'Passo importante é fazer com que população sinta sensação de segurança', diz novo chefe da Polícia Civil de Pernambuco
Em entrevista ao JC, Felipe Monteiro fala de desafios contra crimes, desmente interferência na troca de titulares de delegacias e comenta Lei Orgânica
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Pouco mais de uma semana após assumir oficialmente a chefia da Polícia Civil de Pernambuco, Felipe Monteiro afirmou que um dos desafios da gestão é fazer com que a população perceba a queda dos índices de violência.
Em entrevista à coluna Segurança, nesta terça-feira (18), o delegado-geral abordou temas como as metas de combate aos crimes, o uso de inteligência artificial para melhorar a produtividade policial, a importância da aprovação da Lei Orgânica da Polícia Civil - cuja proposta está nas mãos da governadora Raquel Lyra - e os cuidados com a saúde física e mental dos profissionais da segurança.
Terceiro chefe da Polícia Civil na atual gestão, Felipe assumiu a vaga de Renato Rocha, que decidiu se aposentar após 22 meses à frente da Corporação. A saída, às vésperas da formatura de policiais civis, chamou a atenção e gerou comentários de bastidores sobre possível insatisfação de Rocha com supostos pedidos de mudanças na condução do Departamento de Repressão ao Crime Organizado (Draco).
Oficialmente, Felipe confirma a troca de titular da especializada, mas nega qualquer interferência política na instituição. Também afirma que a delegada Beatriz Leite permanecerá como sua adjunta na chefia da Polícia Civil. Confira a entrevista a seguir:
JC - O senhor afirmou que sua gestão será de continuidade ao trabalho que já vinha sendo realizado pela Polícia Civil. Quais ações pretende implementar?
FELIPE - Não tem como fugir muito da Política de Segurança Pública e do programa Juntos pela Segurança. São diretrizes apontadas pelo Executivo e pela própria polícia, com planejamento prévio e que a gente entende que é fundamental para atuação das polícias e dos órgãos operativos. Lógico que tem outros eixos que são importantes e a gente também tem que dar a cara da gente com o passar do tempo. Mas o principal é continuar nessa redução que vem sendo de forma significativa.
Estamos brigando para fazer o melhor ano da série histórica de mortes violentas intencionais e crimes patrimoniais. Ainda nesses eixos principais tem o enfrentamento contra a violência doméstica. Acho que um passo importante é tentar fazer com que a população sinta que esses índices estão baixando também, que é a famosa sensação de segurança. A gente tem números muito bons no que diz respeito à redução e, muitas vezes, esse impacto não é sentido na mesma proporção pela população.
JC - Sobre a sensação de segurança, a gente observa que aumentou entre a população com a chegada dos novos policiais militares nas ruas. Mas, em relação à Polícia Civil, isso depende do funcionamento das delegacias. A maioria está fechada à noite e nos fins de semana. Há um planejamento para que as delegacias de bairro voltem a funcionar 24h?
FELIPE - A gente pegou um efetivo novo de 400 policiais civis, que se incorporaram aos que já estavam aqui. Com o número que entrou, a gente ainda não consegue fazer uma mudança muito grande porque a gente tem um déficit histórico. Isso faz com que haja a necessidade de recompletamento permanente. Estamos com a segunda turma [em curso de formação] e a governadora [Raquel Lyra] já sinalizou que outro concurso público deve ser lançado muito em breve para que a gente possa reforçar definitivamente.
Eu acho que muitas investigações têm sido feitas, investigações grandes, batendo de frente com o crime organizado. E eu acho que esse trabalho, quando a sociedade também se depara com esse tipo de situação, a gente consegue passar essa sensação de segurança.
JC - O uso da inteligência artificial será ampliado pela Polícia Civil?
FELIPE - A forma de comunicação tem mudado, a forma como a sociedade interage com os órgãos também. E a gente tem que utilizar essa modernidade a favor da polícia, não tornar um dificultador. O objetivo é tanto utilizar essas ferramentas mais tecnológicas no trabalho fim da polícia propriamente dita, facilitando a investigação, manipulando o número grande de dados, mas também utilizar isso numa forma de comunicação com a sociedade, uma aproximação.
