Diretor da Penitenciária de Petrolina era principal beneficiado com propina, indica investigação
Polícia Civil identificou um padrão de vida incompatível com o salário de Alessandro Barbosa, gestor da unidade prisional desde 2015

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A investigação da Polícia Civil sobre o esquema de corrupção na Penitenciária Dr. Edvaldo Gomes, localizada em Petrolina, no Sertão de Pernambuco, aponta o diretor como o principal beneficiado das propinas pagas por detentos.
Alessandro Barbosa Martins de Sousa estava à frente da unidade havia mais de uma década. Ele foi afastado das funções públicas por determinação da Justiça na última terça-feira (20). Também está usando tornozeleira eletrônica.
O inquérito conduzido pela Delegacia de Crimes Contra a Ordem Tributária, com apoio do Grupo de Operações Especiais (GOE), identificou que o diretor da penitenciária tinha um padrão de vida incompatível com o salário bruto de R$ 17,3 mil que recebe mensalmente do governo estadual.
Ao longo da investigação, iniciada em maio de 2024, a polícia conseguiu provas que apontaram para o esquema de corrupção, mas detalhes ainda não estão sendo revelados.
Além do diretor, os policiais penais Ronildo Barbosa dos Santos, Ricardo Borges da Silva, Vinícius Diego Souza Colares, Rivelino Rufino de Carvalho e Cledson Gonçalves de Oliveira foram afastados. Todos respondem a processo administrativo disciplinar na Corregedoria da Secretaria de Defesa Social (SDS).
Ao menos seis detentos também foram alvos de Operação Publicanos na semana passada, mas os nomes não foram divulgados oficialmente. Celulares e outros materiais irregulares foram apreendidos na penitenciária, e passam por perícia.
DIRETOR RECEBEU HOMENAGEM DA CÂMARA DE VEREADORES
Em março de 2023, Alessandro Barbosa recebeu uma homenagem da Câmara de Vereadores de Petrolina.
O título de Cidadão Petrolinense e a Medalha de Honra ao Mérito Legislativo Dom Malan foram entregues ao gestor na penitenciária, com a presença dos vereadores Gaturiano Cigano e Wanderson Batista (autor da proposta, atualmente sem mandato) e do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil/Seccional Petrolina, Marcílio Rubens.
Segundo os argumentos da Câmara, na época, a honraria foi concedida a Alessandro por conta dos "serviços prestados à sociedade". A Casa apontou que ele "realizou projetos significativos, aprimorando infraestrutura, segurança e social" na unidade prisional.
"Isso é fruto do meu trabalho, que sempre foi e continua sendo a forma de retribuição com Petrolina", declarou Alessandro, na ocasião.
Segundo a investigação da Polícia Civil, o esquema de corrupção já existia na penitenciária quando houve a solenidade.
PROVAS SÃO FORTES, SEGUNDO INVESTIGADORES
Para os investigadores, as provas são robustas quanto à participação dos servidores públicos nos crimes de lavagem de dinheiro e introdução de aparelho telefônico de comunicação móvel em presídio, ou seja, benefícios eram concedidos aos presos em troca de pagamentos de propina.
O esquema seria semelhante ao descoberto pela Polícia Federal no Presídio de Igarassu, no Grande Recife, no começo do ano.
Em nota, a assessoria da Secretaria de Administração Penitenciária (Seap) declarou apenas que "não compactua com quaisquer atos ilícitos dentro do sistema prisional de Pernambuco".
A coluna não conseguiu contato com as defesas dos investigados.