Caso Esther: Revolta não é só pela morte de uma criança, mas contra uma Justiça muitas vezes lenta e até falha
População não aguenta mais conviver com tanta violência e, ao mesmo tempo, observar que a impunidade prevalece no País. Leis precisam ser mais rígidas
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A morte da menina Esther Isabelly, de 4 anos, cujo corpo foi encontrado em uma cacimba em São Lourenço da Mata, no Grande Recife, fez centenas de moradores do município irem às ruas para protestar e cobrar das autoridades punição a quem cometeu esse crime bárbaro. Mais que isso: indignada, a população tentou fazer "justiça com as próprias mãos", cansada de conviver com tanta violência e de observar que a impunidade prevalece no País.
A revolta popular viralizou em vídeos nas redes sociais graças ao trabalho incansável da imprensa ao longo da terça-feira (21). As imagens dos moradores de São Lourenço da Mata à procura da criança e em busca dos suspeitos do assassinato são o retrato do descrédito da sociedade, que não aceita mais uma Justiça lenta e até falha. Por vezes cega, como reconhecem os próprios membros do Judiciário.
Dados recentes do Instituto Sou da Paz mostram que apenas 36% das investigações de homicídios no País são concluídas com identificação de autoria. E isso não significa que esses acusados foram punidos, porque as ações penais seguem para trâmite na Justiça, podendo levar anos para ser julgadas, diante de excesso de casos e tantos prazos e recursos permitidos.
É possível citar como exemplo o caso da menina Beatriz Angélica Mota, de 7 anos, assassinada a facadas no colégio onde estudava, em Petrolina, no Sertão de Pernambuco. Prestes a completar dez anos do crime, em 10 de dezembro, o réu ainda não tem data para ser julgado.
Depois de a polícia passar mais de seis anos para conseguir identificar o suspeito e ter a confissão dele, o processo até andou na Vara Criminal de Petrolina. Mas a defesa - por direito previsto em lei - segue apresentando uma série de recursos em instâncias superiores para impedir o júri popular. Enquanto isso, os pais da menina seguem, dia a dia, não só com a imensurável dor da perda da filha, mas com a impunidade sem prazo para chegar ao fim.
Somente em Pernambuco, dez crianças - contando com Ester - foram assassinadas em 2025. Nenhum dos acusados foi julgado até agora. Alguns sequer estão presos.
O Congresso Nacional, que gasta tanto tempo discutindo anistia para golpistas, precisa dar mais importância à criação e aprovação de projetos de leis mais rígidas para punir quem comete crimes contra a vida, sobretudo contra crianças e adolescentes. E, junto ao Poder Judiciário, restringir a possibilidade de tantos recursos, que só beneficiam os criminosos e são uma ode à impunidade.