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A um ano da eleição, Victor Marques, vice-prefeito do Recife, engrossa coro da oposição contra gestão Raquel

Marques aproveitou judicialização da gestão do Túnel da Abolição para sair de lugar de discrição e assumir posição de ataque ao governo estadual

Por Rodrigo Fernandes Publicado em 25/09/2025 às 11:57 | Atualizado em 25/09/2025 às 11:57

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O vice-prefeito do Recife, Victor Marques (PCdoB), aproveitou os problemas no Túnel da Abolição, localizado no bairro da Madalena, Zona Oeste da capital, para se posicionar como nova voz ativa de oposição ao governo Raquel Lyra (PSD). Tradicionalmente discreto e afastado de polêmicas, Marques se projetou no centro da disputa sobre o equipamento e expôs as tensões entre as duas gestões.

O impasse ganhou repercussão no início da semana passada, após novo episódio de alagamento no túnel, desta vez, mesmo sem registro de chuvas. A falha obrigou a interdição da passagem e impôs mudanças no já caótico trânsito da Madalena, reacendendo as críticas sobre a manutenção da estrutura.

Até então, a manutenção do túnel era de responsabilidade do governo estadual. Em entrevista à Rádio Jornal, na terça-feira (16), a governadora Raquel Lyra (PSD) garantiu que tomaria medidas para resolver o alagamento e revelou a intenção de transferir, em momento posterior, a gestão do equipamento à prefeitura do Recife.

"A gente teve obra de manutenção porque é preciso fazer a limpeza das bombas e tiramos sacos de areia e lixo. [...] O futuro deve ser a gente entregar o túnel para a Prefeitura do Recife. O município pode gerir melhor porque ele tem serviço de manutenção e de limpeza urbana”, disse Raquel.

A reportagem apurou que o acordo de transferência da gestão do equipamento do governo para a prefeitura foi firmado em fevereiro. Contudo, o estado acusa a gestão João Campos de dificultar o processo e postergar a responsabilidade ao alegar a existência de problemas técnicos.

O governo de Pernambuco, então, judicializou o caso em julho, exigindo que a prefeitura assuma a administração do túnel.

Vice-prefeito surge no conflito

Em um vídeo publicado na quarta-feira (24), o vice-prefeito Victor Marques, que até então mantinha perfil reservado e distante de disputas públicas, mudou de tom e direcionou críticas ao governo de Pernambuco. A fala representou uma guinada em sua postura política, evidenciando ainda mais o desgaste entre as gestões municipal e estadual.

“Esse é um túnel que foi construído e administrado pelo governo de Pernambuco, e as condições aqui hoje são de falta de cuidado claro. [...] E você me pergunta: ‘de quem é a culpa?’. Eu não quero saber. A prefeitura vai entrar para resolver o problema. Se o estado não teve condições operacionais de cuidar, a prefeitura vai tomar essa iniciativa”, disparou Victor na gravação, sem citar a judicialização do caso.

Na mesma publicação, o vice-prefeito anunciou que os serviços serão feitos em duas etapas. Na primeira, com atuação imediata, um mutirão fará a organização da estrutura, enquanto a longo prazo a prefeitura se compromete a contratar um projeto executivo para obras maiores na infraestrutura.

“O recifense não merece ser punido por uma falta de cuidado. A gente se coloca à disposição da cidade”, emendou Marques, que compartilhou várias imagens dos funcionários da prefeitura trabalhando no equipamento.

Nos corredores do Palácio do Campo das Princesas, o vídeo de Victor foi visto como estritamente político. "Se ele estivesse realmente preocupado com o recifense, como diz no vídeo, teria assumido a gestão do túnel antes de ser judicializado", disse uma fonte do governo ao JC.

Victor Marques, como se sabe, é peça-chave no cenário político de 2026, já que poderá assumir a prefeitura do Recife caso o atual prefeito, João Campos (PSB), deixe o cargo para concorrer ao governo de Pernambuco.

A guinada na postura do vice-prefeito, marcada por um discurso mais crítico ao Palácio do Campo das Princesas, pode ser interpretada, portanto, como o prenúncio de uma atuação mais combativa diante do governo estadual, especialmente às vésperas de um ano eleitoral decisivo, em que poderá herdar a responsabilidade de dar sequência à gestão do bem-avaliado João Campos.

Troca de acusações

O Túnel da Abolição foi inaugurado em 2015, na gestão do governador Paulo Câmara, então no PSB, mesmo partido do prefeito João Campos. O equipamento foi planejado para amenizar os congestionamentos no cruzamento de Rua Benfica e a Avenida Caxangá.

Contudo, as infiltrações e alagamentos se tornaram marca da estrutura nesses 10 anos de operação, atrapalhando frequentemente a circulação de veículos.

O mais recente alagamento foi resolvido na terça-feira (16) — mesmo dia em que Raquel Lyra deu a declaração à Rádio Jornal —, mas não antes de governo e prefeitura trocarem acusações.

A secretaria estadual de Desenvolvimento Urbano e Habitação (Seduh) disse que as bombas foram danificadas devido ao acúmulo de lixo no local, destacando que a região é de domínio da prefeitura.

“O Governo do Estado cumpriu seu papel ao executar a obra e realizar as intervenções necessárias. No entanto, a prefeitura tem se recusado a assumir a operação, prejudicando a população que depende do túnel para a mobilidade na região”, acusou a gestão estadual.

A Autarquia de Manutenção e Limpeza Urbana do Recife (Emlurb) rebateu dizendo que “a manutenção do Túnel da Abolição permanece sendo do Governo do Estado, que busca se eximir da responsabilidade quando o equipamento alaga mesmo sem a ocorrência de chuvas”.

O órgão da prefeitura acrescentou que realiza periodicamente ações de capinação, limpeza e desobstrução da rede de drenagem da área. “O Governo do Estado até hoje não apresentou nenhuma intervenção de melhoria no equipamento solicitada pela gestão municipal”, ressaltou a nota.

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