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Dia do Nordestino: Trens da Transnordestina começam a rodar em outubro, no Ceará; enquanto Pernambuco aguarda retomada das obras

O traçado principal (1.206 km) parte de Eliseu Martins (PI) rumo ao Porto do Pecém (CE), cruzando 53 municípios e criando um corredor de transporte

Por Adriana Guarda Publicado em 08/10/2025 às 8:00

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A infraestrutura é a engrenagem-mestra do desenvolvimento. Sustenta a produção, conecta o interior a cidades e portos e reduz o custo que afasta o Nordeste da competitividade. Uma das principais obras de infraestrutura executadas no Brasil, a Transnordestina inicia fase de testes agora em outubro, quase 20 anos após o início das obras, em 2006. Essa etapa começa no percurso Ceará-Piauí, enquanto Pernambuco aguarda, também para este mês, o lançamento do edital para o trecho Salgueiro–Suape.

Os trens vão começar a rodar no traçado principal da ferrovia, que parte da cidade de Eliseu Martins, no Piauí, e segue até o Complexo do Pecém, no Ceará. São 1.206 km de linha férrea cruzando 53 municípios. As obras devem ser concluídas em 2027, segundo a Transnordestina Logística S.A., subsidiária da CSN que vai explorar a ferrovia por 30 anos.

A Transnordestina vai criar um corredor para movimentar cargas como grãos, fertilizantes, cimento, combustíveis e minério, reduzindo a dependência rodoviária. Além disso, vai garantir escala, previsibilidade e contribuir para a redução da emissão de gases do efeito estufa. Uma das áreas de interesse comercial da ferrovia é a região conhecida como Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), considerada a nova fronteira do agronegócio no País.

“A Transnordestina é um projeto essencial para o Nordeste, porque traz desenvolvimento, novos negócios e maior facilidade de transporte. A ferrovia precisa ser um projeto de Estado, de nação. No mundo todo, ela é essencial e, no Brasil, não pode ser diferente. Nenhum país desenvolvido prescinde desse modal. No passado, o País tomou uma decisão equivocada ao desmontar os trilhos. Hoje é clara a necessidade estratégica deles”, defende o superintendente da Sudene, Francisco Alexandre.

Ele destaca que os países que mais crescem, especialmente na Ásia, estão construindo novas linhas férreas. “Isso reduz custos logísticos, aumenta a competitividade e retira milhares de caminhões das rodovias”, reforça.

Recuperar o atraso

O projeto inicial da ferrovia previa a ligação entre Piauí, Ceará e Pernambuco por meio de 1.728 km de trilhos. Em dezembro de 2022, nos últimos dias do governo Jair Bolsonaro, a CSN assinou um aditivo de contrato com o governo federal retirando o trecho Salgueiro–Suape do traçado.

“Há um compromisso do presidente Lula e do governo federal de que a Transnordestina seguirá até o Porto de Suape. Em articulação com lideranças políticas e institucionais do Estado, o governo atual recolocou o trecho pernambucano como projeto estratégico”, destaca Alexandre.

Assegurar a retomada é essencial, mas não diminui a desvantagem de Pernambuco. Em dezembro, completam-se três anos desde que o trecho local foi retirado da concessão. Sem falar que as obras estão paradas desde 2016, prestes a completar dez anos.

O diretor operacional da Anelog (Associação Nordestina de Logística), Marcílio Cunha, alerta que, historicamente, as ferrovias são construídas do porto para o interior, e não o contrário, como está sendo feito em Salgueiro–Suape. Isso porque já seria possível transportar carga do porto até pontos concluídos da ferrovia.

Suape e a ferrovia

“A Transnordestina vai possibilitar o escoamento dos produtos do Polo Petroquímico de Suape até a cidade de Salgueiro, onde pode ser criado um terminal terrestre de distribuição de derivados de petróleo. O projeto visa atender aos combustíveis partindo do porto de trem em direção ao município. Os caminhões-tanque que hoje realizam toda a distribuição de combustíveis no Nordeste continuarão atuando a partir de Salgueiro, num raio de 250 km, fornecendo 150 mil m³ de combustíveis mensalmente”, analisa Cunha.

O presidente do Complexo de Suape, Armando Monteiro Bisneto, destaca o momento de expansão que o terminal pernambucano vive, tanto na área portuária quanto na industrial, e reforça a importância da ferrovia para consolidar Suape como um hub portuário.

“Houve um período em que a classe política pernambucana se afastou da pauta ferroviária, mas a governadora Raquel Lyra retomou esse protagonismo. O trecho pernambucano da Transnordestina está sendo reativado, o que é fundamental para o escoamento de grãos e minérios”, reforça.

Infraestrutura e incentivos fiscais

O economista e sócio da Ceplan Consultoria, Jorge Jatobá, alerta para a necessidade de avanço dos projetos de infraestrutura no Nordeste diante do cenário futuro.

“A infraestrutura é cada vez mais fundamental para garantir o crescimento sustentável da região, sobretudo após a retirada dos incentivos fiscais em decorrência da Lei Complementar 160 e da reforma tributária. A melhoria da infraestrutura será essencial para atrair novas empresas, em conjunto com a qualificação da força de trabalho e o fortalecimento da capacidade de inovar em processos e produtos”, destaca.

“A infraestrutura sempre foi um fator decisivo para o desenvolvimento de qualquer país ou região, mas as circunstâncias atuais, com o advento da reforma tributária, tornam a qualidade dessa infraestrutura determinante para o crescimento do Nordeste”, ressalta.

 

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