Projeto pioneiro de dessalinização no Brasil inicia obras em outubro e promete água potável para milhões no Ceará
O projeto terá usina na Praia do Futuro, em Fortaleza, e pode garantir até 12% do abastecimento da capital cearense; saiba detalhes

Clique aqui e escute a matéria
As obras da Dessal do Ceará, usina de dessalinização que será instalada na Praia do Futuro, em Fortaleza, estão previstas para ter início em outubro.
O projeto avança após a Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece) receber da Superintendência do Patrimônio da União (SPU) a cessão de uso do terreno, um dos últimos trâmites legais antes da construção.
Segundo o presidente da Cagece, Neuri Freitas, o empreendimento também obteve recentemente a Licença de Instalação da Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace), documento que assegura segurança jurídica e cuidados ambientais na área escolhida.
Agora, os responsáveis aguardam o alvará de construção da Prefeitura de Fortaleza, além da liberação para instalação do canteiro de obras.
Um marco hídrico para o Ceará
A Dessal do Ceará faz parte da política de diversificação da matriz hídrica do estado, reduzindo a dependência de chuvas e reservatórios.
A usina será a primeira de grande porte no Brasil e terá capacidade de produzir mil litros de água potável por segundo por meio da tecnologia de osmose reversa. Esse volume pode atender parte significativa da demanda da Região Metropolitana de Fortaleza, contribuindo com até 12% da oferta de abastecimento.
O projeto é fruto de uma Parceria Público-Privada (PPP) com duração de 30 anos. Os investimentos somam cerca de R$ 3,1 bilhões, sendo R$ 526 milhões destinados à construção da planta e das tubulações.
A operação ficará sob responsabilidade da concessionária Águas de Fortaleza, remunerada conforme os volumes de água captados e tratados.
Desafios e condicionantes ambientais
Apesar dos avanços, o empreendimento precisa cumprir 65 condicionantes ambientais estabelecidos pela Semace.
Entre eles estão o monitoramento da fauna e flora marinhas, a gestão de resíduos e a preservação de cabos submarinos de telecomunicações, o que levou a ajustes no traçado inicial das tubulações.
Também será necessário obter autorizações adicionais da SPU para uso de áreas de marinha e do espelho d’água na região costeira. Outro desafio é o diálogo contínuo com comunidades locais para minimizar impactos sociais durante as obras.
Benefícios esperados
Com a operação da usina, Fortaleza terá mais segurança hídrica, especialmente em períodos de seca, além de alívio sobre os mananciais do interior.
O projeto deve gerar empregos locais nas fases de construção e operação, e ainda há estudos em parceria com a Holanda para aproveitamento da salmoura — subproduto da dessalinização — em setores industriais.
Se bem-sucedida, a Dessal do Ceará consolidará o estado como referência nacional em soluções hídricas inovadoras, podendo servir de modelo para outras regiões costeiras do Brasil que enfrentam os efeitos das mudanças climáticas e da crise hídrica.