Anistia para Bolsonaro 'não está em negociação', diz Lula em entrevista ao New York Times
Presidente afirmou que Brasil não agirá com "subserviência" diante das ameaças de Trump e critica o método de dar "ultimato" em vez de dialogar

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Em uma contundente entrevista ao jornal americano The New York Times concedida na última terça-feira (29), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva mandou um recado direto à Casa Branca: uma anistia para o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) "não está em negociação".
A declaração é uma resposta firme à pressão do presidente dos EUA, Donald Trump, que tem usado a situação jurídica de seu aliado como pretexto para impor uma tarifa de 50% sobre os produtos brasileiros.
"Talvez ele (Trump) não saiba que, aqui no Brasil, o Judiciário é independente", declarou Lula, defendendo a soberania das instituições brasileiras. "O estado democrático de direito, para nós, é uma coisa sagrada, porque já vivemos sob ditaduras, e não queremos mais", completou.
"Seriedade não requer subserviência"
Na entrevista — a primeira de Lula ao jornal em 13 anos —, o presidente afirmou que o Brasil não se intimidará com a pressão econômica. "Conhecemos o poder econômico dos Estados Unidos; reconhecemos o poder militar [...] Mas isso não nos assusta. Isso nos preocupa", disse, reforçando que o país não negociará "como se fosse um país pequeno diante de um país grande".
Lula criticou duramente o estilo diplomático de Trump, classificando como "vergonhoso" o fato de o presidente americano usar sua rede social para emitir ameaças. "Quando você tem um desacordo comercial, você pega o telefone, você agenda uma reunião, você conversa. O que você não faz é taxar e dar um ultimato", afirmou.
Segundo o presidente, essa postura transformará uma relação historicamente de "ganha-ganha" em uma de "perde-perde", que prejudicará inclusive os consumidores americanos com o aumento de preços.
Portas abertas para o diálogo
Apesar do tom firme, Lula reiterou que o Brasil segue aberto ao diálogo, mas que a iniciativa não tem sido recíproca. "O que está impedindo é que ninguém quer conversar. Todo mundo sabe que pedi para fazer contato", disse, lembrando ter tido um bom relacionamento com todos os outros presidentes americanos desde Bill Clinton.
Ele encerrou com uma mensagem direta a Trump, pedindo que os povos dos dois países não sejam "vítimas da política" por causa do caso de Bolsonaro, que, segundo ele, "está sendo julgado com pleno direito a defesa".
(Com informações do Estadão Conteúdo).