JC - O Tribunal de Justiça de Pernambuco tem utilizado a inteligência artificial para diminuir o excesso de processos acumulados. O senhor pensa em implementar algo semelhante para aumentar a taxa de resolução de inquéritos?
FELIPE - Se a gente conseguir utilizar essas ferramentas para otimizar o serviço é muito importante. Deixando claro que nunca a ferramenta vai substituir o trabalho e a expertise do policial, que tem que estar sempre por trás manipulando essas ferramentas. Quem decide é sempre uma pessoa, é sempre um policial, que tem que usar essa tecnologia como facilitador do trabalho. Existem alguns projetos em andamento.
JC - O Estado atingiu uma redução acumulada de mais de 11% nas mortes violentas intencionais em 2025. Mas, em outubro, o Recife teve aumento de 50%. Por que esse crescimento?
FELIPE - De fato, a gente viu que o Recife teve um aumento, mas é uma coisa pontual. Têm algumas áreas que realmente apresentaram um aumento. A gente faz, hoje, um trabalho quase que diário com o gestor da área, com o delegado, com monitoramento da área para poder fazer essa atuação mais de perto. A gente também faz mudanças nos planos operacionais de cada operativa para tentar inibir de certa forma o que está fora do eixo e dar essa resposta.
JC - A Associação de Delegados de Polícia de Pernambuco (Adeppe) entregou recentemente uma proposta de Lei Orgânica da Polícia Civil para análise da governadora Raquel Lyra. O senhor considera que é necessário essa mudança e que isso vai dar mais autonomia para a Polícia Civil?
FELIPE - É muito importante a gente ter esse disciplinamento das prerrogativas, das atribuições da Polícia Judiciária. Não tenho a menor dúvida de que a Lei Orgânica é um passo importante para o fortalecimento da Polícia judiciária. Agora passa por um processo de maturação, de debate. Muitas vezes as questões que são trazidas pelas entidades de classe não correspondem a uma visão estratégica de quem está em determinados setores. Acho que o diálogo tem que ser feito no sentido de a gente chegar num ponto que seja bom efetivamente para todo mundo e não só uma coisa meramente formal.
JC - Pouco antes de o senhor assumir a chefia da Polícia Civil, já existiam conversas sobre mudanças em alguns departamentos da Polícia Civil, com trocas de delegados. E que o governo do Estado teria pedido a mudança na titularidade do Departamento de Repressão ao Crime Organizado (Draco). Como isso vem sendo trabalhado?
FELIPE - Mudanças em delegacias fazem parte do dia a dia da atividade da Polícia Civil. Às vezes uma mudança de rumo, um fortalecimento propriamente dito. Não há nenhum tipo de interferência, seja do governo do Estado ou de outra entidade. As mudanças são no sentido de fortalecer as instituições. De fato, com a chegada dos novos delegados a gente conseguiu reforçar alguns departamentos importantes, como o de homicídios. A polícia não atua para determinado grupo político ou afeto a pressões políticas.
Quanto ao Draco, a gente está desenhando uma mudança na titularidade, querendo levar um delegado que já tem experiência nesse tipo de investigação, que é reconhecidamente pelos pares dos delegados que melhor investiga esse tipo de crime.
JC - A respeito da saúde mental, o que está sendo feito pelos policiais civis do Estado?
FELIPE - Estamos pensando nessa questão não só de estrutura, de aquisição de armamentos, mas também no bem-estar do policial. Amanhã [quarta-feira] estamos inaugurando uma policlínica, onde os policiais vão ter acompanhamento psicológico, clínico.
A gente está fazendo pela primeira vez na Polícia Civil um estudo epidemiológico para entender como está a saúde do nosso policial, saber como ele está tanto em questões físicas como psicológicas. É um problema que precisa ser enfrentado, por isso a policlínica é um passo importante para isso.