"O bom cinema é o que tem o sabor particular": Kleber Mendonça Filho fala sobre o olhar pessoal dentro de projetos cinematográficos
Diretor de 'Bacurau' e do novo filme 'O Agente Secreto', o cineasta comenta a força do olhar pessoal no cinema a partir de 'Seu Cavalcanti'.

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Se preparando para a grande estreia nacional de seu próximo filme, 'O Agente Secreto', e para a chegada de 'Seu Cavalcanti' aos telões brasileiros, Kleber Mendonça Filho não é apenas um cineasta, mas um eterno apaixonado pelo trabalho: é apaixonado por contar histórias, reais ou fictícias.
Nesse embalo, ele e Emilie Lesclaux assinam a produção de 'Seu Cavalcanti' chega aos cinemas trazendo a história de Severino Cavalcanti, avô do diretor recifense Leonardo Lacca, que já é parceiro de Mendonça há muitos filmes. O longa-metragem, que mistura realidade e ficção, é resultado de quase 20 anos de registros feitos por Lacca e ganhou forma definitiva com a colaboração de Emilie e Kleber na produção.
Conhecido por títulos como 'Bacurau' e 'Retratos Fantasmas' e que agora se prepara para lançar seu próximo longa, 'O Agente Secreto', Kleber Mendonça Filho conversou com o Social1 sobre o processo de produção de 'Seu Cavalcanti' e compartilhou reflexões sobre o impacto do longa e sobre como o olhar pessoal pode se transformar em matéria-prima para o cinema.
O íntimo que se torna cinema
Para Kleber, a força de 'Seu Cavalcanti' está justamente no modo como Leonardo Lacca transformou registros íntimos em narrativa cinematográfica:
"Quando você está desenvolvendo um filme, você se pergunta se 'isso aqui' é um filme. E eu passei por isso com 'Retratos Fantasmas', um dilema parecido, porque você tem muito material que é íntimo e pessoal, que é da sua família, que mostra a sua casa... e você começa a se perguntar se isso [o filme] vale. E Leo [Lacca] vinha filmando o avô durante muitos anos", comenta Mendonça Filho.
Ele destaca que o processo de reconhecer o material como filme foi parte essencial da jornada:
“Ao longo dos anos, acompanhamos Leo trabalhando nesse filme, vimos umas 15 versões desse filme, até que ele terminou com uma versão que eu acho muito linda", relembra.
Um personagem maior que a intimidade familiar
Kleber acredita que o longa vai além da homenagem familiar, oferecendo ao público um retrato que pode ser reconhecido em muitas casas brasileiras:
“[O filme] não é só sobre o avô dele, na verdade. É sobre um tipo de família [...] São vários elementos que eu acho que fazem o filme ter um sabor muito particular; e eu acho que o bom cinema é o que tem o sabor particular”.
O desafio da montagem
Ao longo de quase duas décadas, 'Seu Cavalcanti' passou por inúmeras versões até chegar ao corte final. Kleber lembra que acompanhar esse processo foi um exercício de paciência e escolhas difíceis.
Para ele, esse é o tipo de obra em que a busca pela forma definitiva pode durar para sempre, se o cineasta não decidir concluir:
"Esse tipo de filme você meio que chega a um ponto que você tem que abandonar o filme, porque se não você vai continuar... As possibilidades são infinitas. É um pouco diferente da ficção".
O impacto no público
Kleber Mendonça Filho acredita que 'Seu Cavalcanti' é um filme a ser descoberto pelo público, justamente por unir a intimidade de uma história particular à universalidade da experiência de envelhecer, viver em família e buscar autonomia.
“Eu quero muito que esse filme seja descoberto; quero que as pessoas digam: ‘Caramba, fui ver um filme ontem completamente fora do que eu esperava!’”, afirma.
Com esse olhar, Kleber reforça a importância do cinema como espaço de singularidade e autenticidade, onde histórias pessoais ganham ressonância coletiva.