Mortes no trânsito: hospitais metropolitanos registram queda em notificações de sinistros de trânsito, mas motos seguem dominando no estrago
Duas unidades referência em traumato-ortopedia do Grande Recife registraram redução de 19% e superior a 80% das internações de vítimas do trânsito

Em meio a números crescentes da mortalidade do trânsito brasileiro - inclusive com estudos divulgados recentemente pelo Atlas da Violência 2025 e sobre o custo das internações para o Sistema Único de Saúde (SUS) -, uma boa notícia: hospitais metropolitanos do Grande Recife registraram redução superior a 80% das internações de vítimas de sinistros de trânsito nos primeiros meses de 2025.
Pelo menos essa é a informação oficial divulgada pelos hospitais Miguel Arraes (HMA), em Paulista, e Dom Helder Câmara (HDH), no Cabo de Santo Agostinho, unidades referências no atendimento a casos de traumato-ortopedia na Região Metropolitana do Recife e ligadas à Fundação Gestão Hospitalar Martiniano Fernandes (FGH).
A queda, referente ao primeiro trimestre deste ano em comparação ao mesmo período de 2024. está sendo comemorada pelas equipes das duas unidades. A redução mais surpreendente foi do HDH, que de janeiro a março de 2025 registrou uma queda de 81% no atendimento a vítimas de sinistros de trânsito, passando de 189 para 36 registros.
Já o HMA registrou 295 atendimentos correspondentes a vítimas de sinistros de trânsito, o que representa uma queda de 19% em relação ao ano passado, com índice de altas hospitalares superior ao de internações.
OCUPANTES DE MOTOCICLETAS SEGUEM SENDO AS PRINCIPAIS VÍTIMAS
Apesar da redução no primeiro trimestre, os ocupantes de motocicletas - não só condutores, mas também passageiros, atraídos pelo serviço de transporte por aplicativos, como Uber e 99 Moto - seguem sendo as grandes vítimas da imprudência e vulnerabilidade no trânsito.
Ano após ano, são as colisões e quedas com veículos de duas rodas que lotam o atendimento nas emergências do Miguel Arraes e do Dom Helder. Das 295 notificações de sinistros de trânsito atendidos no HMA no primeiro trimestre de 2025, 83,7% das vítimas estavam em motocicletas. Além disso, um percentual de 60% são vítimas com idade produtiva entre 20 e 39 anos. No HDH, das 36 notificações, 26 delas (72%) se referem a sinistros com motocicletas e 17 (47%) caíram do veículo.
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Adauto Telino, coordenador de Ortopedia do HMA, faz o alerta sobre os riscos do transporte com motocicletas e o impacto para a saúde pública. “O principal perfil do paciente de Ortopedia e Traumatologia do HMA é do motorista ou passageiro de motocicleta envolvido numa colisão de trânsito. Isso reflete diretamente na nossa assistência”, alerta.
E segue: “Em todo o ano passado, de janeiro a dezembro, foram quase 1,4 mil notificações de vítimas de sinistros de trânsito recebidas aqui; 90% delas de motocicletas, e mais de 92% resultando em fraturas”, destaca. “No HDH não é diferente. Mesmo com uma redução tão significativa de notificações neste primeiro trimestre, o ano de 2024 ainda levou 573 vítimas de sinistros de trânsito à unidade do Cabo, sendo 82% por motocicleta. Ainda falta muita conscientização dos motoristas sobre esse meio de locomoção”, explica.
O médico alerta, ainda, que os sinistros de trânsito com duas rodas resultam, em sua grande maioria, em longos períodos de internação hospitalar, além de deixar, muitas vezes, sequelas permanentes nos pacientes envolvidos. Os dados foram divulgados em razão do Maio Amarelo, movimento que chama atenção para a violência no trânsito.






INTERNAÇÕES DE VÍTIMAS DO TRÂNSITO CUSTARAM R$ 3,8 BILHÕES AO SUS EM UMA DÉCADA
Os sinistros de trânsito - com destaque para os que envolvem ocupantes de motocicletas - geraram um custo de R$ 3,8 bilhões com as internações hospitalares de vítimas das colisões, quedas e atropelamentos na saúde pública do Brasil em uma década. Dados do Sistema Único de Saúde do Brasil (SUS), analisados por médicos do tráfego e das emergências, apontam que, entre 2015 e 2024, o sistema contabilizou 1,8 milhão de internações por sinistros de trânsito, segundo as bases oficiais do Ministério da Saúde.
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Segundo os médicos, essas ocorrências pressionam cada vez mais os leitos de UTI e prolongam as internações, agregando outros custos com múltiplos procedimentos e reabilitação, com impacto também sobre a previdência e a assistência social.
O alerta é feito pelas Associações Brasileiras de Medicina do Tráfego (Abramet) e Medicina de Emergência (Abramede), com base em um levantamento realizado a partir dos dados do DataSUS. E está sendo divulgado agora devido ao Maio Amarelo 2025, campanha de conscientização pela saúde e segurança no trânsito.
Com os R$ 3,8 bilhões gastos diretamente pelos SUS com internações por sinistros de trânsito, calculam as entidades, seria possível construir de 32 a 64 hospitais de médio porte, implantar até 35 mil quilômetros de ciclovias urbanas, duplicar cerca de 505 quilômetros de rodovias federais, adquirir mais de 15 mil ambulâncias básicas ou habilitar quase 13 mil novos leitos de UTI.
EM TEMPOS DE APLICATIVOS DE MOTOS, OCUPANTES DAS DUAS RODAS SÃO AS VÍTIMAS QUE MAIS CUSTAM CARO
O levantamento da Abramet e Abramede também constatou o que o Brasil vivencia diariamente nas ruas das grandes e médias cidades: são as vítimas das motos que mais custam caro ao SUS.
Ainda mais nos últimos quatro anos, quando, além do delivery, as plataformas criaram o transporte de passageiros com motos via aplicativo, como Uber e 99 Moto. Um serviço que começou no País no fim de 2021 e que, atualmente, está presente em praticamente 4 mil cidades brasileiras.
O levantamento aponta que os ocupantes dos veículos duas rodas são os mais vulneráveis: representam 60% de todos os casos. Em 2024, o número chegou a 150 mil internações, mais do que o total somado de pedestres e ciclistas no mesmo ano.
Os pedestres formam o segundo maior grupo de vítimas atendidas nas emergências por sinistros de trânsito, com 16% dos casos no período. Em seguida, aparecem os ciclistas e ocupantes de automóveis, ambos com 7% do total de sinistros registrados entre 2015 e 2024.