Bairro do Recife recebe mostra inédita sobre biodiversidade pernambucana e saberes ancestrais no Mês da Consciência Negra

Evento acontecerá neste sábado, 22 de novembro, das 13h às 20h, no Centro de Promoção dos Direitos da Mulher Marta Almeida; programação é gratuita

Por Jefferson Albuquerque Publicado em 18/11/2025 às 17:46

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A moda que nasce da terra, das plantas e do conhecimento ancestral ocupa o Bairro do Recife neste sábado (22), das 13h às 20h, durante a 1ª Mostra de Moda, Sustentabilidade e Tecnologia – Rede Kami.

O evento marca o encerramento da 2ª edição do Projeto Cor de Flora e reúne exposição, palestras e rodas de debate. Para participar da programação formativa — como as palestras e conversas sobre criação, tecnologias ecológicas e ativismo ambiental — é necessário realizar inscrição prévia.

A mostra acontece no Centro de Promoção dos Direitos da Mulher Marta Almeida, na Rua do Bom Jesus, 147, Bairro do Recife, e apresenta criações realizadas ao longo dos meses de setembro e outubro.

A aposta na iniciativa de moda como ferramenta de ação climática, em sintonia com os debates da COP-30, que reforça a urgência de compensar os sistemas de produção diante da crise ambiental que atravessa o país.

O evento também integra a agenda de ativismo das Mães da Consciência Negra, reforçando o papel central das mulheres negras, periféricas e moradoras de territórios em situação de vulnerabilidade social na construção de uma moda sustentável e politicamente engajada.

Toda a programação carrega essa identidade: as apresentações culturais são de grupos afro-brasileiros e as participantes da formação trazem vivências de resistência que dialogam com a luta antirracista, com a defesa dos territórios e com a preservação da biodiversidade.

Idealizado por Kamila Nascimento, o projeto de cultura popular, inovação e sustentabilidade. Ele resgata saberes tradicionais sobre o uso de plantas para tingir tecidos e incentiva marcas de slow fashion a incorporar processos de baixo impacto ambiental.

O Cor de Flora também capacita grupos culturais do Recife para promover autonomia criativa a partir de técnicas ecológicas.

As peças apresentadas na exposição são como pigmentos baseados em espécies nativas da flora pernambucana.

As educandas trabalharam com casca de cebola, cragiru, eucalipto, cúrcuma/açafrão e urucum, além de folhas, sementes e cascas diversas. Esses elementos carregam histórias profundas. A casca de cebola produz toneladas de calor ligadas às práticas domésticas tradicionais.

O cragiru fornece toneladas de vermelhos vendidos em gerações por comunidades rurais. O eucalipto, presente na medicina popular, cria variações terrosas.

A cúrcuma, reconhecida como raiz de cura, resultado em amarelos intensos. Já o urucum, pigmento ancestral usado por povos indígenas na pintura corporal, é símbolo de resistência, espiritualidade.

Cada pigmento se conecta a práticas ancestrais que unem agricultura, culinária, medicina tradicional e estética. Ao transformar essas plantas em cor, o projeto reafirma que a moda sustentável nasce da floresta, da memória e da relação respeitosa com a natureza.

A exposição reúne quatro peças inspiradas em manifestações culturais de Pernambuco: Maracatu, Ciranda, Afoxé e Caboclinho. Os temas mostram como cultura popular, biodiversidade e criação artística podem caminhar juntas para construir narrativas que preservem, questionem e mobilizam.

A programação formativa começa com a palestra de Germana Souza, que apresenta estratégias para transformar conceitos em identidade de marca com foco no slow fashion. Ela discute como alinhar propósito, território e responsabilidade socioambiental ao processo criativo.

Em seguida, o pesquisador Fernando Simões bordou caminhos para fortalecer práticas sustentáveis através de tecnologias aplicadas ao reaproveitamento têxtil. Sua fala detalhada como ferramentas de análise e mapeamento pode apoiar processos criativos com foco na redução de resíduos e otimização de materiais.

A roda de conversa “Novas perspectivas para a cena da moda no Recife” reúne a realizadora audiovisual Erlania Nascimento, a estilista afro-autora Jéssica Zarina e a designer Morgana Oliveira.

O encontro discute desafios e oportunidades de produção em um momento de emergência climática e aponta possibilidades que unem ancestralidade, território, criação e biodiversidade.

A apresentação terá apresentações culturais dos grupos Edùn Àrá Xangô, Grupo Obirin e Semente de Maracá, reforçando a ligação entre corpo, território e espiritualidade — princípios que também sustentam o projeto.

O Cor de Flora é incentivado pela Política Nacional Aldir Blanc (PNAB-Recife), com apoio da Fundação de Cultura da Cidade do Recife e da Secretaria da Mulher. A iniciativa reafirma que moda sustentável é ação política, tecnologia social e compromisso coletivo com o planeta.

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