Impactos do tarifaço no Brasil dominaram debates do seminário Esfera Infra no Recife
Evento do grupo Esfera Brasil reuniu ministros, governadores, deputados e outras autoridades no Recife para discutir economia e infraestrutura

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O seminário Esfera Infra, realizado neste sábado sábado (9) pelo grupo Esfera Brasil, no Recife, reuniu ministros, governadores, deputados federais e especialistas para debater os impactos da infraestrutura no desenvolvimento regional e nacional, mas o principal tema dos painéis foi a política externa dos Estados Unidos sobre o Brasil, especialmente as medidas tarifárias adotadas pelo governo Donald Trump.
No primeiro painel, intitulado "O Brasil em Construção", o ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho (Republicanos), expressou preocupação com o momento institucional e econômico vivido no Brasil e no mundo.
“Desde a redemocratização do Brasil nunca vi um momento tão desafiador do ponto de vista institucional. Apesar das dificuldades do governo Biden, os Estados Unidos preservaram um diálogo internacional, preservando a economia americana e fortalecendo o dólar. O que Trump está fazendo no mundo agora é um desrespeito à agenda internacional. E o Brasil naturalmente sendo prejudicado por essas decisões que foram tomadas recentemente", afirmou o ministro.
No mesmo bloco de conversa, o ministro das Cidades, Jader Filho (MDB), enfatizou a necessidade de serenidade. "O governo americano quer intervir na Justiça do Brasil, isso no nosso modelo constitucional não é possível, e acusam que a balança comercial seria desfavorável para nós, o que é mentira. Quando você parte de uma negociação que não tem início, meio e fim, isso é problemático. O governo brasileiro tem tido muita serenidade na condução, e tenho a impressão que o povo americano, não o presidente, vão pressionar para que essa bola baixe".
Vinicius de Carvalho, ministro da Controladoria-Geral da União (CGU), destacou a solidez das instituições brasileiras: “A gente vive num país que construiu uma série de políticas que conseguem sustentar a nossa democracia de maneira muito sólida".
No segundo painel do dia, as duas únicas mulheres governadores do país, ambas de estados do Nordeste, expressaram a gravidade dos efeitos do tarifaço sobre setores estratégicos locais. Raquel Lyra (PSD), governadora de Pernambuco, detalhou o impacto sobre o açúcar e a manga do Vale do São Francisco, responsáveis por cerca de 120 mil empregos diretos na fruticultura irrigada.
"Estamos dialogando com o Governo Federal e com o setor produtivo para que a safra não se perca e os empregos sejam mantidos, seja com subvenção, seja com a abertura de novos mercados, como o chinês e o europeu”, afirmou.
Fátima Bezerra (PT), governadora do Rio Grande do Norte, expressou indignação: "Não se trata de uma medida de caráter técnico, estão usando argumentos esdrúxulos. O impacto disso na vida do nosso povo é imenso", disse, elencando ações locais para mitigar os danos, incluindo ampliação da desoneração do ICMS e liberação de créditos acumulados para setores como sal, pescados, fruticultura, caramelos e pirulitos.
O terceiro painel contou com a participação do prefeito do Recife, João Campos (PSB, que avaliou o contexto como “um momento difícil e com grau de ineditismo nesse tempo moderno". Ele comentou que a medida americana contra o Brasil tem um ponto diferente dos outros países, "que passa por uma decisão explícita, política dentro de uma decisão presidencial".
João Campos defendeu a busca por uma “porta de saída” e a construção de uma negociação firme, mas ressaltou a necessidade de preservar o interesse comercial bilateral. “O movimento que foi feito vai colocar o Brasil mais perto de outras potências globais".
Mendonça Filho (União Brasil) destacou a importância da unidade nacional diante do cenário externo. “Eu sou um deputado de oposição, sempre fui antagonista aos governos petistas, mas quando você está diante de um quadro como esse, o primeiro posicionamento que eu me coloco é em defesa do interesse do Brasil. A gente precisa ter unidade de postura defendendo o interesse nacional”.
Entretanto, Mendonça criticou a postura do governo federal brasileiro. “Temos uma postura do governo americano que é inédita, esquisita, bizarra, e de outra parte percebo que, enquanto o governo nomeia o vice-presidente Alckmin para que possa interlocutor e buscar canais com governo americano, ao mesmo tempo o presidente Lula cumpre papel mais de palanque, do que de busca de canal de negociação. Ele potencializa a crise".
Entre os deputados federais, Augusto Coutinho (Republicanos) criticou a polarização política que, segundo ele, atrapalha o debate no Congresso: “Existe no Brasil um momento de polarização que interessa a ambas as partes, mas existe muita gente no Congresso discutindo o Brasil. Lamentavelmente o que a gente vive é uma era de redes sociais e muitas vezes você cria personagens, que precisam se alimentar de ações bombásticas de radicalização política, mas esse não é o sentimento do Congresso".
"O nosso comportamento não é inteligente, e aí entra o presidente da República. Não é o Congresso brasileiro que vai ocupar esse espaço. Não é negando contato, tem que falar com Trump e buscar saídas que protejam o empresariado e a economia brasileira", completou Mendonça.
O cientista político Antônio Lavareda, que também participou da conversa, concluiu o debate ressaltando a singularidade da crise e o desafio interno: “Existe a necessidade de o Brasil estar unido diante de uma agressão que é inédita. É uma agressão que não tivemos desde a época da independência para cá. A necessidade de reagir a isso com o máximo de unidade possível para encontrar um posicionamento plausível e possível”.
Segundo ele, a crise se agrava pela confluência de atores internos: “Essa agressão ela vem acompanhada que talvez seja inédito também: o país se vê confrontado mas contando com apoio de políticos do nosso país, essa é a singularidade da crise. A singularidade é Trump, a família Bolsonaro e uma parte do bolsonarismo estimulando essa agressão, esse é o grande desafio", apontou o especialista.