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Sem avanço nas câmeras corporais, mortes em ações policiais crescem 50% em Pernambuco em 2025

De acordo com a SDS, 39 óbitos foram somados oficialmente. Na semana passada, um jovem foi morto após motorista furar blitz no Recife

Por Raphael Guerra Publicado em 17/07/2025 às 14:55

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Ao mesmo tempo em que o uso das câmeras corporais não avança em Pernambuco, o número de mortes em ações policiais voltou a crescer. De acordo com a Secretaria de Defesa Social (SDS), 39 óbitos foram registrados somente no primeiro semestre de 2025. O número representa um aumento de 50% em comparação com o mesmo período do ano passado, quando houve 26 vítimas. 

O caso mais recente, que ainda vai entrar para as estatísticas, é do supervisor de telecomunicações Lucas Brendo da Silva, de 29 anos, morto com um tiro após perseguição policial. O amigo dele, que dirigia o carro, furou uma blitz em Setúbal, Zona Sul do Recife, na noite de 11 de julho. 

Enquanto o efetivo do 1º Batalhão de Policiamento de Trânsito (BPTran) afirmou que houve uma troca de tiros durante a perseguição, os amigos de Lucas alegaram que não havia armas de fogo no veículo e que só os PMs dispararam. A Polícia Civil investiga o caso.

ORIENTAÇÃO DA POLÍCIA MILITAR

A Polícia Militar de Pernambuco afirmou ao JC que a doutrina que orienta a atuação dos PMs é trabalhada nos cursos de formação e nos de capacitação. E que, em casos de situação de fuga, a orientação é de acompanhamento até a finalização da ocorrência.

A corporação pontuou, no entanto, que, de forma geral, os policiais não devem efetuar disparos de arma de fogo, "a não ser em caso de legítima defesa própria ou de outrem".

Do total de mortes em intervenções policiais no primeiro semestre deste ano, quatro pessoas tinham entre 12 e 17 anos. As outras tinham entre 18 e 64 anos. Além disso, 11 óbitos foram na Região Metropolitana do Recife. 

MPPE MAIS ATENTO ÀS OCORRÊNCIAS

Desde 2023, o Ministério Público de Pernambuco (MPPE) tem cobrado de forma mais dura a apuração de todos os casos envolvendo mortes em intervenções das forças de segurança. E, em alguns dos episódios, os inquéritos têm apontado para ações classificadas como "homicídio", e não de legítima defesa.

Protocolos também foram desenvolvidos junto à Polícia Militar para evitar o uso excessivo de armas de fogo nas ocorrências e em caso de óbito. 

FALTAM CÂMERAS CORPORAIS NO ESTADO

Pernambuco segue atrasado quando o assunto é o uso de câmeras corporais pela Polícia Militar. Somente o 17º Batalhão (sediado em Paulista) conta com equipamentos próprios - apesar de obsoletos e sem imagens com transmissão em tempo real. 

Outros batalhões, como o de Polícia Rodoviária (BPRv), estão em fase de testes, com tecnologias mais avançadas, para definição de qual será usada no Estado.

Ainda assim, com a inércia da gestão atual e sem liberação de recursos, o processo só irá para frente se o Ministério da Justiça e Segurança Pública enviar verba para a compra. Pernambuco foi um dos estados que disputaram equipamentos em edital. 

SDS/ Divulgação
Câmeras corporais são usadas apenas por um batalhão da PM de Pernambuco. Equipamentos são obsoletos - SDS/ Divulgação

O efetivo do BPTran, por exemplo, nunca testou as câmeras corporais. Se estivem em uso, poderiam esclarecer, imediatamente, a ação que resultou na morte de Lucas Brendo. 

INVESTIGAÇÃO DE MORTE EM BLITZ

A investigação está sendo acompanhada pelo MPPE. O motorista do veículo afirmou que não parou na blitz porque estava com a documentação do IPVA atrasada, mas negou que houvesse armas de fogo no carro dele. Disse que havia apenas uma de gel, pertencente ao irmão.

Já a PM declarou que, após render o grupo, foram achadas duas armas de fogo, um simulacro e oito munições no interior do veículo. Tudo foi levado ao Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) pra perícia. 

Não há prazo para conclusão do inquérito. Enquanto isso, os policiais seguem trabalhando nas ruas. 

No âmbito administrativo, a Corregedoria da SDS também apura o caso, que pode resultar em punição aos policiais militares - se comprovado que não houve legítima defesa. 

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