Confusão entre CPF e CNPJ ainda ameaça sobrevivência de pequenos negócios
Especialista alerta que a mistura entre finanças pessoais e empresariais é um dos principais fatores de mortalidade de pequenas empresas no Brasil

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A falta de separação entre o que pertence à pessoa física e o que é da empresa permanece como um dos maiores desafios para a sobrevivência de micro e pequenos negócios no Brasil.
Para a contadora e fundadora da Azenate Soluções Contábeis, Azenate Xavier, essa prática é um dos principais fatores de descontrole financeiro e fechamento precoce de empresas.
“A confusão entre CPF e CNPJ é mais do que uma prática equivocada, é uma cultura enraizada entre muitos empreendedores brasileiros, especialmente os que começam a empreender por necessidade, sem preparo técnico. E ela tem consequências graves”, afirma.
Mortalidade empresarial e má gestão
Levantamento do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) aponta que mais de 50% das micro e pequenas empresas encerram as atividades antes de completarem cinco anos.
Entre as principais causas está a má gestão financeira, que, segundo Azenate, muitas vezes não está ligada à falta de lucro, mas à ausência de organização.
“É comum o empreendedor acreditar que todo dinheiro que entra no caixa é lucro [...] mas esse comportamento impede a construção de capital de giro, a reinversão no próprio negócio e a análise real da rentabilidade”, explica.
Ela acrescenta que a falta de definição de um pró-labore torna as finanças pessoais dependentes da saúde da empresa.
Em períodos de queda no faturamento, isso afeta todo o orçamento familiar e leva a retiradas aleatórias, comprometendo o futuro do negócio.
A ilusão da informalidade
Segundo a especialista, muitos Microempreendedores Individuais (MEIs) e empresários individuais continuam atuando de forma híbrida entre o formal e o informal.
“Mesmo com CNPJ aberto, muitos continuam operando como se fossem uma extensão de si mesmos. Não emitem nota fiscal, não fazem controle de estoque, usam o mesmo cartão de crédito para tudo. Isso os expõe a riscos fiscais e jurídicos”, alerta.
Além dos impactos legais, Azenate ressalta que essa postura prejudica a reputação da empresa.
“Empresas desorganizadas não conseguem crédito, não conseguem investidores, não inspiram confiança. A profissionalização da gestão começa pela separação clara entre o que é da empresa e o que é do dono.”
Ações práticas para separar CPF e CNPJ
Para Azenate, a educação financeira empresarial deve fazer parte da rotina do empreendedor desde o início. Ela sugere medidas simples para começar essa mudança:
- Abrir conta bancária exclusiva da empresa, inclusive para MEIs, com movimentações restritas à atividade empresarial;
- Definir pró-labore mensal, ainda que simbólico, para disciplinar a retirada de valores;
- Utilizar ferramentas de controle financeiro, como planilhas ou aplicativos para registrar entradas, saídas, custos fixos e variáveis;
- Buscar consultoria contábil, mesmo que esporádica, para garantir o cumprimento das obrigações legais e interpretação correta dos números.
“Separar CPF de CNPJ não é uma exigência burocrática, é uma estratégia de sobrevivência. E quanto antes o empreendedor perceber isso, maiores serão as chances de construir um negócio sustentável, resiliente e lucrativo”, reforça.
Cinco erros clássicos de quem mistura CPF e CNPJ
A especialista lista os equívocos mais comuns que comprometem a saúde financeira dos pequenos negócios:
- Usar a conta bancária da empresa como conta pessoal: sacar valores do caixa para pagar despesas particulares distorce os números e inviabiliza a análise do desempenho do negócio.
- Não definir pró-labore fixo: saques aleatórios prejudicam o planejamento e a reinversão no empreendimento.
- Pagar contas da empresa com cartão pessoal (e vice-versa): gera confusão contábil e pode causar problemas fiscais.
- Misturar bens da empresa com bens pessoais: veículos, imóveis e equipamentos comprados pelo negócio precisam estar vinculados ao CNPJ.
- Ignorar o controle financeiro: deixar de formalizar e organizar as finanças sob a justificativa de que a empresa é “pequena demais” atrasa a construção de hábitos essenciais para o crescimento.
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