Segurança | Notícia

Crime organizado no Rio está espalhado pelo País. E falta integração para combatê-lo

Enquanto territórios brasileiros são dominados, ações concretas não são executadas para atingir poder econômico e enfraquecer grupos criminosos

Por Raphael Guerra Publicado em 28/10/2025 às 19:09 | Atualizado em 28/10/2025 às 19:32

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A megaoperação contra o crime organizado no Rio de Janeiro, nesta terça-feira (28), já é considerada a mais letal da história. Mas, pesar das dezenas de mortos, isso não significa que o Estado está vencendo a guerra contra o Comando Vermelho (CV). A facção com origem carioca já se espalhou por quase todo o País, inclusive em Pernambuco, onde mantém fortes relações com grupos criminosos especializados no tráfico de drogas. 

Ao longo do dia, as cenas do avanço da polícia contra os traficantes levaram medo à população no Rio. Comércios, escolas e empresas fecharam as portas mais cedo. O transporte público foi afetado e, nas ruas, um verdadeiro caos. O CV contra-atacou, lançando bombas com drones e matando policiais.

Para especialistas na área de segurança, a operação não representa avanços contra o crime organizado, mas uma ação mais midiática, como tantas outras ocorridas no Rio. 

Diretora do Instituto Fogo Cruzado, a jornalista Cecília Olliveira criticou a megaoperação. "Ainda enfrentamos o crime organizado com o mesmo espetáculo bélico e improviso - não com política pública, estratégia ou inteligência. Resultado? Droga mais barata, mais acessível, mais pura - facções mais fortes", disse, nas redes sociais.

Na avalição de Cecília, que há anos estuda a violência sobretudo do Rio de Janeiro, o governo estadual não tem plano consistente de segurança. "Reage a crises com operações midiáticas e não tem ações que gerem resultado. Tanto que grupos armados já dominam 20% da área urbana habitada do Grande Rio", afirmou.

Enquanto ações pontuais prendem e matam traficantes, o crime organizado não deixa de avançar em territórios brasileiros. Recente pesquisa do Datafolha, encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, apontou que pelo menos 28,5 milhões de pessoas no País são afetadas no cotidiano pelo crime organizado. E cadê a integração das forças de segurança para mudar essa realidade?

Em duas visitas ao Recife, desde que assumiu a secretaria nacional de Segurança Pública, Mário Sarrubbo afirmou ao JC que havia um projeto-piloto de retomada de territórios dominados por facções. Chegou a dizer, inclusive, que isso seria colocado em prática ainda em 2024, começando pelo Nordeste, o que evidentemente não ocorreu. 

Do lado de cá, as facções se multiplicam e se profissionalizam, com apoio muitas vezes irrestrito do CV e do Primeiro Comando da Capital (PCC) - as duas maiores do País. A Bahia é um exemplo do descontrole. Apesar de ser o Estado com maior taxa de letalidade policial, não consegue impor um freio às organizações criminosas. 

Em Pernambuco, a polícia declara que os grupos criminosos são monitorados e que eles não dominam territórios, mas o medo tem assombrado moradores de bairros do Grande Recife. Nos últimos meses, paredes de residências ganharam pichações com as iniciais do Comando Vermelho. Ao mesmo tempo, há organizações ligadas ao CV e PCC em guerra em municípios do Litoral Norte e Sul do Estado. 

Estatísticas oficiais indicam que mais de 65% das vítimas de homicídios, entre janeiro e setembro deste ano, têm ligação com atividades criminais. E essa intensa disputa pelo tráfico de drogas também atinge inocentes. Um levantamento do Instituto Fogo Cruzado identificou 56 pessoas que foram vítimas de bala perdida no Grande Recife ao longo deste ano. Desse total, sete morreram.

Especialistas são unânimes em afirmar que a integração entre as forças de segurança é essencial para a implementação de um plano eficaz de combate ao crime organizado no País, capaz de enfraquecer seu poder econômico e sua força sobre os territórios.

Vídeo: Megaoperação contra o Comando Vermeho no Rio de Janeiro deixa ao menos 64 mortos

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