Dia do Nordestino: Transposição do São Francisco consolida segurança hídrica e entra em nova fase
Os Eixos Norte e Leste estão em operação e levam água hoje a 12 milhões de pessoas em quase 390 municípios em quatro estados do Nordeste

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A Transposição do Rio São Francisco está conseguindo garantir segurança hídrica ao Semiárido nordestino. Os Eixos Norte e Leste estão operacionais e, conectados a adutoras e sistemas estaduais, levam água hoje a 12 milhões de pessoas em quase 390 municípios do agreste e do sertão dos Estados de Pernambuco, Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte. A previsão é concluir a maior obra de infraestrutura hídrica do Brasil, com investimento de R$ 14 bilhões do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR) em 2026.
O objetivo do Projeto de Integração do Rio São Francisco (PISF) é levar água para regiões secas e semiáridas do Nordeste brasileiro, ajudando a resolver a crise hídrica na região, fornecendo água para consumo humano, agricultura e outros finalidades. O projeto nasceu em 1985, mas só saiu do papel em 2007.
Além de garantir segurança hídrica, o projeto também colabora para transformar regiões pobres e áridas em áreas produtivas. O Rio São Francisco responde por 70% de toda a oferta de água do Nordeste. A região, onde vivem 27% da população brasileira, conta somente com 3% da disponibilidade de água do País.
Transporte de água
Na transposição, a água é captada no São Francisco, sobe por estações de bombeamento e depois segue por gravidade pelos canais. A espinha do projeto soma 477 quilômetros, divididos entre o Eixo Norte (260 km) — que sai de Cabrobó (PE), passa pelo Ceará e chega à Paraíba — e o Eixo Leste (217 km) — de Itaparica (PE) até o Rio Paraíba, em Monteiro (PB).
Dados atualizados pelo MIDR a pedido do Jornal do Commercio detalham que o Norte atende potencialmente 8,1 milhões de pessoas (237 municípios) e o Leste a 3,9 milhões (161 municípios).
O investimento já realizado nos dois eixos soma R$ 7,7 bilhões (Norte) e R$ 4,5 bilhões (Leste). Entre as ligações complementares, o Ramal do Agreste (R$ 1,8 bilhão) foi concluído; o Ramal do Apodi (R$ 1,3 bilhão) está com 84,59% de avanço e previsão de início de operação no 2º semestre de 2026.
Já o Ramal do Salgado (R$ 357 milhões) alcançou 24,46% e tem término previsto para abril de 2027. O Ramal do Piancó está em fase preparatória, com licitação estimada para o 1º semestre de 2026 (obra orçada em R$ 500 milhões), e o Ramal do Entremontes passa por reavaliação econômica.
Com Apodi e Salgado avançando, o governo duplicará a capacidade de bombeamento do Eixo Norte, de 24 m³/s para 49 m³/s. A medida aumenta a vazão e dá redundância operacional ao sistema — item crucial para garantir regularidade no abastecimento humano e na dessedentação animal, e para sustentar atividades produtivas como irrigação, piscicultura e agroindústria.
Impactos no Semiárido
Para o Ministério, o impacto já é perceptível. "Campina Grande (PB), que em 2017 convivia com risco de colapso hídrico, estabilizou o fornecimento com a chegada das águas do PISF. No Ceará, a integração com o Castanhão — reservatório que atende cerca de 5 milhões de pessoas na Região Metropolitana de Fortaleza — ganhou previsibilidade, e a tendência é acelerar com a conclusão do Ramal do Salgado, encurtando o caminho da água até o sistema metropolitano", afirma.
Além dos eixos e ramais principais, o MIDR prepara expansões regionais. O Canal do Sertão Baiano (Eixo Sul) entrou em mobilização na primeira etapa, com R$ 117 milhões para atender 44 municípios (benefício potencial de 1,2 milhão de pessoas). No Piauí, o Canal de Integração do Semiárido (Eixo Oeste) está em estudos de viabilidade, mirando um público de 1,3 milhão de habitantes.
Na avaliação oficial, "o PISF já mudou o patamar de segurança hídrica do Semiárido. Os Eixos Norte e Leste são mais do que obras de engenharia: representam dignidade e qualidade de vida para milhões de nordestinos. A próxima etapa é garantir que os novos ramais entrem em operação no prazo — e que a duplicação do Eixo Norte dê a folga necessária para o sistema funcionar com estabilidade mesmo em anos secos", considera.
A transposição não resolve todos os dilemas da água no Nordeste — os estados continuam responsáveis por operar adutoras, ampliar redes e combater perdas —, mas criou uma base estável. Em um território historicamente vulnerável à estiagem, planejamento com disponibilidade garantida é o que transforma emergência em política pública permanente.