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Dia do Nordestino: Nordeste avança em infraestrutura, energia limpa e inovação

Neste 8 de outubro, o JC publica especial sobre o novo ciclo de desenvolvimento da região, que cresce e quer aumentar sua participação no PIB do País

Por Adriana Guarda Publicado em 08/10/2025 às 8:00

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No mapa, o Nordeste tem nove estados. No corpo vivo do País são 54,6 milhões de pessoas — 27% da população do Brasil — com sotaques e saberes que não cabem num estereótipo. Há muito mais na região do que a imagem marrom de um chão rachado. Há um novo ciclo em movimento, e ele tem direção: para frente.

Neste 8 de outubro, Dia do Nordestino, o Jornal do Commercio convida o leitor a revisitar essa região. Um pedaço do Brasil que precisa ser redescoberto. Já foi sinônimo de seca e migração, mas hoje exporta energia, tecnologia, cultura e futuro.

Apesar de abrigar mais de um quarto dos brasileiros, a região responde por 13,8% do PIB — algo próximo de R$ 1,3 trilhão. É pouco para o tamanho do presente e do futuro, mas o ponteiro está mexendo. Em 2024, o indicador de atividade do Banco Central mostrou o Nordeste crescendo 4,0%, acima do Brasil (3,8%).

Para 2025, a projeção oficial do Ministério da Fazenda para o PIB nacional é de 2,2%; no Nordeste, as estimativas privadas apontam avanço muito próximo, ligeiramente acima (2,3%). Ainda que esteja avançando, a participação nordestina no bolo nacional precisa subir mais. 

Nordeste tem pouco mais de 100 anos

“Nordeste” também é uma palavra com história. Entrou para o vocabulário brasileiro quando as políticas contra as secas organizaram o território. Até 1919, o Nordeste não existia e todos os estados pertenciam ao Norte. O governo Federal acreditava que era preciso separar as regiões para 'facilitar o combate à seca'. Criada em 1909 e reestruturada em 1919, a Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas (IFOCS), que daria origem ao DNOCS, estruturou a região. O DNOCS se consolidou décadas depois, na regionalização do IBGE.

A região já nasceu sob o carimbo da carência. Um século adiante, é tempo de desfazer o arreio do estigma. O Nordeste não é o “oco do mundo”, mas parte da solução. 

A transição energética brasileira tem sotaque nordestino. Nos estados da região se concentra a espinha dorsal dos ventos do País. Há dias em que a eólica supre 100% da demanda regional e ainda exporta energia para outros subsistemas, e a maior parte da geração eólica do Sistema Interligado Nacional (SIN) sai deste lado do mapa.

No sol, a fotografia é parecida. Mais da metade da geração solar centralizada do Brasil está no Nordeste, com uma fila robusta de projetos em construção. E no horizonte, brota o hidrogênio de baixo carbono. Energia limpa, investimento produtivo e emprego qualificado formam um tripé que muda a paisagem.

A indústria está na região — e crescendo. A Stellantis, em Goiana (PE), bate recordes de produção e exportação por Suape, afirmando a vocação exportadora nordestina. A Bahia abre um capítulo novo com a BYD em Camaçari, inserindo a região nas rotas globais da mobilidade elétrica. As mercadoria que entram e saem do Nordeste encontram portos modernos. Suape, Pecém, Itaqui, Salvador são portas de entrada e de saída para o comércio internacional — um sistema circulatório que conecta o Nordeste ao Brasil e o mundo.

Infraestrutura impulsiona salto

Infraestrutura é a palavra-chave do próximo salto. A Transposição do Rio São Francisco já leva água a dezenas de municípios do agreste e do sertão, com 477 km de canais que mudam o cotidiano de gente que esperou por isso a vida toda. A Transnordestina, ferrovia estratégica para grãos, minérios e outros produtos, ganha fôlego com trechos avançando, financiamentos e decisão de viabilizar o trecho de Pernambuco. O objetivo é claro — integrar, reduzir custo logístico e dar escala ao que se produz. Quando água e trilho se encontram com porto e energia, a economia conversa; e quando a economia conversa, o desenvolvimento deixa de ser um desejo distante.

Tecnologia e inovação já deixaram de ser nota de rodapé. O Porto Digital, no Recife, fechou 2024 com R$ 6,2 bilhões de faturamento e mais de 21,5 mil profissionais — um polo que exporta software, serviços e talento, empurrando a fronteira do possível num território que aprendeu a fazer muito com pouco. Essa massa crítica — somada a universidades fortes e a um ecossistema de startups que se espalha por Salvador, Fortaleza, Natal e João Pessoa — dá lastro ao novo ciclo. 

Com a concentração das principais conexões internacionais de internet e cabos submarinos, o Nordeste desponta como área estratégica para instalação de data centers.

Diversidade e autenticidade

O Nordeste não é um. É muitos. Litoral ultraconectado e sertão inventivo; parques eólicos que riscam o céu e agro que aprende a conviver com o semiárido. As maiores economias regionais — Bahia, Pernambuco e Ceará — puxam, e as demais vêm junto.

Se o Brasil quer liderar a transição energética no mundo, o Nordeste é a sua linha de frente. Se o País precisa ganhar produtividade, aqui está uma parte decisiva da resposta, na energia competitiva, na logística que integra, na indústria que se moderniza, na tecnologia que agrega valor e na cultura que reflete a diversidade. O Nordeste não é o ponto final. É o ponto de partida.

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