal;
  • Pequenas alterações nos exames laboratoriais — que podem passar despercebidos.

“Muitas vezes, a mulher chega ao consultório já tendo passado por outros profissionais que minimizaram o diagnóstico, dizendo que era ‘só uma gordurinha no fígado’. Isso precisa mudar”, pontua Bedin.

Segundo a médica, o aumento de diagnósticos tem relação com a crescente discussão sobre obesidade e menopausa.

Ela destaca ainda que novas medicações para o tratamento da obesidade, como a semaglutida, vêm mostrando efeitos positivos também sobre a saúde hepática.

“Não temos um milagre, mas estamos caminhando. Essas medicações têm melhorado muito a condição metabólica e, como consequência, a saúde do fígado também”, afirma.

Tratamento pode incluir reposição hormonal

A terapia de reposição hormonal (TRH) é considerada uma aliada importante para a saúde hepática, mas seu uso deve ser feito com critério.

A orientação médica é que o tratamento seja iniciado até dez anos após a última menstruação.

“Parece contraditório, mas é como se o corpo perdesse a capacidade de reconhecer o hormônio como protetor depois de tanto tempo sem ele. Por isso, o acompanhamento médico é essencial”, destaca Bedin.

Estudos mostram que a reposição hormonal pode reduzir a gordura no fígado, melhorar a sensibilidade à insulina e ajudar no controle do colesterol e da glicemia.

No entanto, ela não substitui os cuidados com o estilo de vida e, em muitos casos, precisa ser associada ao uso de medicamentos.

“A combinação com mudanças no estilo de vida e, em muitos casos, medicamentos para obesidade é o que traz melhores resultados. Por isso é tão importante o diagnóstico precoce”, reforça a médica.

A partir dos 40, a atenção deve ser maior

O diagnóstico da esteatose hepática costuma ser feito durante exames de rotina, especialmente por meio de ultrassonografia abdominal.

Em casos mais avançados, pode ser necessário realizar uma biópsia hepática. Exames laboratoriais, como o perfil metabolômico, também ajudam a identificar o estágio da doença.

“A esteatose não começa quando os sintomas aparecem; em geral, ela começou de cinco a dez anos antes”, diz Bedin.

Ela recomenda que, a partir dos 40 anos, as mulheres incluam a avaliação da saúde hepática em seus exames preventivos de rotina.

“Não é só fazer o papanicolau ou a mamografia. Precisamos olhar também para o fígado, o metabolismo, os níveis de colesterol e a glicemia.”

A médica ressalta que a gordura no fígado é uma condição reversível, desde que detectada nos estágios iniciais.

Recena conteúdos sobre saúde no WhatsApp


#im #ll #ss #jornaldocommercio" />

Compartilhe

Tags