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Negros representam 92% das mortes em ações policiais em Pernambuco em 2024

Relatório da Rede de Observatórios da Segurança indicou que quase metade das vítimas no Estado era jovem. Recife liderou em número de óbitos

Por Raphael Guerra Publicado em 06/11/2025 às 5:00

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A letalidade policial em Pernambuco tem cor e faixa etária. Os mortos, em sua maioria, são negros e jovens. É o que revela a sexta edição do relatório "Pele Alvo: crônicas de dor e luta", divulgado nesta quinta-feira (6) pela Rede de Observatórios da Segurança. 

Ao todo, 68 mortes decorrentes de ações policiais foram registradas no Estado em 2024. Desse total, 63 vítimas eram negras (pretos e pardos, conforme classificação do IBGE) e cinco eram brancas. Além disso, 48,5%, ou seja, quase metade tinha entre 18 e 29 anos. Outras dez tinham entre 13 e 17 anos. 

Na avaliação da cientista social Edna Jatobá, coordenadora do Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares (Gajop), entidade parceira da Rede de Observatórios da Segurança, o resultado do relatório indica que a polícia em Pernambuco tem um padrão que considera como suspeito e que é alvo de ações/abordagens no dia a dia. 

"Aqui [no Estado], o que mais mata não são as grandes operações, mas as abordagens cotidianas, feitas sem critério, sem controle e sem respeito à vida. Quando 92% das vítimas são pessoas negras e mais de 60% têm até 29 anos, não se trata de acaso, mas de um padrão que revela quem o Estado enxerga como suspeito. É uma rotina de violência que naturaliza a morte da juventude negra. Segurança pública não é isso. Segurança é o direito de voltar para casa vivo, e é isso que tem sido negado", disse. 

O levantamento indicou que o Recife liderou em número de óbitos em intervenções policiais. Foram nove casos no ano passado. Jaboatão dos Guararapes e Olinda aparecem em seguida, com seis registros cada um. Do total de mortes, havia apenas uma pessoa do sexo feminino. 

Não foi informada a ocupação profissional de 55 vítimas. Na lista, quatro foram identificados como agricultores e quatro como estudantes. Havia ainda um ambulante, um autônomo, um auxiliar de serviços gerais, um zelador e um servente de obras. 

Das 68 pessoas mortas, 60 foram atingidas em ações da Polícia Militar. Outros sete em operações da Polícia Civil. Um veio a óbito em ação conjunta das forças de segurança do Estado. 

O QUE DIZ A SDS?

Em nota, a Secretaria de Defesa Social (SDS) destacou que, de acordo com os dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2025, Pernambuco é o segundo estado com o menor índice de morte por intervenção policial. 

"A proporção registrada em Pernambuco é de 2%, muito abaixo da média nacional que é de 14,1%. Além disso, a redução deste tipo de ocorrência de 2023 para 2024 foi de 39,2%, o segundo estado do Brasil que mais reduziu esse tipo de ocorrência de um ano para outro", disse.

A pasta estadual afirmou ainda que as forças de segurança trabalham "na busca da qualificação técnica e excelência dos procedimentos, operações com uso de inteligência policial para redução das chances de confronto armado e a adoção de práticas voltadas aos direitos humanos e à proteção de todas as vidas, desde a formação do servidor até os cursos de capacitação continuada ao longo da carreira". 

Por fim, ressaltou que cada ocorrência é investigada com rigor, seja no âmbito criminal ou administrativo, de modo que haja a devida responsabilização em caso de cometimento de crimes ou infração disciplinar.

ESTATÍSTICAS NACIONAIS

Nove estados (AM, BA, CE, MA, PA, PE, PI, RJ e SP) foram avaliados pela Rede de Observatórios da Segurança. O relatório constatou que negros tem 4,2 vezes mais chances de serem mortos pela polícia do que brancos.

No conjunto dos estados monitorados, foram registradas 4.068 mortes decorrentes de intervenção policial. A população negra representou 86,2% do total. Os jovens entre 18 e 29 anos constituíram 57,1% dos casos, totalizando 2.324 vítimas.

"As desigualdades raciais atravessam a realidade brasileira e repousam em um lugar profundo, reverberando para todas as áreas da vida social. No campo da segurança pública, o racismo e a política de segurança se consolidaram como um par de atração magnética. O Estado mata com base em critérios raciais. Não se trata de desvio, mas de um padrão", analisou Jonas Pacheco, coordenador de pesquisa.

No relatório, a Rede aponta uma série de recomendações aos estados, como o uso obrigatório de câmeras de segurança nas abordagens e a criação de planos estaduais e municipais com metas para a redução da letalidade. 

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