Homem ataca ônibus no Recife e deixa carta denunciando chaveiros no Presídio de Igarassu
Mensagem para a governadora Raquel Lyra afirma que lideranças na unidade estão cobrando taxas e vendendo drogas: 'Corrupção começou tudo de novo'

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Um ataque a ônibus, registrado na tarde da terça-feira (7), trouxe à tona novas denúncias de corrupção envolvendo o Presídio de Igarassu, o mais superlotado e precário de Pernambuco e que foi alvo de duas operações da Polícia Federal no primeiro semestre deste ano.
De acordo com testemunhas, o ônibus havia acabado de parar no terminal de Cajueiro, Zona Norte do Recife, quando um homem desceu de uma moto e subiu. Ele jogou combustível em bancos e no piso e ateou fogo. Houve correria entre os passageiros, que ainda desciam do coletivo.
Antes de fugir, o homem deixou uma carta de duas páginas, direcionada à governadora Raquel Lyra. No texto, declarou que os chaveiros (presos que lideram alas/pavilhões) continuam dando ordens, cobrando taxas e vendendo drogas no Presídio de Igarassu.
"Estamos sendo tudo esquecido novamente e a corrupção começou tudo de novo. (...) O chaveiro está obrigando a pagar uma taxa de 10 reais por preso para faxina, coisa que o governo já manda todos os produtos. Não podemos nem ter sal para botar nas comidas", relatou a carta.
No texto, o homem disse que chaveiros estão vendendo maconha no presídio e que cobram R$ 50.
"As visitas dos 'gatos' e chaveiros estão entrando com drogas sem passar pela revista, trazendo para eles venderem no pavilhão J e B", contou.
O homem ainda afirmou que um chefe de segurança da unidade coloca de "castigo" os presos que não fazem os pagamentos aos chaveiros.
"Pedimos ajuda, um pedido de socorro. Tire esses chaveiros o mais rápido possível. Nos ajude, se não fizer nada vamos virar a cadeia", pontuou outro trecho.
Após o ataque a ônibus, um boletim de ocorrência foi registrado na Central de Plantões da Capital. Um inquérito foi instaurado para investigar o caso.
A coluna Segurança solicitou um posicionamento da Secretaria de Administração Penitenciária e Ressocialização (Seap) sobre a continuidade dos chaveiros no Presídio de Igarassu. Quando houver resposta, o texto será atualizado.
SERVIDORES DO PRESÍDIO DE IGARASSU NO BANCO DOS RÉUS
O Presídio de Igarassu entrou na mira da Polícia Federal em duas operações realizadas em fevereiro e abril deste ano para combater o forte esquema de corrupção.
Na primeira fase, o ex-diretor Charles Belarmino de Queiroz e sete policiais penais foram presos preventivamente. Outros dois servidores, incluindo uma dentista, também foram alvos.
Na segunda fase, o ex-secretário-executivo de Administração Penitenciária e Ressocialização André de Araújo Albuquerque foi preso após a Polícia Federal encontrar imagens que mostram ele recebendo dinheiro e guardando em uma sacola na sala da diretoria do presídio. Para os investigadores, a quantia se tratava de propina.
A investigação apontou que os ex-gestores e policiais penais recebiam dinheiro e até comida para liberar a entrada de drogas, celulares, bebidas alcoólicas e garotas de programa na unidade prisional. Festas também eram autorizadas, segundo diálogos de WhatsApp.
O inquérito destacou que o esquema de corrupção ocorreu pelo menos entre os anos de 2018 e 2024, quando Charles estava à frente da direção do presídio. Ele e André foram exonerados dos cargos no final do ano passado, em meio ao avanço das investigações.
Todos os investigados foram denunciados pelo Ministério Público de Pernambuco (MPPE) e viraram réus na Justiça.