Aurora entre Vias e Vidas: Recife vira personagem em espetáculo que mistura dança, poesia e memória
No Teatro Luiz Mendonça, a montagem do Centro de Artes Grupo Vida transforma ruas, sons e histórias da capital pernambucana em narrativa multimídia

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A história da cidade do Recife contada no palco do Teatro Luiz Mendonça. Assim será a estreia de Aurora entre Vias e Vidas, primeiro espetáculo autoral do Centro de Artes Grupo Vida, que será encenado nos dias 16 e 17 de agosto, em Boa Viagem. A montagem é uma celebração do Recife e de suas múltiplas camadas de memória, presença e transformação.
Com direção geral de Rita Vieira, fundadora e idealizadora do Grupo Vida, e direção cênica e texto de Analice Croccia, a obra nasceu da vontade de transformar a cidade em cena viva, e suas ruas em personagens. Foi assim que a Rua do Sol e a Rua da Aurora se tornaram Sol e Aurora, dois corpos simbólicos que conduzem o público por uma travessia sensível entre o concreto e o imaginado.
Concebido como um espetáculo de dança multimídia, Aurora entre Vias e Vidas mistura coreografias em estilos diversos — jazz, sapateado, contemporâneo e danças urbanas — com projeções audiovisuais, trilhas de artistas pernambucanos e depoimentos reais de quem habita a cidade. A dramaturgia fragmentada acompanha o passeio de Sol e Aurora, dois personagens simbólicos: Sol – um jovem negro, artista, pulsante e presente – e Aurora, uma mulher, vestida de tempo e saudade, que carrega em si a nostalgia da cidade, em uma metáfora sobre pertencimento, tempo e resistência urbana.
As sessões acontecem no sábado (16), às 20h, com entrada para convidados; e no domingo (17), às 17h, com exibição aberta ao público em geral.
No palco, a personagem Aurora, interpretada pela atriz Mariana Perazzo, é o passado vestido de poesia. Ao seu encontro caminha Sol, interpretado pelo artista Gui Faiat. A travessia se completa com a presença de três outras figuras simbólicas: Lua - Malu Guimarães, a guardiã da noite; a cantora de frevo, Thais Lima, que irrompe como memória coletiva e alegria popular; e a Poesia, de Nanda Fonten, presença etérea que borda palavras no ar.
Inspirado pela cartografia afetiva do Recife, o espetáculo explora a dança como linguagem de evocação de identidades urbanas, memórias coletivas e transformações sociais. A composição cênica é construída em camadas simbólicas, onde cada elemento visual e sonoro potencializa o encontro entre corpo, tempo e cidade.
A trilha sonora costura canções autorais de Nanda Fonten, Vitor Araújo, Flaira Ferro, Barbarize, Uana, Silvério Pessoa, Alceu Valença, Chico Science, Nação Zumbi e Antônio Maria, entre outros, com sons urbanos: buzinas, batidas, vozes e o silêncio dos rios. No encontro entre passado e presente, o trabalho propõe uma travessia poética pelas memórias que habitam o concreto, pelas luzes que cortam a noite e pelas vozes que ainda ecoam nas calçadas.
O grande diferencial é que a arte se mistura à tecnologia. O audiovisual em Aurora entre Vias e Vidas é parte ativa da narrativa, documentando, ampliando, duplicando e distorcendo a cidade. O espetáculo traz vídeos documentais, poéticos, vozes em off e imagens de arquivo, incluindo antigos carnavais e cenas em preto e branco do centro do Recife.
Além disso, haverá uma intervenção artística do artista visual Teo Armando, que fará uma ilustração ao vivo em grafite enquanto os bailarinos se apresentam. O grand finale contará com a presença do músico Mestre Lua de Olinda e seu grupo Poço de Batuque.
Em 1h30 de espetáculo, o público poderá vivenciar um Recife de antigamente, nos cenários e figurinos, mas sempre com propostas voltadas para o amanhã. O elenco é formado por mais de sessenta bailarinos, alunos do Grupo Vida, que compartilham o palco em um exercício cênico intergeracional.
As coreografias foram concebidas pelos professores Bianca Morena, Duda Serafim, Gui Faiat, Madson de Paula, Thiago Sousa e Rita Vieira, expressando paisagens sensíveis da cidade. Um dos principais objetivos é promover a cultura local, valorizando compositores, poetas e imagens do Recife.
A dramaturgia híbrida integra corpo, trilhas sonoras, textos de autores pernambucanos e vídeos captados em locações reais da cidade, conduzindo o público por um Recife onírico, entre lembrança e urgência.