Mobilidade | Notícia

Guerra no Rio de Janeiro: Mais uma vez, transporte público vira refém da violência com mais de cem ônibus usados como barricadas pelo crime organizado

Retaliação do CV após megaoperação policial afetou 204 linhas e paralisou vias expressas, transformando o transporte público em vítima do caos urbano

Por Roberta Soares Publicado em 29/10/2025 às 11:00 | Atualizado em 29/10/2025 às 15:56

Clique aqui e escute a matéria

O transporte público do Rio de Janeiro foi, mais uma vez, duramente atingido pela violência e pela retaliação do crime organizado que se seguiu a uma megaoperação policial. E, assim, foi, novamente, vítima da guerra civil que já faz parte da história da capital carioca, colocando em risco passageiros e operadores.

Em desdobramento das ações policiais nos complexos da Penha e do Alemão, na Zona Norte, que resultaram - por enquanto - em 121 mortes (incluindo quatro policiais), 81 prisões e mais de 100 fuzis apreendidos, o Comando Vermelho recebeu ordens para fechar as principais vias da cidade.

O Rio Ônibus, sindicato das empresas de ônibus do Rio de Janeiro, atualizou os dados da crise, revelando o imenso impacto no sistema. O balanço final indica que foram registrados 102 ônibus utilizados como barricadas. Além disso, 204 linhas tiveram seus itinerários impactados pelos desdobramentos da operação. O sindicato destacou que, por uma questão de segurança, a mobilidade urbana ficou gravemente afetada em inúmeros pontos.

ÔNIBUS USADOS COMO BARRICADAS E O IMPACTO NA MOBILIDADE

Fernando Frazão/Agência Brasil
Ônibus usados como barricadas no Rio de Janeiro - Fernando Frazão/Agência Brasil

Os ataques ocorreram um dia após a megaoperação da Polícia Civil e Militar. Segundo a PM, criminosos da facção Comando Vermelho sequestraram e atravessaram os veículos nas pistas, fechando vias expressas cruciais como a Avenida Brasil, Linha Amarela e Linha Vermelha.

Inicialmente, o Rio Ônibus informou que mais de 50 ônibus tinham sido usados como barricadas, com o número aumentando a cada instante. As principais regiões metropolitanas e vias expressas afetadas incluíram Anchieta, Méier, Serra Grajaú-Jacarepaguá, Av. Brasil, Linha Amarela, Cidade de Deus, Chapadão, Engenho da Rainha, Complexo do Alemão e Penha.

A interrupção causada pela operação policial também afetou o sistema BRT (Bus Rapid Transit). A MobiRio, empresa que administra os corredores, informou que, por motivos de segurança, alguns serviços foram interrompidos, afetando linhas importantes.

Os transtornos causaram impacto direto na rotina da população. Na manhã desta quarta-feira (29/10), o caos ainda persistia em algumas regiões: o Rio Ônibus informou que um ônibus da linha 298 (Acari X Castelo) teve a chave retirada e foi utilizado como barricada em Pilares.

NORMALIZAÇÃO E REFORÇO POLICIAL

EGBERTO RAS/ENQUADRAR/ESTADÃO CONTEÚDO
Criminosos usaram lixeiras e ônibus como barricadas em vias expressas da Zona Norte do Rio de Janeiro - EGBERTO RAS/ENQUADRAR/ESTADÃO CONTEÚDO
Reprodução
Ônibus usados como barricadas no Rio de Janeiro - Reprodução
EGBERTO RAS/ENQUADRAR/ESTADÃO CONTEÚDO
Criminosos usaram lixeiras e ônibus como barricadas em vias expressas da Zona Norte do Rio de Janeiro - EGBERTO RAS/ENQUADRAR/ESTADÃO CONTEÚDO

Nesta quarta, a circulação do transporte por ônibus foi normalizada. O prefeito Eduardo Paes publicou nas redes sociais que os modais de transporte e os serviços públicos operavam sem problemas e que a cidade havia voltado para o Estágio 1, em uma escala de 5, indicando aparente normalidade. A Autoestrada Grajaú-Jacarepaguá foi a última via obstruída a ser liberada, às 2h45.

Para garantir a segurança do deslocamento, o governo do Estado do Rio de Janeiro reforçou o policiamento em todo o Estado. A atenção especial foi dada às principais vias expressas, às Zonas Norte e Sudoeste, e aos acessos à Região Metropolitana e modais de transporte público.

Como parte das medidas estratégicas, agentes do serviço administrativo da Polícia Militar foram realocados para atuar no serviço operacional nas ruas, resultando em um aumento de 40% no efetivo de patrulhamento em diversas áreas da cidade.

Apesar da normalização, o Rio Ônibus afirmou manter contato constante com a Polícia Militar (PMERJ) e demais autoridades responsáveis para assegurar o funcionamento do transporte e a segurança tanto de passageiros quanto de rodoviários. Enquanto isso, empresas responsáveis pelo VLT, trens interestaduais (SuperVia) e metrô (MetrôRio) informaram que todas as suas linhas seguiram funcionando normalmente.

Já no transporte metropolitano, o impacto foi menor, mas também existiu. A Semove (Federação das Empresas de Mobilidade do Estado do Rio de Janeiro) informou que, na manhã da terça-feira (28), criminosos obrigaram motoristas de um ônibus da linha 492L (Caxias x Inhaúma) e de três veículos da linha 485 (Caxias x Pilares), ambos da Transportes Fabio’s, além de dois da linha 749L (Jardim Iguaçu x Pavuna), da Vila Rica, a atravessarem os coletivos na pista e entregarem as chaves, na Estrada Adhemar Bebiano, em Inhaúma.

A Federação lamentou que a violência tenha voltado a atingir o transporte público, colocando em risco colaboradores e passageiros.

Compartilhe

Tags