Morte de advogada: coletes salva-vidas ficaram guardados em condomínio na praia de Muro Alto
Defesa reconheceu que item é obrigatório no regulamento náutico, mas afirmou que médico não precisava de habilitação para pilotar o veleiro

A defesa do médico urologista Seráfico Pereira Cabral Junior, de 55 anos, confirmou que não havia coletes salva-vidas no barco que sofreu naufrágio na praia de Suape, no Cabo de Santo Agostinho, no último sábado (21). O corpo da advogada Maria Eduarda Carvalho de Medeiros, 38, namorada dele, foi encontrado três dias depois.
Em entrevista à imprensa, o advogado Ademar Rigueira declarou que os coletes ficaram guardados num condomínio de Muro Alto, em Ipojuca, onde o casal estava antes de seguir para o passeio de veleiro.
"Havia a obrigatoriedade [dos coletes] no regulamento náutico. Não era apropriado não ter os coletes, mas ocorreu essa fatalidade", disse Rigueira.
Questionado sobre a suspeita de que o médico não tinha habilitação para pilotar o veleiro, o advogado afirmou que não há essa exigência para o tipo de embarcação e área onde o casal passeava.
O advogado também detalhou a versão do médico sobre o acidente com o barco. Segundo ele, o naufrágio aconteceu por causa da forte correnteza e possível colisão do veleiro com os arrecifes.
"Eles [casal] lutaram juntos, praticamente duas horas dentro do mar. Conseguiram chegar juntos com o cachorro perto dos diques [estruturas de contenção] de Suape, mas a maré jogou ele nas pedras. Depois, ele não conseguiu mais encontrar a namorada, nem a cadela que estava sendo levada por ele", relatou Ademar.
O advogado contou que, após o socorro, Seráfico foi levado para uma UPA com hematomas nos braços, pernas e cabeça. Depois de receber alta, precisou ir a um hospital particular devido a um quadro de infecção.
"Ele está muito abalado emocionalmente, disse que perdeu a mulher da vida dele. Os dois estavam felizes, comemorando o pedido de casamento feito por ele. Ela chega a fazer um vídeo para a mãe, relatando", disse.
Rigueira reforçou que o médico deve prestar depoimento à polícia na próxima semana, mas que já está disponível para ser ouvido sobre o acidente. E confirmou que o celular dele foi apreendido na operação de busca e apreensão domiciliar ocorrida na última terça-feira (24), dia em que o corpo da advogada foi achado na praia de Calhetas, também no Cabo.
Além da investigação conduzida pela Polícia Civil, um inquérito sobre Acidentes e Fatos da Navegação (IAFN) foi instaurado pela Capitania dos Portos de Pernambuco para apurar as circunstâncias e causas do naufrágio.
CORPO SEM PREVISÃO DE CREMAÇÃO
Na última quarta-feira, a justiça negou o pedido da família para que o corpo da advogada passasse pelo processo de cremação. Houve apenas um velório no Cemitério Morada da Paz, em Paulista.
Na decisão, a juíza Danielle Christine Silva Burichel argumentou que o atestado de óbito apontou como causa da morte a "asfixia mecânica por afogamento", mas o laudo tanatoscópico, produzido por médico legista do Instituto de Medicina Legal (IML) ainda não foi finalizado e entregue à polícia.
"A ausência do laudo pericial tanatoscópico nos autos impede a formação de convicção plena quanto à desnecessidade de preservação do corpo para fins investigativos, especialmente considerando a instauração de inquérito policial para apurar as circunstâncias da morte", disse trecho da decisão.
O resultado do laudo do IML demora, em média, dez dias para ser entregue.