Uber e 99 Moto: prefeito João Campos fala sobre o futuro do transporte de motos via aplicativo no Recife
João Campos diz que Recife só decidirá sobre proibição ou regulamentação dos aplicativos de transporte com motos após articulação nacional

Como já percebido nas ruas, o Recife não irá proibir o transporte de passageiros com motos via aplicativos, como Uber e 99 Moto, por enquanto. A capital está analisando o crescimento do serviço - e seus consequentes impactos para a mobilidade urbana e a saúde pública - e vai buscar uma discussão coletiva e nacional com outras grandes cidades brasileiras para decidir o futuro do transporte com motocicletas.
A perspectiva foi dada pelo próprio prefeito João Campos, nesta quarta-feira (9/4), ao ser questionado sobre os planos da gestão municipal sobre o serviço: se irá proibir ou se enfrentará a complexa regulamentação do Uber e 99 Moto. Segundo João Campos, o tema precisa ter solução nacional, articulada com os prefeitos das maiores cidades brasileiras para ter efetividade. Só assim, e a partir disso, é que a capital pernambucana vai se posicionar oficialmente.
“O Recife não tem uma decisão tomada sobre o transporte de passageiros com motos e não irá por um caminho isolado, sem articulação com as demais grandes cidades do País. E não o fará porque, na prática, é uma questão nacional. Não adianta uma cidade ser uma gota no oceano e decidir isoladamente, sem ter um entendimento maior, coletivo. Se não, vira um embate, termina numa suprema corte, vira uma decisão isolada e não conseguimos, efetivamente, melhorar o que tem que ser melhorado”, afirmou.
O questionamento foi feito ao prefeito porque, em outubro de 2024, após a Prefeitura do Recife perder - segundo o Supremo Tribunal Federal (STF) - o prazo de um recurso, a ação que era movida pela plataforma 99 desde 2020 transitou em julgado, impedindo a gestão municipal de fiscalizar, sob a ótica do transporte de passageiros, os carros de aplicativos. A ação, inclusive, nunca analisou o serviço com motos, que só foi criado pela Uber a partir de dezembro de 2021.
ARTICULAÇÃO COLETIVA VIA FRENTE NACIONAL DOS PREFEITOS
João Campos garantiu que começou a tratar nacionalmente do tema via Frente Nacional dos Prefeitos (FNP), onde está atuando como vice-presidente de Relações Institucionais. Também reconheceu que o crescimento do Uber e 99 Moto é uma demanda antiga e que precisa de solução.
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“No encontro da FNP realizado segunda-feira (7/4) tive a oportunidade de conversar com alguns prefeitos de grandes cidades para que possamos construir um entendimento harmônico entre as cidades sobre o Uber e 99 Moto. Isso, porque o foco de todo mundo é poder cuidar das pessoas, seja de quem usa o transporte por motos, seja de quem trabalha com o transporte ou de quem precisa de condições adequadas de trabalho”, disse.
ESTRATÉGIA COLETIVA PARA EVITAR JUDICIALIZAÇÕES
Na visão do prefeito do Recife, a decisão de proibir ou regulamentar o Uber e 99 Moto precisa estar bem fundamentada legalmente para evitar judicializações desnecessárias, como vem acontecendo desde que as gigantes da mobilidade urbana, Uber e 99, chegaram ao Brasil, ainda em 2015 e apenas com os carros de aplicativos.
“Tendo em vista que essa pauta não é de hoje, já é de muitos anos e com muitos anos de embate judicial e de insegurança jurídica quanto ao papel e os limites que o município pode ter, acho que chegou a hora de, no ambiente da FNP, buscar essa sinergia. É isso que a gente vai tentar. Ações isoladas geram litígios e insegurança para todo mundo”, afirmou.
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João Campos, entretanto, também garantiu que, enquanto busca a discussão nacional via FNP, o crescimento e as possíveis soluções para o Uber e 99 Moto estão sendo analisadas internamente. “A gente está com a Secretaria de Segurança e Ordem Pública cuidando dessa avaliação interna para definir os próximos passos relativos ao Recife.”
Ao se referir às ações judiciais, o prefeito citou o exemplo de São Paulo, onde a prefeitura trava - isoladamente no País - uma batalha judicial contra as plataformas Uber e 99. “Todas as cidades estão observando o que São Paulo tem feito, mas você vê o desafio que a maior cidade brasileira tem enfrentado para conduzir uma pauta desta de forma isolada. Então, por isso defendo que o correto, o que o bom senso preza, é conversar nacionalmente, unindo as grandes cidades”, disse.
SENTIMENTO DE QUE RECIFE NÃO DEVE PROIBIR O SERVIÇO
“Eu conversei com Eduardo Paes, presidente da FNP e prefeito do Rio de Janeiro, para que a gente possa ter maior sinergia nessa situação porque o senso comum de todo mundo está focado nas pessoas, tanto nas que conduzem como nas que são conduzidas”, afirmou. E continuou, dando a entender que busca a regulamentação do Uber e 99 Moto e, não, a proibição:
“O que a gente quer é ter um ambiente com segurança, com bem estar das pessoas, com as regulações que a legislação determina. Isso porque, se criarmos um embate entre o poder público, as empresas de tecnologia (que são duas ou três), e se não tivermos cuidado, vamos terminar penalizando quem está na ponta, seja um trabalhador, seja um pai ou uma mãe de família que utiliza o serviço. Então, vamos estar tratando disso na FNP porque é um tema extremamente importante. E repito: se for tratado de forma isolada em cada cidade, corremos o risco de ter grandes confusões e poucos resultados”, finalizou.